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Toda vez que uma das ursus saía em uma missão, era de se esperar que as outras quatro fossem se despedir. Mesmo que não fosse no dia de partida, era quase que um hábito delas trocarem uma despedida — ou promessas — para quem tivesse que sair de Rhodes Island para lutar.
Zima já havia socado a cabeça de Leto por tagarelar em seu ouvido sobre o quão injusto era que ainda não pudesse ser parte da missão, já que seu resultado não tinha saído; tinha uma quentinha com sua refeição favorita guardada em sua mochila feita por Gummy, que estaria ocupada na cozinha no momento em que teria de sair, e já tinha ameaçado socar a Rosa caso ela continuasse com a palhaçada de ficar escrevendo um testamento para si.
Faltava apenas alguns minutos antes da General Inverno se apresentar para quem estava liderando o esquadrão e Istina estava checando seus fones.
— Tem certeza de que precisa checar o encanto? — Zima questionou, coçando a cabeça. — Você faz isso toda vez que eu saio, duvido que ele tenha se desgastado.
Istina lhe lançou um olhar não convencido, antes de voltar a concentrar suas artes nos fios que estavam dentro de suas mãos.
A ursus apenas suspirou, já era parte da rotina delas esse tipo de conversa. Depois da, talvez, quinta vez se explicando, a caster simplesmente desistiu de colocar algum tipo de senso na cabeça da outra; Zima sempre achava uma forma de debater e escapar das tentativas de cuidado e preocupação que as outras integrantes do Grupo Independente Estudantil das Ursus tinham sobre seu bem-estar físico.
Então tudo o que tinha restado para Istina era se certificar que o feitiço de proteção que colocava nos fones dela, algo que a vanguard não saia sem estar com eles no ouvido, ainda estava funcionando.
Quando se deu por satisfeita, entregou o objeto nas mãos de Zima, que suspirou aliviada. Enquanto a General Inverno colocava os fones, Istina resolveu checar — talvez pela terceira vez — a mochila dela para ter certeza de que nada estava sendo esquecido.
— Ei — Os olhos azuis cristalinos se focaram no rosto sério da vanguard. — Eu sei o que está tentando fazer.
Istina suspirou de forma cansada antes de ajeitar o monóculo em sua face.
— Me perdoe, eu só… não gosto de me despedir de você.
A confissão da ursus de pelagem azul fez um sorriso pequeno florescer nos lábios de Zima.
— Eu também não, mas é preciso. Alguém tem que ir nessa missão, e prefiro que seja eu antes que uma de vocês.
A caster mordeu os lábios, parecendo ainda não satisfeita com algo. As sobrancelhas castanhas da General Inverno se franziram, fazendo-a começar a se questionar os possíveis motivos da outra estar assim.
No entanto, ela não precisou nem começar a teorizar, pois a voz suave de Istina logo chegou aos seus ouvidos.
— Promete que vai voltar viva? — que vai voltar pra mim, foi o que ficou implícito, no entanto, Zima compreendeu a mensagem.
— Prometo.
A vanguard bateu de leve sua testa na da Istina, de um jeito levemente brincalhão que fez com que a outra abrisse um pequeno sorriso. O carinho que existia entre elas era o óbvio, fosse pelo jeito como se olhavam ou pela forma como estavam sempre próximas. Logo, não foi surpresa nenhuma quando ambas fecharam os olhos e aproximaram seus lábios em um beijo.
A língua de Zima aproveitou o momento para entrar na boca da caster para poder provar o gosto adocicado do chá que havia sido bebido. Os dedos de Istina acariciavam o pescoço da General Inverno, enquanto sentia sua boca ser explorada por ela.
Não demorou muito para ambas se afastarem para respirar. Aproveitando o momento, a ursus de pelagem castanha deixou um simples beijo na testa da mais nova, antes de se virar e sair do quarto.
Ela já estava atrasada e tinha certeza de que Nearl iria lhe dar um sermão quando ouvisse sobre o caso.
Foi só quando estava prestes a chegar no cômodo onde o time da missão estava que Zima sentiu o rosto aquecer ao perceber que tinha acabado de beijar a Istina.
Elas já namoravam fazia algumas semanas e o máximo que tinham trocado de carícias tinha sido alguns selinhos — a maioria mais na bochecha do que nos lábios — e uns afagos no cabelo, então ter tido coragem o suficiente pra ter realmente beijado a caster foi algo bem surpreendente para ela.
Não que Zima tivesse chegado a pensar em fazer aquilo, ela simplesmente… fez. E tinha sido incrível. Esperava que Istina tivesse a mesma opinião que a sua, porque ela já estava querendo repetir o ato.
Ao perceber que tinha parado no meio do caminho, com o rosto avermelhado e uma possível expressão abobalhada enquanto tocava suavemente os próprios lábios, ela soltou um palavrão.
Continuando a andar para o ponto de encontro, Zima respirou fundo para acalmar os ânimos e parar de corar. Precisava pensar em como pediria desculpas pelo atraso para quem estava liderando o esquadrão e gostaria que ninguém achasse que estava mentindo só porque parecia fora do normal.
Tudo o que menos precisava no momento era receber uma interrogação de Nearl junto de um sermão.
Ainda assim, foi difícil lutar contra o sorriso que queria formar em seus lábios. Mal havia deixado Rhodes Island e já queria retornar, não só porque precisava se certificar de que suas crianças estavam bem, como também para poder dar mais uns beijos em sua namorada.
As palavras de Istina tocaram novamente em sua cabeça, a fazendo sentir o peito se aquecer.
Promete que vai voltar viva?
Embora Zima realmente não ligasse muito para si própria, sempre indo longe o suficiente para certificar que as garotas do Grupo Independente Estudantil das Ursus e seus companheiros de esquadrão voltassem para a base com a menor quantidade possível de ferimentos e cicatrizes, ela não era do tipo de quebrar promessas.
Por isso, mesmo que fosse difícil chegar num consenso com seus instintos, Zima faria questão de cumprir com sua palavra.
Afinal, ela tinha um lar para retornar.