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Talvez fosse porque era familiar de uma bruxa humana já fazia uns anos, todavia Kaoruko sentia-se levemente obrigada a agradecer sua namorada após tanto tempo juntas. A Hanayagi não sabia explicar exatamente a sensação. Ela sentia uma necessidade de fazer com que sua preciosa Futaba-han compreendesse o que sentia pela namorada.
Só que era difícil pôr em palavras o que queria expressar e Kaoruko sentia que nem sua mais elaborada maldição faria jus a tal sentimento.
Por isso, a jovem demônia, após pensar antes de um cochilo, resolveu que a melhor solução seria dar a Isurugi um presente.
Enganado está quem acha que a ideia da Hanayagi é escolher qualquer coisa fútil para entregar a sua namorada. Não, ela planeja presentear a outra com algo digno à híbrida feline.
Ainda assim, escolher o que exatamente ela iria dar para Futaba-han estava se tornando uma tarefa árdua e complicada. Kaoruko simplesmente não tinha ideia do que poderia dar a outra, visto que a maioria das suas necessidades já eram supridas pelo simples fato de ambas terem a mesma familiar. Algo que a irritava e confortava num nível semelhante, pois estavam unidas desde que se conheceram.
O que deixava a situação da pobre demônia de não saber o que presentear a outra ainda mais crítica. Como você conhece a pessoa desde que pisou no reino mortal pela primeira vez e não sabe o que dar de presente pra ela?
É um absurdo! E, ainda assim, era uma situação que a Hanayagi estava passando.
Um suspiro frustrado saiu de seus lábios. Ela mantinha sua cabeça na mesa da sua humana, a bochecha colada na madeira enquanto suas pálpebras estavam fechadas. Kaoruko já havia jogado fora várias ideias brilhantes do que poderia servir de presente, achando que nenhuma delas estava a altura de sua doce e abusada gatinha.
Seria tão mais fácil se ela tivesse tido uma conversa do tipo com a Futaba-han antes…
— Ei, senhorita Hanayagi — Ela ouviu sua humana chamando-a, o que a fez franzir o seu nariz, desgostosa. — Qual o problema da vez? A Futaba não te deixa amaldiçoar a Kuro de novo?
A demônia apenas sibilou em resposta.
— Não me lembre disso, pelo amor dos anciões. — O bico emburrado que dominou os lábios da Hanayagi tinha um certo toque infantil, deixando ela com um ar levemente cômico.
— Então qual o problema que está te deixando tão frustrada? Posso sentir que sua energia está toda desregulada, e isso só acontece quando você não está bem.
Kaoruko odiava quando Junna usava fatos concretos e inegáveis contra si. Como ela queria voltar no tempo e não ter dado a ela uma coleção de livros sobre sua raça demoníaca e cultura no aniversário da humana. Mesmo que os pratos inspirados na sua cultura fossem extremamente deliciosos, a Hanayagi não sabia se eles valiam tão a pena a sim em troca de ter alguém querendo se intrometer na sua vida.
Talvez se ela ficasse quietinha o suficiente a Junna acharia que tinha caído no sono e a deixasse em paz…
— Se você não falar qual o problema, irei perguntar para a Futaba.
O coração — que ela nem sabia que existia em seu peito, muito obrigada — chegou a parar de bater.
— Não! — Kaoruko gritou ao se levantar abruptamente, mostrando que estava muito bem acordada. Ao ver o sorriso convencido que sua humana tinha nos lábios enquanto ajeitava os óculos, ela percebeu que havia sido manipulada.
Isso fez com que a Hanayagi cruzasse os braços, revoltada.
— Você é um pé no saco — Ela resmungou. Novamente estava portando o biquinho infantil, numa óbvia expressão de desagrado.
— Precisa ser uma pra reconhecer outra — Junna comentou, a voz dela soando tranquila e tendo um leve timbre brincalhão.
Kaoruko apenas virou o rosto, não querendo mais olhar para a sua humana. Era insuportável quando a Hoshimi resolvia lhe dar atenção justamente quando ela não queria. Por que sempre que a demônia queria um cafuné ela lhe negava, mas quando era para a deixar em paz a bruxa sempre parecia incomodá-la?
— Por que você não me conta o que aconteceu? — Sua familiar questionou, lançando um olhar gentil e interessado. — Talvez eu possa te ajudar.
A Hanayagi ignorou completamente o calor que dominou seu peito e todas as implicações que isso tinha.
Com um suspiro dramático, ela voltou a se sentar na cadeira. Seguindo sua liderança, Junna fez o mesmo.
— Você primeiro tem que prometer não rir de mim! — Kaoruko declarou, já sentindo suas bochechas se aquecerem só de pensar no que iria contar à sua humana.
A Hoshimi franze as sobrancelhas ao olhar na direção de sua familiar, confusa por vê-la tão envergonhada. Era uma cena até fofa, de certa forma, e isso trouxe um sorriso suave aos seus lábios.
— Prometo que não irei rir de você — Ela disse, enquanto oferecia o mindinho para a demônia.
A Hanayagi olhou de forma cautelosa para o dedo oferecido, antes de conectar o seu com o semelhante, selando a promessa entre elas.
— Certo… — A voz de Kaoruko soava incerta e as íris acinzentadas encaravam a mesa à sua frente. Ela sentia as mãos suarem de nervosismo em seu colo, uma vez que ainda não sabia exatamente como expressar o que pretendia fazer.
E, mesmo assim, Junna esperou pacientemente por ela. Ambas sabiam que Futaba só chegaria em casa pelo horário de janta, provavelmente ocupada em ajudar a Akikaze em seu treinamento.
A demônia ainda não conseguia entender como sua adorável gatinha tinha tanto interesse em uma reles ninfa da água.
A Hanayagi não ia nem um pouco com a cara de Rui, ainda mais depois da jovem ter tentado lhe meter o tapão só porque havia debochado da namoradinha dela. Era lá culpa da Kaoruko que a tal Tomoe não sabia defender direito o próprio território da floresta? Óbvio que ela ia criticar. E se não fosse pela Isurugi, a demônia teria jogado uma maldição pesadíssima em cima da ninfa abusada.
Onde normalmente a Hanayagi ficaria entediada pela namorada não estar consigo, naquele dia ela estava levemente aliviada. Afinal, estava com tempo para conseguir reunir coragem para falar a sua familiar o que guardava em seu peito.
— É que… — Inspirando fundo, a demônia mordeu os lábios. Sentia o estômago esquisito, parecendo se revirar, uma sensação que não se lembrava de sentir muitas vezes. — Eu queria dar um presente pra Futaba-han.
Ela ouviu Junna soltar uma exclamação perante sua fala e sentiu seu rosto se aquecer.
— Eu quero mostrar pra ela… — Kaoruko comentou, com a voz levemente trêmula.
Era estranho tentar se explicar, e ainda pior estar se abrindo assim com a humana. Tentando não deixar a covardia lhe vencer e fazê-la parar de falar o que pensava, ela focou seu olhar na mesa de madeira.
— Quero dar algo a ela que mostre o quanto eu— a Hanayagi engoliu a saliva que estava começando a acumular em sua boca com um pouco de dificuldade.
Ela já estava começando a sentir uma pequena vontade de forçar uma risadinha e dizer para a Junna esquecer tudo o que tinha dito até o momento.
Ainda assim, ela inspirou fundo e continuou a dizer:
— O quanto eu aprecio ela.
O silêncio que assumiu a pequena e confortável sala tinha um timbre tenso, parecendo a corda de um arco prestes a ser solta para disparar a flecha final. Kaoruko não conseguia olhar para a sua humana, uma vez que tinha suas íris azuladas praticamente coladas na mesa.
Ela sentiu um toque macio em seu ombro, e, ao olhar para cima, viu o resto gentil de Junna a observando. Sua familiar exibia um sorriso suave nos lábios e parecia emanar uma certa aura de orgulho que deixou a pobre demônia confusa.
— Por que você está me olhando assim? — Ela questionou, soando levemente revoltada. De alguma forma, aquele gesto estava deixando-a incomodada e ela não sabia o porquê.
— Porque você é uma grande boba — A bruxa responde, fazendo Kaoruko ofegar ofendida. Todavia, antes que ela pudesse se defender, a outra continua. — Não vejo motivos para rir de um gesto tão bonito e romântico.
— Junna-han…
— Então, com o que precisa de ajuda?
[—]
Após uma longa e vergonhosa — mas também interessante — conversa, a Hanayagi acabou decidindo fazer uma coleira e um bracelete para sua querida gatinha. Segundo sua familiar, Futaba até que curtia usar acessórios. Só que, como a maioria era apenas frívolo e bonito, acaba sendo destruído muito fácil ou apenas não combinando com seu estilo.
Com isso, a conclusão de Kaoruko não poderia ser outra além de criar enfeites que não só iriam combinar com a Isurugi como também seriam práticos e funcionais.
Futaba não só ficaria linda usando uma coleira com um pingente do seu símbolo, como também ficaria protegida por causa do feitiço que pretendia pôr nele.
Já havia feito o bracelete com um tecido simples e costurado as pedrinhas brilhantes — as quais absorviam magia e ajudariam Futaba a sobreviver melhor caso acabasse enfrentando alguma faire abusada — nele e, estava agora, terminando de fazer o pingente do colar.
A demônia sentia-se orgulhosa do trabalho que estava fazendo. Não era sempre que ela tinha vontade de fazer alguma coisa, todavia, sempre que punha as mãos na massa, ela apenas fazia o seu melhor e nada além dele!
Se a Hanayagi era perfeccionista? Sem sombras de dúvida.
E talvez fosse por isso que muitas vezes a Futaba tinha de lhe encher pra ela continuar o que tinha começado. Não que Kaoruko concordasse com isso! Era muito melhor simplesmente deixar certas coisas de lado…
Duas batidas na madeira tiraram sua atenção do símbolo que escrevia na pedra do pingente, a fazendo olhar para a porta. A cabeça de Junna apareceu pela fresta, de forma que seus fios roxos ficavam um pouco pendurados por causa da inclinação.
— Como está indo aí? — A humana questionou, tendo um tom de curiosidade na voz.
Um sorriso presunçoso ergueu os cantos dos lábios da demônia. Ela ergueu o pingente, mostrando o seu belo trabalho para a outra.
Um brilho instantaneamente apareceu nas íris esverdeadas, transformando sua expressão curiosa em alegre.
— Kaoruko isso está muito bonito! — A animação dominava o tom da Hoshimi, fazendo com que o peito da Hanayagi se aquecesse.
— Óbvio que está, fui eu quem fiz.
Em resposta, Junna apenas suspirou cansada.
— Certo, certo… só vim checar o seu progresso — A bruxa comentou, portando agora um olhar mais calmo. — O jantar já está quase pronto.
Um brilho de compreensão passou pelo olhar da demônia e ela assentiu, começando a guardar os objetos que usava. Junna apenas se retirou do cômodo e fechou a porta suavemente enquanto a Hanayagi organizava as coisas.
E foi bem a tempo. No momento em que Kaoruko dissipou o portal que levava a seu armário secreto, ela sentiu a presença da namorada antes de ouvir a porta do quarto rangendo.
— Ei, Kaoruko, cê tá bem? — Escutar o tom preocupado na voz levemente grossa da Futaba trouxe um certo calor no rosto da outra.
Ela se virou, já portando um sorriso travesso nos lábios e se aproximou da sua adorável feline.
— Estou melhor agora que minha gatinha chegou — A demônia flertou, pondo o indicador embaixo do queixo da Isurugi.
A Hanayagi viu as sobrancelhas rosadas se franzir embora as bochechas da sua amada tivessem ficado vermelhas. Ela achava tão divertido que a Futaba ficava corada quando era pega desprevenida com seus flertes.
— Ei, Futaba-han, por que você não me dá a janta hoje na boquinha? — Kaoruko provocou, levando seu indicador do queixo até a bochecha, para depois afastae uma das mechas do olho dela. — Estou muito cansada de todo o trabalho que a Junna-han me obrigou a fazer.
A Isurugi pôs as mãos nos ombros da demônia, a empurrando forte o suficiente para a afastá-la de si.
— Para de zoar com a minha cara! — A híbrida retrucou, com o rosto todo vermelhinho. As orelhas felpudas dela estavam tremendo de leve, mostrando o quão envergonhada ela estava. — Você pode muito bem comer sozinha.
E com isso, ela se virou e se retirou do quarto delas, provavelmente querendo distância para poder se acalmar e lembrar o porquê ela tinha ido até a outra em primeiro lugar.
A Hanayagi apenas deixou uma risadinha escapar por entre os lábios, antes de seguir a namorada.
Ah, aquele jantar seria muito divertido.
[—]
— Estou te dizendo, Kuroko, ela tá estranha — A feline resmungou, balançando as pernas. Ela estava numa pedra grande que ficava na borda do rio de Claudine, a sereia de água doce que morava ali.
A Saijou estava ouvindo-a reclamar desde que Futaba chegou no início da tarde, para a conversa habitual delas. O tópico não era muito diferente do normal e Claudine não conseguia entender o motivo da súbita paranóia da amiga.
— Pardonne-moi, mas para mim ela parece estar agindo como sempre — a Saijou respondeu, colocando o queixo em cima de seus braços dobrados que estavam na borda do rio. — Ela te pede pra fazer as coisas pra ela, flerta contigo e tenta evitar de fazer trabalho duro. Não é exatamente isso que você vive reclamando?
— Sim, mas… — A Isurugi disse, parecendo incerta. O rabo fino e longo dela balançava lentamente, deixando óbvio que estava pensando no momento. — A nossa mestra fez o prato favorito dela pro jantar.
Claudine deitou sua cabeça nos braços, num gesto de indagação que a amiga conhecia muito bem.
— Nossa mestre normalmente não faz nossos pratos favoritos se a gente não fizer algo que mereça a recompensa — Futaba explicou, tendo os dedos brincando com a borda da sua camisa. — Principalmente se é o da Kaoruko, porque ela fica achando depois que não precisa mais ajudar e isso faz a Junna se arrepender de ter dado um agrado pra ela.
A Saijou apenas soltou um som compreensivo.
— E parece que ontem ela ajudou a nossa mestre com os trabalhos? — A feline comentou, meio alheia. — Sem eu nem precisar estar lá para fazer ela parar de enrolar também… além de que ela não mencionou o fato de eu ter passado o dia todo fora ajudando a Rui e nem estava me esperando na sala quando cheguei.
— Entendi… — Claudine falou, fazendo com que a Isurugi olhasse para a amiga. — Eu sei que você está preocupada, mas… não está exagerando?
— Qual é, Kuroko! Você também não — Futaba reclamou, começando a se irritar. Quando havia trazido a questão para sua mestra, Junna apenas disse que não havia nada para se preocupar.
Ainda assim, a situação era suspeita. No momento em que tinha entrado em casa, os pelos de seu rabo haviam se espevitado. Isso normalmente acontecia quando alguma coisa envolvendo a Kaoruko estava pra acontecer.
Também não ajudava que sua demôniazinha tivesse aproveitado a situação para despistá-la usando sua melhor artilharia: o flerte súbito. Agora a feline se encontrava pensativa e preocupada, querendo saber o que raios havia acontecido para a outra estar agindo assim.
A Isurugi não tinha percebido, todavia estava portando um pequeno bico emburrado nos lábios. Era fofo quando a híbrida ficava assim, todavia a Saijou preferia quando sua amiga estava feliz e animada, preparada para entreter sua tarde com as várias fofocas e histórias de aventura que tinha.
Por isso, Claudine resolveu tirar a outra de sua mente, a fim de poder tentar acalmar a paranóia dela com outro assunto. A sereia ergueu sua cauda para fora d'água, o suficiente para ficar apenas a parte fina de fora. As escamas magentas — que eram da mesma cor de seus olhos — brilhavam sob a luz do sol antes de baterem com força no rio, levantando pingos de água para fora da beirada.
Futaba, antes mesmo de raciocinar o que estava acontecendo, deu pulo da pedra e acabou parando atrás dela.
— Tá doida, Kuroko? — A feline resmungou, sibilando baixinho. Ela odiava molhar os pelos fora do banho, pois modificava seu cheiro natural e isso a incomodava demais.
— Bem vinda de volta, mon cher ami — A Saijou respondeu, com um sorriso pequeno nos lábios. Esses, que se ergueram ainda mais ao ver um par de chifres conhecidos se aproximando delas. — Parece que hoje nossa conversa vai acabar mais cedo.
A Isurugi franziu as sobrancelhas antes de sentir seus pelos do rabo se eriçando.
Oh.
— Ei, Kuroko, você não vai me deixar assim né — Futaba se aproximou da pedra novamente, um certo tom de desespero agarrado em suas palavras.
As íris ametistas pareciam implorar para que Claudine ficasse ali, brilhando levemente de medo. Embora não entendesse muito bem o que se passava na cabeça da feline, Saijou lançou-a um olhar suave e gentil.
— Não se preocupe, Futaba. Tenho certeza que vai dar tudo certo. — O tom dela era amigável, numa tentativa de reafirmar a outra de que ela não tinha nada a temer. — Eu estarei no fundo do rio, qualquer coisa você sabe como me chamar.
E assim, a sereia sai de perto da borda do rio e afunda na água, deixando a pobre Isurugi à mercê da demônia.
— Ara, aquela desculpa de peixe foi embora? — Essas foram, por incrível que pareça, as primeiras palavras de Kaoruko assim que se aproximou da namorada.
Futaba soltou um suspiro cansado.
— Quantas vezes vou ter de te falar pra parar de ser malvada com os outros? — Ela questionou, enquanto se virava para a Hanayagi.
Algo que reparou assim que olhou para a outra, é que as mãos dela estavam atrás das costas, parecendo esconder algo. Isso fez com que a Isurugi movesse suas orelhas felinas, em busca de algum som.
Seus olhos observaram o rosto da demônia, que parecia ter as íris acinzentadas em algum ponto fixo atrás de si, embora tivesse o sorrisinho malandro de sempre nos lábios.
— Kaoruko?
— Futaba-han. — A voz da outra, que continha um certo tom de nervosismo, foi o suficiente para fazer a híbrida se calar, à espera do que iria ser dito.
Contrariando suas expectativas, porém, a Hanayagi apenas tira as mãos das costas e apresenta um pequeno embrulho para a feline.
Isso faz a Isurugi franzir as sobrancelhas em confusão, uma vez que não era seu aniversário e muito menos uma data de namoro. Por que a outra estava lhe dando um presente?
— Fiz isso aqui pra você, óbvio — Kaoruko disse, ainda meio nervosa. — Queria te agradecer, de alguma forma, por todo o apoio e carinho que me dá.
Ela pegou a mão da híbrida, que parecia ter parado de pensar racionalidade por um momento, e pôs o embrulho na palma aberta.
— Só que você sabe como, infelizmente, eu sou horrível em me expressar de forma honesta — A Hanayagi continuou a falar enquanto desfazia o laço do presente, revelando assim os acessórios. — Então eu resolvi fazer, com a ajuda de Junna-han, um colar e um bracelete pra você.
Os lábios de Futaba estavam entreabertos tamanho fora a sua surpresa ao ver aquilo. Ela sentiu seus olhos arderem, todavia ainda estava desacreditada do que estava ocorrendo no momento.
— Como forma de agradecimento, sabe? Por tudo o que você fez, faz e ainda vai fazer por mim — Kaoruko praticamente cantarolou a última parte, como forma de aliviar o peso do momento.
A falta de reação da Isurugi estava a assustando um pouco, porém ninguém precisava saber disso.
Quando as íris acinzentadas se encontraram com ametistas, a demônia percebeu que sua gatinha estava chorando. Isso fez com que ela soltasse a mão da feline para por as palmas no rosto dela.
— Futaba-han?
Em um breve piscar de olhos, a híbrida saiu da sua frente e foi parar dentro de seus braços. A Hanayagi sentia as unhas afiadas perfurando levemente o seu ombro, tamanha era a força do abraço que a outra estava lhe dando.
Ora ou outra uma lágrima tocava sua pele ou roupa, deixando óbvio para a demônia o quanto a namorada havia ficado emocionada.
Não demorou muito para Futaba se acalmar e se afastar um pouco, respirando fundo.
— Ah cara, você realmente me assustou por um segundo — A Isurugi comentou, passando os dedos da mão livre em um dos seus olhos úmidos. — Realmente achei que você estava encrencada e não queria me contar.
O olhar preocupado de Kaoruko se suavizou.
— E quem iria me ajudar, se esse fosse o caso, uh? Não tem ninguém que eu iria querer ao meu lado quando eu estiver com problemas.
— É, não é como se alguém fosse querer te ajudar também.
A demônia soltou um som indignado ao escutar aquilo, todavia antes que ela pudesse começar uma briga, Futaba colocou os acessórios na frente de seu rosto.
— Me ajuda a colocar? — A feline pediu com um tom agradecido, lhe lançando um sorrisinho feliz.
— Depois de me insultar você ainda tem coragem de me pedir alguma coisa? — A Hanayagi resmungou, cruzando os braços de forma revoltada. Todavia, a sua gatinha continuava a lhe olhar com um jeitinho pidão, fazendo seu peito se aquecer. — Sorte sua que eu quero saber se as medidas estão certas, porque senão você ia ter que pôr sozinha.
— Sim, sim — Debochou a Isurugi, tendo plena consciência de que a outra não resistia a seu olhar fofinho.
Kaoruko pegou o colar da palma alheia com um pouco mais de força além do necessário, mostrando que ainda estava revoltada com o que a híbrida tinha dito.
No entanto, no momento em que os dedos frios da demônia roçaram na pele aquecida de Futaba, apenas carinho e gentileza haviam sido postos no gesto.
A Isurugi aproveitou para pegar o bracelete com a mão livre, guardando o papel de embrulho e o laço no bolso do short que estava usando, para então tentar pôr o acessório no pulso.
Óbvio que ela não conseguiu com apenas uma mão, ainda assim a feline não precisou esperar muito, pois logo a Hanayagi estava os amarrando também.
Assim que a sua namorada terminou de laçar o bracelete, elas se afastaram uma da outra, e a Futaba deu uma voltinha.
— Como fiquei?
— Tão bela quanto eu esperava — Kaoruko respondeu, com um certo tom apaixonado na voz que fez o rosto da namorada esquentar. — Graças a mim, claro.
Revirando as íris ametistas, Futaba se aproximou da demônia e segurou a face dela entre as suas palmas, para então dar um pequeno aperto.
— Futaba-haaan, está me machucando! — a Hanayagi reclamou, embora não fizesse nada realmente para sair de perto dela. — É assim que me agradece pelo belo presente que te fiz?
A Isurugi continuou a apertar as bochechas da namorada, fazendo com que os lábios dela formassem um biquinho.
— Isso é por zoar com a minha cara ontem — A feline respondeu, contendo um certo tom predatório na voz. — Agora isso é como vou te agradecer.
Futaba aproximou seu rosto e afrouxou a pressão na face alheia, de forma que agora estava apenas segurando. Kaoruko logo entendeu o que estava para acontecer. Ela pôs suas mãos na cintura da sua gatinha e lançou-lhe um olhar desafiador.
Os lábios de Isurugi se encontraram com os seus, iniciando um beijo doce e animado. A língua da demônia não perdeu tempo em procurar uma brecha para entrar na boca alheia, degustando do sabor da namorada sem pudor.
Infelizmente, o gesto foi mais rápido do que Kaoruko esperava, pois logo Futaba estava se separando para respirar de forma pesada.
— Você ainda me mata por falta de oxigênio.
— Já está falando em me deixar? — a Hanayagi comentou, portando um tom brincalhão. — Que pena que agora você está usando meu colar, porque eu enfeiticei o símbolo do pingente com uma magia de algema.
A demônia aproximou seu rosto perto da orelha peluda da outra.
— Você não vai mais poder sair de perto de mim — Ela sussurrou, levemente arrogante.
A reação da Futaba a sua pegadinha, todavia, foi diferente do que Kaoruko esperava.
— Eh, e onde que isso é problema? — A feline questionou, portando um sorriso convencido nos lábios. — Eu não te deixaria nem se tentasse me forçar a ir embora.
A sinceridade, tanto no olhar quanto nas palavras, da Isurugi trouxe não só um tom rosado ao rosto da demônia, como também um brilho molhado nas íris acinzentadas.
Querendo esconder a vergonhosa expressão que estava fazendo, a Hanayagi esconde seu rosto na curva do pescoço da namorada, fazendo com que a Isurugi risse.
— Envergonhei meu grande bebezão? — Futaba questionou, apertando a outra em seus braços.
Kaoruko, embora confortável no abraço, retrucou:
— Não zombe de mim! Assim eu nunca mais faço nada pra você.
Mesmo que a feline não visse, ela sabia que a outra estava com um biquinho emburrado nos lábios.
— Não tem problema, ter você é meu maior presente.