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a união sob a noite conturbada

Summary:

— Azula…? — A voz suave e desnorteada de Yue alcançou os ouvidos dela, trazendo um leve arrepio à sua pele. Ela ignorou a sensação, ainda que fosse reconfortante saber que conseguia sentir algo além de cansaço. — O que aconteceu?

Inspirando o doce ar fresco da noite, a cavaleira pensou no que deveria dizer. Seria fácil cair em velhos hábitos e sair acusando a outra de ser um peso morto apenas para esconder o que realmente sentia. Todavia, não era assim que queria resolver aquela situação.

Afinal, ela sabia que Yue só estava querendo retribuir o favor que tinha feito.

Notes:

tema usado nessa fic: mágia

dedicado a laverna !

(See the end of the work for more notes.)

Work Text:

Ainda que o ar dentro da caverna fosse mais úmido, Azula estava com certa dificuldade para respirar. A adrenalina que circulava pelas suas veias a deixava alerta e ansiosa. Ela sentia que sua temperatura corporal estava acima do comum, no entanto, tinha certeza que parte do motivo também se devia ao fato de estar usando magia.

Seu coração batia acelerado mesmo que já estivesse em um lugar mais tranquilo. Tinha sido difícil, porém havia conseguido trazer o corpo desacordado e ferido de sua parceira para uma supostamente segura cavidade.

Vez ou outra uma brisa fresca e suave passava pelas paredes rochosas, e embora isto não ajudasse no excesso de suor que escorria pelo rosto e pescoço de Azula, era uma sensação reconfortante.

Afinal, ainda estava viva. Yue tinha feito questão de se certificar deste fato ao se pôr entre a cavaleira mágica e o gigante, impedindo que ela recebesse o ataque e sofresse maiores danos.

(Não que concordasse com a ação de sua parceira, porque não precisava de ajuda para acabar com um ser sobrenatural de nível mediano. Era irrelevante que Azula estava com um hematoma nas costas que sempre doía quando tentava fazer algum movimento mais brusco ou exigente.)

Por causa disso, estava sendo obrigada — de certa forma — a usar magia de cura para poder sarar o ferimento que se localizava no tronco de Yue. Era irritante o quão medíocre a cavaleira mágica era com esse poder, uma vez que essa era uma das poucas formas de feitiço que não tinha conseguido dominar.

Engolindo o excesso de saliva que tinha se acumulado em sua boca, Azula manteve seu olhar focado no machucado alheio. A escuridão que dominava a caverna — um dos motivos pelo qual ela tinha se refugiado ali — dificultava sua visão, de forma que não sabia qual era o real estado da região ferida mesmo com a frágil luz esverdeada que emanava de suas mãos.

Ignorando a forma como seus batimentos cardíacos estavam agitados, a cavaleira mágica inspirou profundamente e estabilizou suas palmas no tronco de sua parceira. Ela precisava se manter concentrada. Não adiantaria nada que se distraísse com ideias tolas e acabasse não conseguindo ajudar Yue.

Piscando com certa intensidade, Azula espantou o acúmulo de água que estava acontecendo em seus olhos. Suas sobrancelhas se franziram e ela ajeitou a postura, focada em ignorar a mistura de emoções que circulavam em seu peito.

Não demorou muito até que estivesse investida na sua tarefa, completamente alheia a passagem de tempo e da transformação de seus sentimentos confusos em uma única bolha gélida e vazia.

[—]

A cavaleira mágica observava as folhas balançando, indicando a direção que o vento vinha. Não existia nenhum barulho alto o suficiente para ser escutado no momento. Todavia era difícil assegurar que estava totalmente em silêncio quando não conseguia sentir aquela irritante pressão em seus ouvidos, tão absurda que era que parecia até um barulho na ausência de som.

Azula sentia-se nojenta. O suor ressecado em sua pele incomodava e ela tinha certeza que existia um pouco de poeira em seu rosto também. Seu único conforto era estar hidratada e não sentir fome, uma vez que tinha aproveitado o esconderijo seguro em que residia para beber água e se alimentar sem pressa.

Tudo o que sentia no momento era cansaço. Seus olhos ardiam e vez ou outra se encontrava bocejando, porém o sono não lhe pesava as pálpebras. Tampouco sabia se conseguiria realmente chegar a dormir, temendo que algo acontecesse quando baixasse a guarda e fosse descansar.

Ela tinha de certificar de que sobreviveriam aquela noite. Por isso, manteve suas íris negras focadas no cenário que a entrada da caverna mostrava ainda que uns grunhidos atrás de si tivessem lhe chamado a atenção.

Provavelmente já tinham se passado umas três horas desde que havia finalizado o tratamento desleixado na sua parceira. A outra tinha tido tempo o suficiente para se recuperar do ferimento e da energia que o corpo gastou enquanto recebia o seu poder de cura.

No entanto, a cavaleira ainda precisava de mais tempo até que conseguisse identificar novamente as emoções que havia aglomerado em uma única só.

— Azula…? — A voz suave e desnorteada de Yue alcançou os ouvidos dela, trazendo um leve arrepio à sua pele. Ela ignorou a sensação, ainda que fosse reconfortante saber que conseguia sentir algo além de cansaço. — O que aconteceu?

Inspirando o doce ar fresco da noite, a cavaleira pensou no que deveria dizer. Seria fácil cair em velhos hábitos e sair acusando a outra de ser um peso morto apenas para esconder o que realmente sentia. Todavia, não era assim que queria resolver aquela situação.

Afinal, ela sabia que Yue só estava querendo retribuir o favor que tinha feito.

— Você se lembra do gigante? — A cavaleira mágica disse, não conseguindo evitar a falta de emoção na voz. Sua fala tinha saído estável, ainda que apática, e Azula sabia como isso seria um grande sinal de como estava mentalmente para a sua parceira.

Ela só esperava que a outra não interpretasse isso como um sinal de que estava buscando por uma briga.

— Gigante…? — Yue repetiu, continuando a soar desnorteada. Pelo visto a pancada que havia levado na cabeça tinha sido mais forte do que parecia.

Tirando seu olhar do verde das folhas, a cavaleira fixou suas íris em seus punhos fechados. Mesmo escutando o ofego de realização de sua parceira, ela não conseguia criar coragem para encará-la.

—  Sim, o gigante de rank D que nos pegou desprevenidas — Azula explicou, ainda no mesmo tom de voz. Ela conseguia escutar os grunhidos de Yue, que provavelmente estava tentando se mover para poder se aproximar de si. — Você sabia que eu não conseguiria lutar sozinha contra ele nesse estado e se pôs na frente dele.

A cavaleira mágica inspirou forte, tentando manter o controle sob suas emoções e tom de voz. Por ter dado essa pequena pausa, não foi difícil perceber o silêncio que acompanhou a sua fala. A outra havia parado de tentar se mover, provavelmente tentando compreender o que tinha acabado de escutar.

— Ele… ele te acertou com um golpe no exato momento em que você entoava um feitiço — Azula voltou a recontar o que havia acontecido, ignorando a forma como as suas mãos começaram a tremer levemente. Ela quase não conseguiu escutar o arfar que escapou de sua parceira, como se tivesse acabado de descobrir alguma coisa. — Sendo sincera, foi até impressionante ver uma druida defensiva usando de um ataque tão ofensivo. Duvido que tenha sido o suficiente para matá-lo, então não garanto que não o veremos novamente.

Embora a sua voz tenha tido um certo tom desdenhoso, a cavaleira mágica não culpava a outra pela atitude que tinha tomado. Isso não tinha impedido o silêncio de dominar a caverna, porém, trazendo assim um clima pesado para as paredes rochosas.

O feitiço de Yue poderia até não ter sido forte o necessário para matar o Gigante, mas ela não poderia negar que havia sido aquela ação que tinha dado a ambas a abertura que precisavam para fugir. Se não fosse por ela, Azula duvidava que teriam conseguido sair daquele encontro com vida.

Era com uma dor no peito que a cavaleira mágica tinha de admitir suas falhas. Ela não era tão boa quanto diziam, porque se fosse sequer teria deixado com que um filhote de manticore tivesse lhe dado aquele hematoma nas costas. Se não fosse por causa disso, as duas com certeza teriam conseguido acabar com o ser fantasioso de rank D sem nenhum problema.

Se Azula fosse uma melhor aprendiz de magia, ela não teria se desesperado com algo tão simples quanto um ferimento não profundo. Sabia que Yue não iria morrer e mesmo assim tinha sido ridiculamente difícil se acalmar e se concentrar em fazer os primeiros socorros.

Se apenas…

— Azula — A voz suave e determinada de Yue surpreende a cavaleira mágica. Ela pisca os borrões de seu olhar, deixando as lágrimas escorrerem por sua bochecha e murmura uns xingamentos ao perceber que estava chorando. — Olha pra mim, por favor.

É com o coração acelerado que Azula, lentamente, se volta para Yue. O escasso brilho da lua que consegue entrar dentro da caverna não é o suficiente para dissipar a escuridão que existe ali, de forma que a cavaleira mágica só pode ter uma visão do delinear do corpo alheio. Se a sua assumpção estiver correta, sua parceira está sentada com as costas na parede.

Provavelmente seu rosto estaria mostrando uma expressão aliviada, se Azula conseguisse o ver com mais clareza.

Franzindo as sobrancelhas, a cavaleira mágica tateia o chão arenoso até encontrar um dos vários galhos que sabia existirem espalhados por ali. Trazendo o graveto até seu rosto, ela sussurra um feitiço simples e sente quando sua energia interna passa para a madeira, não demorando muito para trazer o fogo que pediu.

Ainda que a chama seja pequena, a luz que ela trás é o necessário para que o ambiente fique mais iluminado. Com um pouco de dificuldade, Azula se põe de pé e caminha devagar até onde consegue ver o corpo de sua parceira.

É difícil não cravar o olhar na área rasgada do tronco de Yue, principalmente quando a cor borgonha do sangue seco parece atrair todo o seu foco. O ferimento na pele a mostra já estava cicatrizado, e, tendo sorte, não parecia ser do tipo que deixaria uma marca.

Um suspiro cansado deixa os lábios finos de Azula, que logo se encontra sentada ao lado da druida. Não querendo acabar ferindo a outra por acidente, ela põe o graveto em chamas aos pés delas, sabendo que ele não iria queimar mais do que a madeira em que estava.

— Como você está se sentindo?

Uma risadinha amarga escapou da cavaleira mágica ao escutar aquela pergunta vindo logo de Yue. Era óbvio que nenhuma delas estava bem. Bastava apenas olhar o ferimento de sua parceira ou reparar na poeira e suor que estavam na pele de Azula.

Dedos gélidos passaram por fios negros bagunçados, lembrando-a do quanto necessitava de um banho.

— O que você acha? — A cavaleira mágica retrucou, não conseguindo conter o gosto azedo que se aprisionou em sua língua.

Ela sabia que aquele não era o momento exato para agir como uma idiota arrogante. Aquilo apenas a deixaria com um vazio ainda maior no peito, que teria ajuda da culpa para apertar seu coração até ele ficar doendo. Ainda assim, era difícil não cair em velhos hábitos quando estava estressada.

Diferente do que Azula esperava, no entanto, a druida apenas ignorou a questão irônica e focou suas íris celestiais no rosto alheio. O peso do olhar de Yue sobre si era tanto um conforto quanto um incômodo — e essa mistura de sentimentos apenas deixava a cavaleira mágica mais desnorteada.

— Eu acho… que você precisa descansar.

A voz suave de sua parceira a surpreendeu. Não era esse tipo de resposta que estava esperando. Se ajustando na parede rochosa que parecia teimar em cutucar suas costas, Azula torceu seus lábios em hesitação.

Ela não estava confiante de que conseguiria realizar a sugestão alheia.

Antes que pudesse compartilhar sua opinião sobre, porém, a cavaleira mágica sentiu um toque morno e gentil em sua mão. Suas íris negras desceram do rosto da druida no momento certo. Ela observou a palma de Yue deslizando por sua pele, até que os dedos suaves dela pudessem se entrelaçar com semelhantes imóveis.

O toque que recebia da outra era reconfortante, e era exatamente tudo o que necessitava naquele momento. Azula conseguia sentir o calor do corpo alheio próximo de si, a acalmando. Ela deixou um suspiro cansado escapar de seus lábios e não resistiu em revirar os olhos, apenas para ser do contra, antes de deitar sua cabeça no ombro desnudo de sua parceira.

— No momento em que um problema aparecer, você vai me acordar — A cavaleira mágica declarou, decidida. Contrário ao seu tom, suas pálpebras pesadas já tinham se fechado. — Não importa se eu tenha acabado de dormir, quero que me acorde!

Azula sentiu o rosto de Yue roçando levemente em sua cabeça, bagunçando ainda mais seus já desgrenhados fios negros. Ela dá um leve aperto nas mãos dadas, não demorando muito para receber outro em resposta — apenas uma última confirmação de que estavam vivas.

Apenas uma reafirmação de que pretendiam sobreviver aquela longa noite juntas.

— Pode descansar, princesa. Agora é minha vez de ficar de vigia. — Foram com essas palavras que Azula se deixou embalar pelo cansaço e pelo carinho que a druida fazia em seu cabelo, deixando o leve sono a conduzir para o mundo dos sonhos.

Notes:

espero que tenha gostado lala !!

essa fic foi um pedido que lala me fez no tumblr !! se tiverem interesse de me fazerem um pedido de fic, favor chequem meu meu blog !!! lá tem os fandons e ships para os quais escrevo e uma lista de prompt que estou usando para escrever <3

obrigado por terem lido até aqui o/