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Era para ser uma tarde chata. Como estava chovendo, a maioria dos estudantes estavam aconchegados dentro do terreno da escola, jogando preguiçosamente enquanto esperava o céu clarear.
Mary estava apenas encarando as janelas, vendo as gotas de água pairando no vidro enquanto apoiava a cabeça em uma das mãos. Ela já havia feito sua cota de dinheiro e não estava interessada em disputar nada, logo não tinha muito o que fazer no momento.
Ou assim ela pensou.
"Mary-san," A voz tranquila de Jabami chamou sua atenção, fazendo suas íris douradas se moverem para a outra garota, "Você quer apostar comigo?"
"Eh?" Foi a única coisa que seu cérebro conseguiu inventar como resposta.
Não era novidade que Yumeko a convidasse para jogar. Isso ainda não fazia sentido para Saotome, que tinha ouvido todas as suas queixas sobre a chuva deixando-a entediada e o quanto a outra não gostava das possibilidades de novas disputas serem cortadas por causa disso.
Como se as pessoas realmente jogassem tanto fora dos prédios da escola.
"Aposte comigo!" Yumeko perguntou novamente, tendo um brilho no rosto que fez seu pequeno sorriso ainda mais atraente.
Ignorando como as suas bochechas pareciam esquentar com a visão, Mary suspirou.
"Bem, qual é a aposta?" Se a outra estava tão animada com a ideia, por que não agradá-la? Ela não tinha nada de interessante para fazer no momento de qualquer maneira.
Ela quase se arrependeu de suas palavras quando viu o lampejo de um brilho vermelho nas íris de Jabami.
[—]
"Isto será muito divertido!" Yumeko disse animadamente, deixando um sorriso satisfeito puxar seus lábios para cima. Ela estava girando na chuva com os braços esticados, parecendo tão feliz e idiota que estava fazendo o coração de Saotome pular algumas batidas.
"É, é ou assim você diz." Foi a resposta rabugenta que Mary deu, ao seu lado. A água estava agarrando lentamente seus uniformes, e parte de sua franja já estava molhada, entretanto a jovem tentou não reconhecer esse detalhe.
Ela não queria perder a aposta, mesmo que fosse ridícula.
"Vocês duas estão realmente tem certeza de que esta é uma boa ideia?" Suzui estava sob o teto do corredor, observando-as com olhos preocupados. Ele era o negociante deles a pedido de Jabami, já que elas não estavam com a intenção de fazer uma troca de dinheiro quando uma delas perdesse. "Estar tanto tempo na chuva pode fazer você pegar uma febre."
"Cala a boca, idiota."
"Não se preocupe, Suzui-san."
Foi meio impressionante como ambas responderam ao mesmo tempo. Mas também era algo com o qual Ryouta estava se acostumando, então ele conseguia entender o que as jovens diziam, mesmo que as frases fossem muito diferentes.
"Vai ficar tudo bem, não acho que ficaremos mais do que algumas horas aqui fora." Yumeko concluiu seus pensamentos organizadamente, dando-lhe um sorriso reconfortante.
Ele mudou o peso de um pé para o outro por pouco tempo antes de assentir.
"Certo." Ele sussurrou para si, antes de se endireitar para ficar mais alto. "Eu estou ligando o cronômetro, a primeira a sair da chuva vai fazer ele parar. Se a pessoa que saiu não for a que foi estipulada, a vencedora será decidida pela proximidade do tempo que vocês escolheram. Alguma pergunta?"
"Não."
"Então vamos começar esta aposta." Suzui disse suavemente, tocando a tela de seu telefone antes de lançar seu olhar preocupado, mas determinado, para as garotas à sua frente.
Mesmo que seu peito se aquecesse com o calor, Mary apenas revirou os olhos antes de colocá-los na outra garota. Ela não ficou surpresa ao ver que Jabami já estava a olhando com uma faísca convincente.
Saotome deixou um sorriso arrogante torcer seus lábios, aceitando o desafio. A jovem já podia sentir o gosto da chuva e o toque da água era estranhamente reconfortante. A única coisa irritante de estar sob esse banho metafórico era o fato de que de vez em quando os ventos a abraçavam, fazendo sua pele esfriar, fazendo com que ela se sentisse ainda mais fria do que a chuva.
Yumeko parecia tão bem como sempre, imperturbável pelo ar fresco ou pela água intrusiva. Sua franja já estava achatada na testa, transformando seu olhar sereno em algo engraçado.
Também era frustrante como isso não podia arruinar sua beleza. Suas íris escuras pareciam mais sedutoras do que nunca no meio da chuva, tirando todo o foco que Mary tinha para tentar analisá-las — para tentar desvendar os segredos que escondem, para tentar entender a suavidade que o olhar carrega quando é colocado nela, para tentar chegar mais perto para que pudesse vê-las ainda melhor.
Sua pele macia parecia mais pálida em contraste com as cores fortes do cabelo e do uniforme de Yumeko. Era quase como se seu rosto estivesse emitindo luz, o que era um pensamento absurdo em si, todavia a forma como seu rosto brilhava não parecia falso.
De repente, a respiração de Saotome não era mais dela. Ela sentiu os dedos formigando para tocar a outra e, para se controlar, mordeu os lábios enquanto desviava os olhos da rival.
Não demorou muito para colocá-los de volta em Jabami novamente. Ela simplesmente não conseguia olhar para o outro lado quando a garota estava bem na frente dela. Mary evitou deixar suas íris ficarem muito tempo no corpo alheio, sabendo que iria se distrair facilmente com todas as roupas molhadas que estavam grudando na pele impecável.
O arrepio que passou pelos braços de Saotome quando ela viu que Yumeko já estava olhando para si foi um aviso. O calor estava se acumulando em seu estômago e em seu rosto, a excitação começando a crescer em seu corpo só porque a jovem tinha todo o foco da outra estudante.
Mary fechou os olhos, tentando recuperar o controle sobre sua própria mente. Ela precisava sair de lá. Quanto tempo havia se passado? Provavelmente foi o suficiente, não havia como terem ficado tão pouco tempo na chuva — suas roupas já estavam começando a grudar na pele, fazendo com que a região coçasse um pouco. Era hora de terminar aquela aposta tola e vencer.
Saotome respirou antes de abrir as pálpebras. Ela deu um sorriso confiante para a jovem na frente dela, e virou na direção do negociante.
"Estou caindo fora, Ryouta." Ela disse, antes de ir para o corredor onde o menino estava de pé. Ela ouviu o suspiro de Jabami, porém ignorou, decidindo ver o tempo enquanto já pensava no que poderia fazer com seu prêmio.
No momento em que seus pés tocaram o chão seco, Suzui estava lhe entregando uma toalha para enxugar o excesso de água em seu corpo. Ele fez o mesmo por Yumeko antes de pegar seu telefone novamente para encerrar a aposta.
“Ok, então Saotome foi a primeira a sair da chuva.” Ele disse o óbvio, tentando se readaptar ao papel de negociante. “Isso resulta na vitória de um ponto para Yumeko, já que ela decidiu que Saotome seria a primeira a fazê-lo.”
Ambas as garotas fizeram um som de reconhecimento, mais focadas em secar o cabelo do que no que Ryouta estava dizendo.
“Então agora vamos verificar o tempo. Saotome apostou que a primeira a sair o faria em um minuto, enquanto Yumeko apostou que o tempo seria apenas quarenta e cinco segundos.” Ele as lembra, antes de acender a tela do celular e desbloqueá-lo. "E a hora oficial é... trinta e três segundos!"
"O quê?"
Dois pares de olhos escuros estavam fixos em Mary, que percebeu, com vergonha, que ela havia dito aquilo em voz alta.
"Eu disse que a hora oficial é trinta-"
"Eu ouvi você da primeira vez, estúpido." Mary resmungou, irritada. “Eu simplesmente não consigo entender, parecia muito mais tempo lá fora.”
Yumeko assentiu, concordando.
“Por um momento eu até pensei que Mary-san ia ganhar!”
“Ah, então você já estava pensando em desistir? Eu deveria ter esperado um pouco mais, então.” Saotome brincou, sentindo uma pequena satisfação pela revelação aquecer seu coração.
“Meninas…” Suzui chamou pedindo desculpas, tentando trazê-las de volta aos trilhos. Às vezes era muito difícil fazer parte do trio para ele, já que era arrastado pelas duas para as façanhas mais loucas. Aquele momento não foi diferente.
“ Me desculpe, Suzui-san. Prossiga."
Com um aceno agradecido para Jabami, ele tosse antes de continuar seu trabalho.
“Como o tempo de Yumeko estava mais próximo, ela agora tem dois pontos e é, oficialmente, a vencedora desta aposta.”
“Irra!” Yumeko aplaude, levantando os punhos enquanto um sorriso fofo suaviza seus lábios. Mary não pode nem ficar brava por perder a aposta quando vê como a outra está feliz.
“Bem, parabéns.” Saotome diz, num tom meio divertido e meio sarcástico. Ela ainda não sabe se quer ser uma má perdedora ou não sobre isso.
“Obrigada, Mary-san. Você também se saiu muito bem.”
Jabami se aproxima de sua rival, agora com uma expressão mais pensativa no rosto. Isso faz com que todos os alarmes de Saotome soem em sua cabeça, deixando-a tensa logo de início.
“Então, agora, sobre o meu prêmio…” Os olhos de Yumeko com um lampejo de vermelho neles, e a curva de seus lábios sorridentes estão mais nítidos do que antes.
“Você... Você já sabe o que quer?" Mary se amaldiçoa internamente por seu gaguejo. Ela não deveria mostrar o quanto a outra a afeta.
"Sim." Jabami está tão perto dela que ela pode até sentir sua respiração esquentando seu nariz. "Eu quero um beijo!"
O cérebro de Saotome trava por um momento.
O quê.
" O quê ?" Ela perguntou, antes de voltar a seus sentidos. "Você fez uma aposta inteira comigo só para ter um beijo?"
Com a risadinha encantada de Yumeko, ela só conseguiu suspirar.
“Você sabe que pode simplesmente pedir, certo? Essa coisa toda de namoro não é apenas um novo rótulo em nosso relacionamento.” Ela comenta, cruzando os braços. O ridículo da situação ainda não tinha sido absorvido em sua mente.
“Mas então não seria tão divertido.” Jabami faz um biquinho, como uma criança indignada.
Suspirando novamente, Mary se resignou a isso.
“Bem, então venha pegar seu prêmio.” Ela abriu os braços para dar ênfase, e logo Yumeko estava novamente muito próxima dela.
Suas roupas ainda estavam úmidas, todavia isso não impediu Jabami de segurar sua namorada, deixando o calor de seus corpos afugentar o frio que ainda perdurava em suas peles. Seus dedos seguraram a bochecha de Saotome, enquanto sua outra mão estava em seu pescoço, acariciando os poucos fios dela ali.
O olhar que Mary lançava para a rival era tão suave e cheio de amor, que era uma pena ter que fechá-los só para dar um beijo. Entretanto Yumeko não podia se deixar parar por isso, mesmo que ela realmente quisesse continuar olhando para as expressivas íris douradas.
Elas logo estavam perto o suficiente para terminar o espaço entre seus lábios, suspirando contentes. Uma das mãos de Saotome apertou a curva da cintura alheia, enquanto a outra agarrou uma mecha de cabelo úmido e puxou. O suspiro que saiu de Jabami foi bonito, como sempre era, e a oportunidade que ela deu a Mary de colocar a língua dentro de sua boca não foi desperdiçada.
O beijo era doce e tinha gosto de vitória, assim como deixou as duas excitadas e quentes. Não houve nenhuma luta no gesto, era mais como se ambas estivessem acompanhando a virada de cabeças ou lambidas de lábios, na mesma batida e ritmo sobre essa dança em particular.
Elas estavam tão focadas em si mesmas, que foi um pouco triste para Ryouta, que só queria entrar no prédio novamente e talvez comer alguma coisa no refeitório. A chuva ainda não tinha parado e os ventos estavam frios e implacáveis, porém ele não podia deixar as meninas sozinhas ali.
“Vocês duas são tão más comigo.” Ele sussurrou, abraçando-se com mais força para manter seu corpo aquecido.
Ele iria esperar até que elas terminassem, então.