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Ashido enxugou o seu corpo sem cautela, cansada demais para prolongar aquela parte da sua rotina. Distraída, ela vestiu o short de algodão que pertencia a sua esposa ― as roupas imperiais eram sempre mais confortáveis de usar quando a intenção era descansar. O tecido macio não irritava a pele após o banho, o que tornava-o uma melhor opção do que as peças de couro que estava acostumada a usar.
As gotas de água que desciam, vez ou outra, pelo seu pescoço faziam cócegas. Ainda assim, Mina se recusou a secar seus fios rosados úmidos. Não por birra ou preguiça, mas sim porque gostava do simples hábito que havia cultivado com Uraraka durante o tempo que estavam juntas.
Ignorando o latejar de dor em seus músculos, a guerreira colocou uma blusa de pano leve que sequer sabia se estava limpa e pôs a toalha que tinha usado em volta do pescoço. Agora era a melhor parte do dia dela. Só de pensar no que viria já trazia um sorriso animado aos lábios da Ashido.
Saindo do banheiro sem hesitação, ela caminhou pelo pequeno corredor do chalé que dividia com Ochako. Era sempre maravilhoso ver a sua esposa sentada no pequeno sofá que tinham, esperando-a com um pente e um pote de óleo ao seu lado e o banquinho branco estacionado à sua frente.
Já fazia anos que aquela rotina havia sido estabelecida, e ainda assim, nenhuma das duas se cansava daquilo. Não seria errado dizer que, naquele ponto, tinha se tornado um singelo ritual entre ambas. Toda vez que Mina terminava de tomar banho, ela encontrava-se com a sua bruxinha e tinha seus cabelos penteados pela outra.
Muitos poderiam achar que era algo besta para ficar animado sobre, todavia a guerreira não ligava. Depois de tudo que passaram para poderem ficar juntas, o que faziam ali era apenas uma forma de se confortarem após um longo dia (ou semana). Era tudo o que precisavam para garantir que ainda estavam juntas.
Não querendo perder tempo, a Ashido logo se jogou no banquinho, deixando o seu cansaço a puxá-la até que estivesse sentada nele. O barulho abafado que fez com esse gesto chamou a atenção de Uraraka, que desviou os olhos brevemente do pergaminho que segurava para olhar as mechas rosadas de sua esposa.
— Seu banho hoje foi mais rápido do que o normal… — O tom pensativo dominava a voz dela. Os sons do papel rústico deixavam óbvio que ela estava o fechando, com certeza se preparando para iniciar a rotina delas. — Dia agitado?
Mina apenas balançou a cabeça, negando a pergunta, não percebendo que algumas gotas de água chegaram a acertar Ochako.
— Nah, apenas cansativo.
Ela escutou o murmúrio de confirmação que a outra fez, indicando que a bruxa já suspeitava do que Mina estava querendo dizer.
Assim que as pontas das toalhas foram retiradas de seus ombros, a guerreira se permitiu relaxar ao encostá-los nas pernas de sua esposa. O tecido macio tocava suas mechas úmidas e sua pele conforme Uraraka ia secando seu cabelo.
Conversas eram desnecessárias quando faziam aquilo. Não que isso fosse norma entre as duas — se estivessem no clima, era até natural que acabassem fofocando durante o processo. No entanto, normalmente tudo era feito no silêncio.
A parte de retirar o excesso de água era até que bem rápida; sua esposa enxugava os fios com paciência, sem a intenção de deixá-los totalmente secos. O óleo não tinha o mesmo efeito se os fios não estivessem um pouco úmidos.
Por isso, logo a Ashido sentiu a textura macia da toalha rastejando pela sua pele de forma agradável, até que não estivesse mais à tocando. O ventinho fresco que circulava pelo cômodo atingiu seu pescoço, a fazendo se arrepiar momentaneamente. O contraste entre o calor do corpo atrás de si e o clima menos aquecido da sala era reconfortante para ela — assim como a sensação de sentir o pente de madeira e dedos suaves tocarem seu couro cabeludo e suas mechas embaraçadas.
Uraraka penteava o cabelo de sua guerreira com uma paciência quase que religiosa, se permitindo verificar cada possível nó entre os fios e desfazê-los com maestria. Vez ou outra Mina sentia o familiar puxão em suas madeixas rosas, embora a prática tenha ensinado sua esposa o jeitinho perfeito de passar o pente em sua cabeça sem machucá-la.
Era difícil se manter acordada ao receber tanto zelo e carinho. Diante disso, Ashido sequer se forçava a deixar suas pálpebras abertas. Era muito melhor se imersar nos toques gentis de Ochako, mesmo que acabasse dormindo no colo dela no final do processo — e acabasse estragando o penteado que sua adorável esposa tinha resolvido fazer.
(Não que isso fosse algo ruim. A jovem bruxa normalmente não se importava, sabendo o quanto a esposa gostava de ser cuidada por si. O fato de Mina se permitir dormir enquanto Uraraka penteava seu cabelo era apenas um gesto de confiança. Saber que tal sentimento continuava a existir no coração cicatrizado da outra era bom. Isso significava que a guerra não tinha tirado tanto de Ashido quanto a jovem achava.
O único momento em que os cochilos chegavam a ser um incômodo era quando ambas estavam se arrumando pra sair. A bruxa não se importava de ter de refazer o penteado, ainda que chegar atrasada para os eventos e combinados não seja exatamente algo que ela goste.)
A guerreira escutou o som do pote sendo aberto, voltando sua atenção para o seu arredor. Ter voltado a consciência com certeza se devia a falta dos toques de sua amada. No entanto, nem precisou se preocupar muito com a ausência deles; dedos escorregadios mais uma vez estavam a passar por suas mechas rosadas, dessa vez com a intenção de aplicar o óleo neles.
Mina soltou um murmúrio de satisfação, se recostando ainda mais por entre as pernas de Ochako. Ainda era surpreendente para si como tinha conseguido manter a outra ao seu lado. Mesmo que não quisesse admitir, Urakaka tinha outras opções para namorar naquela turbulenta época. E, ainda assim, havia escolhido a guerreira bárbara do exército inimigo para se casar com.
Ashido duvidava que seu flerte fosse tão bom assim, no entanto, não deixava de se sentir sortuda por ter uma mulher tão incrível assim para chamar de sua esposa.
Foi ruminando sobre o passado que ela acabou se deixando embalar — tanto pelos seus pensamentos quanto pela música que sua bruxinha começou a cantarolar pouco depois — pelo sono, deixando a sua consciência ser arrastada para o agradável mundo dos sonhos.