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Ela ainda conseguia ouvir aquelas terríveis acusações. O ódio líquido corroía sua mente, fazendo-a acreditar nas mentiras que diziam-lhe. As lágrimas ardentes continuavam a deslizar pelo seu rosto, indomáveis. Apesar de desejar que aquilo continuasse no passado, continuava sentindo o aperto sufocante em seu peito.
Por que aqueles gritos enferrujados estavam afetando Himiko naquele momento? Já deveria ter superado isso. E, mesmo que tentasse se convencer daquilo, suas mãos não paravam de tremer. O ar parecia rarefeito, como se, repentinamente, ela estivesse localizada fora da órbita da Terra; sem oxigênio, precisando prender a respiração e preservar o pouco que tinha para continuar vivendo.
Toga só queria ser feliz, era pedir demais? O que, em sua insignificante existência, era maléfico e anormal ao ponto de precisar ser cortado para ela ter de ser aceita por outras pessoas? Não conseguia entender — simplesmente não fazia sentido!
Não era sua culpa ter nascido com aquele dom. O que poderia fazer se sua gengiva coçava para sugar? Sua pele pinicava, implorando para ser modificada, transformada, renovada. Sua garganta ficava seca, e a única coisa que parecia saciar sua sede era o sangue de alguém que considerava precioso. Como deveria lidar com aquele tipo de situação?
Ninguém nunca lhe deu uma resposta quando fez essa questão. Sequer tentaram entendê-la. Desde que Himiko pudesse ser normal, teria permissão para fazer parte de nós. Infelizmente, nem quando estava dentro do seu papel sua atuação parecia ser o suficiente para as altas expectativas que colocavam sobre si.
Era solitário existir daquela forma. A máscara invisível apertava seu rosto, as cordas em seus pulsos e calcanhares arranhavam sua pele, mas o pior era a sua língua, que vivia parando embaixo de seus caninos ao ter de dizer suas falas engessadas. Não parecia haver um final feliz para Toga.
Mesmo agora, após ter achado pessoas que se identificavam consigo e lutando por seu lugar no mundo — parecia que a única forma de sua história acabar seria com sofrimento e solidão. Afinal, quem que iria importar-se com o passado deprimente de uma vilã? Para os heróis, ela sequer tinha sentimentos. Era ridículo, hilário…! Era muito desumanizante.
Por isso, tinha decidido que não iria mais tentar mudar o desenvolvimento de sua história. Estava naquela batalha para ganhar, e só sairia dela vitoriosa… ou morta. No entanto, parecia que sua jornada estava longe de acabar. Himiko continuava sem entender o porquê não a deixavam simplesmente existir.
Por quê…? Por que aquela heroína estava fingindo se importar?
Se você ainda sentir vontade de falar comigo, nem que seja um pouco… Te darei o meu sangue pelo resto da minha vida!
O que teria ela a falar para uma boa cidadã? Alguém que sempre se encaixou, que nunca precisou sentir-se como Toga teve, aquela que podia ficar perto de sua paixão sem precisar ter medo de ser rejeitada… Não, não existia mais nada que elas pudessem conversar sobre.
E ela faria questão de mostrar isso para a outra. Inspirando fundo, Himiko tomou controle sobre sua respiração — e do seu coração despedaçado. Seus dentes rangeram antes dela abrir os lábios, permitindo-se gritar sua frustração para o mundo.
Aquela seria a luta que iria decidir quem deveria continuar a viver: heroína ou vilã? Independente de como fosse, só desejava uma coisa: que a melhor vencesse, afinal.
Eu quero falar contigo sobre romance, Himiko-chan!