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conversa atemporal

Summary:

No entanto, apesar de ter as suas irises ametistas nos kanjis escritos na folha, ela sentiu um peso surgir em seu ombro. De automático, a Shirai os tencionou, ficando rígida na cadeira em que estava sentada. Uma presença ao lado de seu rosto a fez sentir-se tentada a virar a cabeça para saber o que teria ali, porém ela não o fez.

— Está satisfeita agora de estar no meu lugar?

Yuyu tem uma conversa inesperada com alguém que não existe mais.

Notes:

o tema usado foi “você está feliz agora?”. fui tentada pela maya (que também escreve pra assault lily, recomendo ir olhar as fics dela também !!) pra fazer essa fic numa pegada mais triste, pois antes era pra ser algo mais fluff (mas amei o resultado mesmo assim xD adoro fazer a yuyu sofrer, aaa)

pra ler essa fic sem ter visto a obra precisa no mínino saber essa informação aqui, pras coisas fazerem sentido:

a divisão de escola do ensino médio Yurigaoka tem uma tradição oficialmente reconhecida onde uma estudante mais velha faz uma jura de irmandade com uma estudante mais nova, na qual as duas prometem apoiar e proteger uma a outra. A estudante mais velha é conhecida como a Schutzengel (anja guardiã em alemão) e a mais nova é conhecida como a Schild (escudo em alemão). O próprio juramento é conhecido como Juramento de Schutzengel.

eu traduzi uma parte da wiki de assault lily que tá em inglês. recomendo dar uma olhada lá se quiser saber um pouco mais (ou pode me perguntar também ^^); apesar que é mais fácil ver o anime e depois jogar o jogo xD

sem mais delongas, boa leitura !!

(See the end of the work for more notes.)

Work Text:

A luz que adentrava pelos vidros da janela era alaranjada, deixando o ambiente do quarto confortável e tranquilo. Já estava, provavelmente, a mais de uma hora traçando os kanjis do novo treinamento de Riri, sua adorada schild. Os cantos de seus lábios se ergueram de leve num sorriso ao lembrar da jovem de mechas rosadas que sempre portava uma expressão ingênua. Muita coisa havia mudado para si após ter conhecido a Hitotsuyanagi — tinha deixado de ser uma lily solitária que batalhava sozinha e se isolava das outras para ter um pacto de irmandade e estar numa legião composta de meninas peculiares. E, ao contrário do que imaginava, estava até gostando disso.

Soltando um suspiro resignado, a Shirai balançou a cabeça com suavidade, tentando afastar com delicadeza o sentimento caloroso que dominava o seu coração. Estava de novo se distraindo ao invés de terminar o que deveria fazer. Não satisfeita com o que tinha planejado até agora, resolveu passar suas irises ametistas pela folha que escrevia para a reler. Focada como estava, sequer percebeu que tinha passado os olhos por um kanji que usava o mesmo traçado que o do nome dela, ainda que o significado fosse diferente. E, estando sozinha — já que sua colega de quarto estava em uma missão e só voltava no dia seguinte — não teria ninguém para avisá-la disso. Por isso, foi uma surpresa para Yuyu quando o silêncio, antes tão acolhedor e calmo, fora quebrado de repente.

— Você está feliz agora?

A voz que chegava em seus ouvidos era extremamente familiar. Seria mesmo essa a voz dela? Assim que esse pensamento cruzou sua mente, ela parou de respirar. Não podia ser. Um aperto firme se fez presente em seu peito, a sufocando. Mesmo que não tivesse certeza… escutar aquele timbre sereno, antes, tinha sido algo que havia amado fazer. Era muito semelhante para não ser. Ainda que soubesse que sua verdadeira onee-sama estava morta, a Shirai não conseguiu relaxar diante ao que tinha escutado.

Por isso, se manteve virada para a janela. A luz que passava pelos vidros agora ganhava um tom rósea, dando uma iluminação suave que não combinava com as emoções turbulentas que sentia dentro de si. Yuyu apertou a lapiseira que segurava entre o indicador, o médio e o polegar, como forma de se manter presente no momento. Não poderia se deixar vacilar por seus sentimentos oscilantes, não ajudaria em nada olhar pra trás e confirmar se a outra estaria atrás de si — como antes já tinha chegado a ver — ou se apenas o esperado vazio seria o que enxergaria. Com essa grande dúvida a atormentando, fazendo seu coração ser pressionado com força por seus sentimentos ainda vivos, era melhor não saber o que poderia descobrir; estar eternamente entre a verdade e a ilusão era muito mais confortável, já que não sabia qual opção seria pior como realidade.

No entanto, apesar de ter as suas irises ametistas nos kanjis escritos na folha, ela sentiu um peso surgir em seu ombro. De automático, a Shirai os tencionou, ficando rígida na cadeira em que estava sentada. Uma presença ao lado de seu rosto a fez sentir-se tentada a virar a cabeça para saber o que teria ali, porém ela não o fez.   

— Está satisfeita agora de estar no meu lugar? — As palavras cruéis preencheram seu ouvido, que foi agraciado por escutar a voz aguda suave, mas gélida, que a outra usou. Yuyu não sabia dizer se tinha sido impressão dela ou não, todavia tivera a tênue sensação de ter sentido uma leve brisa na pele de sua orelha. Embora estivesse com essa dúvida, no momento em que processou o que lhe tinha sido dito, ela sentiu a pressão em seu peito aumentar ainda mais, a deixando sem ar, o que a acabou fazendo também franzir as sobrancelhas.

Não. Por que estaria sentindo-se assim? Aquilo nunca foi o que desejava. Ela não conseguia entender as acusações que sua onee-sama estava fazendo. Resistindo à vontade que parecia lhe alfinetar como pequenas e finas agulhas por sua pele, a Shirai teimosamente manteve seus olhos fixados na folha à sua frente. Os kanjis que havia escrito pareciam borrados — teria de apagar e reescrever tudo de novo depois. Inspirando fundo, ainda que com dificuldade por causa do aperto em seu coração, tentou ignorar o que estava sendo falado para si. Se tivesse sorte, sua falta de reação faria a outra desaparecer no ar da mesma forma como tinha acontecido naquela batalha em Koshu.

Pelo menos, esse tinha sido seu plano inicial. Entretanto, sua atitude não foi o suficiente para fazer a voz alheia parar de preencher o cômodo.

— Agora que você tem uma adorável schild, então não precisa mais de mim — Uma risadinha depreciativa seguiu após essas palavras, deixando evidente o quanto a dona delas se sentia. — Isso não é exatamente o que você queria?

Suas pálpebras se arregalaram suavemente e suas irises ametistas foram direto para a vidraça da janela. Yuyu sentiu uma lágrima deslizar por sua bochecha, no entanto, sequer percebeu que a tinha deixado escapar — estava com sua atenção focada na mulher refletida no vidro, a qual parecia estar ao seu lado. O cabelo acinzentado, curto, quase não aparecia devido à luz rosada fraca que passava por ali. Sendo o quarto em que a Shirai estava mais escuro do que o ambiente lá fora, alguns detalhes do uniforme negro que a outra usava não estavam bem definidos, assim como a expressão em seu rosto. 

Ao invés de ver as irises âmbar pela figura do espelho, o que tinha em seu lugar era uma sombra deformada preta; o formato era desuniforme, mas pegava da testa até o nariz, atrapalhando a visão de Yuyu sobre a possível figura de sua onee-sama. Ela sentiu os cantos dos olhos ardendo ao perceber que a imagem estava incompleta, o que intensificou o aperto que sentia em seu coração. Sequer sabia se o contorno triangular do queixo que conseguia ver — ainda que estivesse muito fraco para ela discernir a face alheia além dos lábios finos — era realmente parte da face da mulher que um dia tinha tanto amado. 

Engolindo em seco, a Shirai tentou ignorar o desconfortável nó que existia em sua garganta. A lapiseira em seus dedos mais uma vez foi apertada, dessa vez como forma de suavizar a tensão que estava sentindo dentro do próprio peito. Nenhum pensamento passava por sua cabeça. Sabia que tinha de fazer algo, mas não tinha ideia do que. Uma sensação gélida surgiu em seu peito e foi se alastrando por seu corpo, a fazendo ficar ainda mais consciente de que fazia um tempo que Mizusu tinha falado consigo. Yuyu precisava responder.

Ao movimentar os lábios, os sentiu secos e pegajosos. Por algum motivo, ela teve a impressão de que havia sido mais difícil abri-los naquele momento do que em qualquer outro em sua vida. Assim que tentou falar algo, percebeu que o único som que saiu de sua garganta foi um gemido doloroso. Insatisfeita, a Shirai fechou a boca e tensionou a mandíbula, ignorando o calor desconfortável que passou por suas bochechas.

Não querendo desistir, ela fechou as pálpebras e deixou a escuridão dominar sua visão. Ao inspirar fundo por alguns segundos, conseguiu sentir o nó em sua garganta se desfazendo aos poucos, aliviando sutilmente a dor ali presente. Estando mais centralizada, decidiu que agora conseguiria responder.

Ao as abrir, suas irises ametistas reparam que o céu já estava começando a ganhar uma tonalidade púrpura. Franzindo as sobrancelhas, Yuyu percebeu que o vidro da janela já não refletia imagem nenhuma, um detalhe que gelou seu coração, o enrijecendo. Sentindo suas batidas cardíacas pesarem no peito, ela lentamente virou a cabeça para o lado.

E tudo o que podia observar ali era sua cama, bem feita como tinha deixado de manhã. Não existia nenhuma mulher de cabelos acinzentados, com irises âmbar desapontadas e uma expressão vazia de emoção no rosto a esperando. Não existia mais voz a pressionando para responder, seu tom gélido que antes ressoava no quarto agora encontrava-se ausente. Não existia mais presença ao seu lado, fazendo sua pele ser picada por mil agulhas pequenas, mas firmes. Tudo o que existia naquele cômodo além dela era… o que já estava lá desde o início.

Sua visão embaçou automaticamente. A dor que pressionava seu peito ficou mais pesada, tornando-se insuportável. As lágrimas quentes que deslizavam por sua face faziam os cantos de seus olhos arderem. Ela sentiu o nó se apertar em sua garganta, ficando grande o suficiente para a fechá-la, a deixando com dificuldade de respirar. A Shirai encolheu os ombros, como se aquilo fosse a defender da dor que sentia, e levou a mão livre em direção a sua blusa — seus dedos se apertaram em volta do tecido de algodão, bem em cima de onde seu coração ficava. Entretanto, eles não tiveram êxito em aliviar o desconforto que estava sentindo dentro de si.

Onee-sama… não tem como eu estar feliz com algo que nunca desejei.

Notes:

obrigado a oxydervin por ter betado a fic !! foi bom cê ter dado uma olhada pra conferir se não tinha nada errado ou estranho (e tinha) pra eu ajeitar !!

e obrigado por terem lido !!