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sua companhia é o suficiente

Summary:

— Ah, princesa... sabia que a acharia por aqui — A voz suave, num tom que misturava cansaço e tranquilidade, adentrou os seus ouvidos. Embora saber da presença de sua cavaleira tenha-na trazido conforto, ainda que por pouco tempo, a sua mente bagunçada, Aida não se virou para a recepcioná-la.

Sentia que precisava encarar a morte de cada um de seus leais súditos, por isso manteve suas irises castanhas cravadas na cena deprimente à sua frente. Não conseguia parar de pensar na família das pessoas que já não mais continuariam a história de suas vidas — tinha visto, com atenção e afeto, como parentes, crianças, amantes e amigos tinham se despedido nas lápides enquanto o funeral estava acontecendo. Os murmúrios, as lágrimas, as expressões de dor e perda; todo o sofrimento que viriam a sentir durante a continuação de seu dia a dia eram muito mais amplo e profundo do que a dor que assombrava seu peito.

Notes:

com o prompt A faz companhia para B do dia 24, admito que trapaceiei um pouco poruqe já tinha essa ideia rascunhada, só precisei desenvolver um pouco pra escrever xD uma continuação para um au que escrevi no ani e que me pareceu se encaixar bem com esse plot... minha segunda fic triste seguida socorro... ainda vou escrever sáficas felizes de novo, juro !!1 irei tentar !!

(See the end of the work for more notes.)

Work Text:

Apesar de ser um fato inquestionável, era fácil de esquecer que existe uma diferença entre saber algo e vivenciar; a linha que separa esses dois aprendizados é tão tênue que quase não dá para enxergá-la. A Aida tinha total consciência de que numa guerra sempre haverá perdas — seja para o lado que venceu ou para o que foi conquistado. Mesmo assim, durante a fase de planejamento, onde tudo se resume a papéis, números e desenhos, era tão ridiculamente simples perder a visão de que estavam falando sobre vidas e não peças num mapa pouco confiável.

Logo, quando chegava o momento necessário para lidar com as perdas, essa verdade abruptamente lhe estapeava na face na forma da ausência de seus companheiros de batalha. Quando havia decidido recuperar o seu reino, Riko sabia que nem todos que estavam sob seu comando iriam continuar consigo ao final da guerra — seria ingenuidade demais pensar dessa forma. Por isso, não lhe iria surpreender se acabasse com menos cavaleiros do que no início. Não quer dizer que experienciar esse momento não seja algo completamente diferente do que estava esperando.

Olhando agora para os túmulos cavados, com lápides de pedras e terra remexida — já que tinham acabado de enterrar os poucos corpos que conseguiram recuperar do campo de batalha —, a jovem só conseguia sentir seu coração trêmulo diante das pessoas que não mais estariam a sua volta, vivenciando suas conquistas e perdas, vendo o reino de Seirin se recuperar. 

— Ah, princesa... sabia que a acharia por aqui — A voz suave, num tom que misturava cansaço e tranquilidade, adentrou os seus ouvidos. Embora saber da presença de sua cavaleira tenha-na trazido conforto, ainda que por pouco tempo, a sua mente bagunçada, Aida não se virou para a recepcioná-la.

Sentia que precisava encarar a morte de cada um de seus leais súditos, por isso manteve suas irises castanhas cravadas na cena deprimente à sua frente. Não conseguia parar de pensar na família das pessoas que já não mais continuariam a história de suas vidas — tinha visto, com atenção e afeto, como parentes, crianças, amantes e amigos tinham se despedido nas lápides enquanto o funeral estava acontecendo. Os murmúrios, as lágrimas, as expressões de dor e perda; todo o sofrimento que viriam a sentir durante a continuação de seu dia a dia eram muito mais amplo e profundo do que a dor que assombrava seu peito.

Ter de fazer um discurso no enterro de preciosos e honrados cavaleiros foi difícil. Sua garganta tinha se fechado várias vezes por causa de uma sensação esquisita de ter um nó ali dentro, a dificultando em respirar e falar quando mais precisava. Mesmo assim, a princesa lutou contra esse empecilho, necessitando mostrar o quanto se importava com quem tinha perdido — era crucial que seus súditos soubessem que ela não se esqueceria das perdas que resultaram na sua vitória, que se lembraria de cada um ao ascender ao seu legítimo trono. Enquanto o povo tivesse o conhecimento de que estava ali por eles, sabia que conseguiria fazer um bom reinado mesmo que cometesse erros pelo caminho.

— Riko… — O tom de voz de Momoi era baixo, no entanto, soava mais perto do que quando a tinha escutado pela primeira vez. Aida piscou algumas vezes, devagar, e sentiu seus olhos arderem. Gotículas de água escorriam por sua face, todavia sua atenção estava no toque frio de uma palma que estava em seu ombro, confirmando que sua cavaleira estava agora atrás de si.

Apesar da atual proximidade, a princesa conseguia perceber que ainda existia uma pequena distância entre seus corpos. Levantando uma de suas mãos até seu rosto, ela limpou as lágrimas que o manchavam — não conseguia entender o porquê estava assim. Não tinha o costume de chorar. Sendo uma membra da realeza, desde pequena tinha sido ensinada a parecer forte na frente dos outros. Entretanto, ficava o questionamento de como alguém não se sentiria triste com a perda de pessoas que até pouco tempo atrás estavam ao seu lado, lutando pelo mesmo objetivo.

Embora fosse óbvio que a Satsuki quisesse confortá-la, não tinha-se muito o que ela pudesse fazer para conseguir esse resultado. A própria Aida não fazia ideia de como recuperar o controle das próprias emoções, por isso, não se surpreenderia se sua adorada cavaleira acabasse se frustrando ao tentar lhe ajudar. Mesmo assim, a princesa apreciava a presença alheia. Levando a mesma mão que limpou sua face em direção aos dedos frios em seu ombro, ela os segurou com carinho e um breve aperto, indicando que estava junto com Momoi no presente, recebendo outro de volta.

Embaixo da sua palma, o calor que compartilhava com a pele alheia era agradável. Esse sentimento afável gerava uma efêmera distorção dentro de si, que tinha suas irises castanhas cravadas nos túmulos que continham flores deitados na terra fresca — algumas estavam um pouco esmagadas, distorcidas, outras exibiam ausência de pétalas; poucas estavam inteiras em sua beleza natural — ao que a companhia que tinha consigo se mantinha sólida. Um leve tremor apossou-se do peito de Riko, amplificando a dor localizada em seu coração. O que ambas observavam eram resquícios de pessoas, histórias que, apesar de ainda terem muitas páginas a serem escritas, permaneceriam incompletas. Lápides que agora marcavam rostos que nunca mais veria, mesmo que ainda fosse possível ver traços familiares em descendentes e familiares; não chegaria nem perto de ser a face de quem haviam perdido, por mais que fizesse lhes lembrar da pessoa.

Soltando um suspiro pesado, a princesa se questionava se algum dia alguém chegaria a remoer as mesmas ideias que hoje estavam rondando por sua mente quando fosse o seu corpo a ser enterrado num caixão. Um suave toque em seu ombro a trouxe de volta para o presente — no mesmo que segurava a mão de sua adorada cavaleira, um selar de lábios carinhoso, cauteloso e intenso tinha sido deixado em sua pele morna. O gesto afetuoso tinha sido um jeito da Satsuki de a lembrar que não estava sozinha naquele momento. O ar estava ficando mais fresco, devido a retirada dos raios solares do local, já que o sol estava começando a se pôr. Observando o ambiente ficar mais deprimente, a Aida conseguia admitir que não estava bem.

Entretanto, a princesa sabia que aquela fase de luto profundo seria passageira — o pesar não iria embora, todavia. Ele permaneceria consigo, se incorporaria em seu cotidiano, seus hábitos e pensamentos; iria transformar-se em parte de si, algo que carregaria até o final de sua vida. Ainda assim, Riko não duvidava de que, no futuro, ela ficaria bem.

Notes:

deixo aqui meu tumblr e feliz femslash february !!

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