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Ela ainda se recordava, com um calor afetuoso que dominava seu peito enquanto sentia uma pontada de dor no coração, do juramento que tinham feito sob a luz acinzentada da lua. No meio da neve, com os ventos gélidos tornando suas faces avermelhadas e sorrisinhos excitados, ambas eram apenas crianças quando isso aconteceu. Ingênuas, pela pouca experiência que sua idade de um dígito lhes dava, e ambiciosas o suficiente para fazerem travessuras às escondidas. Pouco sabiam da vida ainda; o futuro que os adultos tanto falavam sobre era apenas um grande espaço em branco para as duas, cheio de possibilidades e descobertas.
Por isso, tinham cometido um erro: tinham feito um juramento sob a Lua. Com a coragem de uma criança que não sabe o que é perder algo importante, a lâmina da adaga — que tinham furtado do irmão mais velho de Katara — cortou a pequena palma de suas mãos numa linha profunda. Elas trocaram um aperto entre si, animadas; o líquido rubro que saia do ferimento, viscoso e ardente, misturou-se por entre suas peles suaves, exalando vida. Tiveram certeza, naquele momento, que suas almas estavam entrelaçadas.
Só tinha um problema — este que, obviamente, não tinham previsto — e era que, a Lua, assim como as estações, mudava. Ela é composta por fases, da mesma forma como um animal era, como a vida de uma mulher também era. E, por mais que tivessem tentado correr ou lutar contra, o destino as empurrou bruscamente na direção que tinha traçado para elas. Ao observar Katara passar segurando a pequena mão de uma criança com os traços dela, agora, diante de si, Yue suspeitava que tinha sido melhor desse jeito.
Entre a infância e a maturidade, os tempos se transformaram de um jeito absurdo; estavam vivendo, atualmente, num pós-guerra onde muito havia se perdido durante o tempo que tinha-se passado. Ela duvidava que, sendo ambas como eram, o amor que sentiam pela outra teria sobrevivido às batalhas e desafios colocados em seus caminhos. E, se fosse honesta consigo mesma, estava tudo bem — mesmo que estivessem as duas casadas com outras pessoas. Isto não era um obstáculo.
Afinal, ela sabia; ainda que, naquele momento, estivessem vivendo em percursos separados, voltariam a se cruzar de novo mais uma vez. Pois, apesar da lua ser composta de fases, estas eram cíclicas. E, em algum ponto no tempo, o juramento que fizeram sob a luz divina iria ser realizado — mesmo que não chegasse a ser ainda naquela vida.
