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Irises turquesas observavam, com diligência, a pequena extensão de pele do antebraço que segurava em sua mão. A manga longa do blazer branco estava dobrada, até o cotovelo, facilitando a sua visão da cicatriz de mordida perto do pulso, feita por alguém que não mais existia naquele mundo. Seu polegar traçava, com ternura, o formato dos dentes de outra pessoa; a pele marcada, embora não por si, era preciosa para Ena.
Tinha uma história inacabada ali, à mostra, para quem tivesse paciência e interesse em descobrir — e a Banshoya, ao perceber que não seria intrusivo ou de mal gosto, não hesitou em questionar na primeira oportunidade que teve. O sutil feromônio que estava surrupiando o cômodo era distintamente duplo — mesmo difícil de reconhecer onde um aroma começa e outro termina, era impossível assumir que o perfume agridoce seria o natural da Serizawa para quem soubesse o mínimo possível sobre subgêneros. Tendo conhecimento sobre o assunto, era fácil para ela compreender a tragédia que a alfa tinha vivido sem precisar de muita informação.
Parando para refletir… Talvez tenha sido esse apenas mais um dos vários motivos pelo qual tinha se atraído por Chikaru.
— Estaria eu te deixando desconfortável…? — A Banshoya questionou, num tom cauteloso, ao sentir o sutil tensionamento no pulso que segurava. Suas irises turquesas se levantaram da pele que acariciava, passando pelo uniforme que a outra usava até chegar na expressão rígida e parar nos olhos azulados da mais alta.
Dedos finos e longos se curvaram e foram dirigidos em direção aos lábios da Serizawa, que desviou o olhar ao que suas bochechas coloriam-se num tom róseo. Um breve balançar de cabeça seguiu essa ação.
— Não, não é isso… — As sobrancelhas de Ena franziram-se, um pouco preocupada com a reação da parceira. — É que apenas… faz cosquinhas…
Por um singelo momento, a face da beta ficou inexpressiva. Ao que a Banshoya processou o que tinha acabado de escutar, seus lábios se curvaram num sorriso gentil, satisfeito.
— Então não tem nenhum problema que eu a esteja acariciando?
O rubor, bem marcado no rosto de Chikaru, se aprofundou do rosa para vermelho. Apesar disso, as irises azuladas dela voltaram a se encontrar com as de Ena, e sua mão retirou-se da frente de sua boca.
— Por favor, não brinque dessa forma comigo — A Serizawa respondeu, sendo ela agora a franzir as sobrancelhas.
O sorriso na face da beta se suavizou para algo mais afetivo. Ainda segurando o pulso dela, não tendo largado-o em nenhum momento, a Banshoya levou seus dedos livres até tocarem a bochecha alheia. A pele macia sob a ponta de seus dígitos estava quente, entretanto isso não a impediu de deslizá-los até que sua palma estivesse segurando o rosto da outra.
— Não irei, se não te agrada — Sua voz era um sussurro amigável, um pedido implícito de perdão por ter deixado a alfa desconfortável. Lentamente, a mais baixa se aproximou ao que sentia seu coração acelerar em seu peito, trazendo junto um calor que estava lentamente se alastrando dali para o resto de seu corpo. — Mas espero que eu ainda possa te pedir por um favorzinho.
O olhar desconfiado que Ena recebeu da Serizawa era fofo. No entanto, conforme estava sendo observada, a expressão na face alheia foi se atenuando.
— Acho que sei o que você quer — O timbre de Chikaru continua uma leve dose de brincadeira. Acompanhado de sua fala, o sorriso que curvava os lábios dela era resplandecente; a beta segurou a respiração ao vê-lo, incrédula por um breve momento. Era difícil ver aquele tipo de felicidade no rosto da outra.
Ainda desatenta, a Banshoya respondeu com um som questionador. Seu coração batia com tanta intensidade que, se estivesse mais atenta, duvidaria se estaria tendo problemas de saúde. Ela viu a alfa terminando de se aproximar de si, e, no automático, fechou suas pálpebras.
O tenro selo que recebeu tinha um sabor adocicado que a lembrava de sua amada fruta, a manga. Não fazia muito sentido, afinal, nenhuma das duas a tinha comido — a magia de associar o beijo da Serizawa com sua comida preferida provavelmente estava no fato de que gostava das duas. Foi breve, apenas um toque lento e agradável entre os lábios delas; o suficiente para que Ena tivesse certeza que continuaria tendo Chikaru como sua parceira por um longo tempo, com marcas de um amor enterrado incluído.
— O beijo foi bom, sim… mas eu ia te pedir pra ir em um encontro comigo, na verdade.
— Eh?
Ver a coloração avermelhada na face da alfa era recompensador. Ela mal esperava as próximas oportunidades para realizar tal feito de novo. E, se dependesse dela, seriam muitas.
