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as palavras que não consegui dizer

Summary:

— Finalmente consegui capturar o leão covarde. — A falta de emoção na voz da mais nova arrepiou os fios de cabelo no pescoço de Shizuha.

Aquilo não era um bom sinal.

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Work Text:

O que chamou atenção da Shizuha primeiro não foi a lâmina da espada apontada no seu rosto ou as várias armas apontadas em sua direção. Não, após retirarem a venda de seus olhos, o que logo tomou seu foco foi tamanha dor que estava selada nas íris esverdeadas de sua captora.

Estando amarrada na pilastra com cordas grossas e pinicantes, não tinha muito o que a ex-vilã poderia fazer para tentar aliviar o sentimento que residia naquele olhar. Sua língua parecia um peso desnecessário dentro de sua boca, a impedindo de falar — não que soubesse quais palavras dizer, afinal seu cérebro também estava silencioso no momento, ainda em choque diante ter sido pega pela outra.

Embora Nana usasse uma máscara sem expressão no rosto, — livre de qualquer ruga emocional e com seus lábios relaxados em uma linha ao invés de tensionados ou curvados para baixo com toda a frustração que a Kocho sabia que ela sentia no momento — era óbvio para si que aquela confrontação estava custando a mulher à sua frente.

— Finalmente consegui capturar o leão covarde. — A falta de emoção na voz da mais nova arrepiou os fios de cabelo no pescoço de Shizuha.

Aquilo não era um bom sinal.

Tendo sido aliada da Daiba quando ainda era uma vilã, ela aprendeu a reconhecer quando a outra mulher estava prestes a fazer algo que acabaria machucando não só a quem havia lhe ferido, como também a si mesma. Afinal, a Kocho passou tanto tempo com ela dividindo as vitórias, as perdas e os momentos de vulnerabilidade que não era surpreendente que ambas tivessem tido uma certa intimidade entre elas.

E não tinha sido exatamente esse o motivo dela ter traído Nana? O medo do que estava começando a crescer entre elas, a forma como um toque não era mais apenas um peso em sua pele, como também um calor que se alastrava por si até se realocar em seu peito. Cuidar de um ferimento não era mais apenas garantir que a outra não seria um fardo, e sim uma forma de ter certeza que ainda estariam juntas no dia seguinte, que não seria necessário se preocupar em ficar sozinhas mais uma vez.

Um beijo não era mais sobre preencher o vazio e a matar o desejo do corpo de ter algum tipo de afeto naquele mundo tão cruel e frio que só sabia puxá-las para o chão, as usar e bater até que a chama da esperança em seus peitos se apagasse. Não, um beijo era sobre batidas cardíacas desreguladas, uma sensação de pertencimento e calor dentro do peito. O gesto para elas era como ter um pequeno momento de paz em uma vida áspera e agitada que só sabia demandar mais e mais das duas.

E Shizuha temia isso. Ela não tinha coragem para ultrapassar a ponte do relacionamento delas, tinha medo do que aquilo estava se transformando e não sabia se gostaria de conhecer uma nova versão de si própria.

E por causa disso, acabou machucando a pessoa que lhe era mais importante.

Lágrimas já borravam a visão da Kocho só de observar a outra. Sua garganta doía, com um peso apertando ali, deixando a tarefa de falar ainda mais difícil do que já era. Ela tinha tantas coisas que queria dizer a Nana, as palavras que precisava pôr para fora do peito e as confissões que sabia que a mais nova precisava escutar.

Ao lhe ver chorando, a Daiba soltou um som brando, como se estivesse tentando acalmar uma pequena criança.

— Não precisa ter medo de mim. — O tom de voz dela ainda estava neutro, porém ela abaixou a sua katana enquanto se aproximava da mais velha. — Não pretendo te machucar… Muito.

Shizuha balançou a cabeça em negação. Não era aquilo que estava sentindo, Nana estava a entendendo errado! Ela não estava com medo naquele momento, estava frustrada consigo. Após a separação delas, não teve um dia em que a Kocho não pensasse na outra e se arrependesse da decisão que tinha tomado.

Ela sequer a culpava por querer vingança —sendo sincera, estava até aliviada em vê-la novamente mesmo que aquele encontro significasse sua morte. Afinal, ela merecia sofrer a justiça da Nana, essa era a realidade.

Se ao menos conseguisse falar, Shizuha passaria pelo julgamento sem arrependimentos.

Ela escutou a outra chiando baixinho, perto do seu ouvido. Isto a trouxe de volta à realidade, onde percebeu que tinha um toque lento e cauteloso em seus lábios. O indicador de Daiba estava se movimentando de forma circular e lenta, um velho hábito da mais nova que fez com que mais lágrimas deslizassem por suas bochechas.

Da mesma forma que era calmante, também era agridoce. Nana costumava fazer aquilo quando ambas estavam na cama, muito cansadas para poderem fazer algo a mais e ao mesmo tempo sem sono o suficiente para simplesmente irem descansar.

Ela nunca entendeu exatamente qual era a motivação da outra em fazer aquilo, todavia nunca a impediu também.

Se ao menos conseguisse dizer o que sempre esteve escondido nos confins de sua mente, desde aquela época…

Não demorou muito para o dedo de Nana descer pelo seu rosto, parando em seu queixo para o segurar e levantá-lo, finalmente tomando os lábios de Shizuha. O toque, ainda que singelo e superficial, foi como voltar para o lar após muito tempo na rua. Ainda que o gesto naquele momento fosse frio, calculado e sem emoção, o calor que a Kocho sentia no peito era o mesmo de quando ainda tinha a outra ao seu lado.

No momento em que ela ofegou, a Daiba se afastou e fixou um olhar sem brilho em si. O desespero que começou a se acumular em seu peito foi forte o suficiente para superar a dor em sua garganta, fazendo com que conseguisse clamar o nome dela mais uma vez.

Todavia, Nana já estava se virando e já tinha dado o sinal para um de seus subordinados tomarem a iniciativa. Não demorou muito antes do primeiro golpe vir, retirando o ar de si e sua última oportunidade de conversar.

Eu te amo.

São essas as palavras que nunca seriam ditas, assim como proferiu a Estrela.

Notes:

eu escrevo UMA shizunana pra frontier week em inglês e de repente esse universo (e ship) quer me deixar em paz.

sinto muito a quem veio ler isso aqui, é nós.

also finalmente acabei os prompts de beijo da maya, weee !!!

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