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Os beijos da Nana eram mornos. Eles nunca faziam a respiração de Shizuha ficar presa em sua garganta ou o seu coração pular uma batida. No entanto, ainda era bom ser beijada pela outra, sentir os lábios dela em sua pele ainda que a Kocho não pudesse sentir o calor pulsando ali.
O toque da Daiba também quase nunca chegou nela, sempre a fazendo sentir uma pressão ali, porém nunca reconhecendo isso como algo a mais do que era: dedos acariciando sua mão, uma palma quente em seu pescoço, lábios macios em suas bochechas.
Talvez tenha sido a falta de algo em seu peito que tornou tão difícil para a Shizuha agir de forma apaixonada pela Nana. Suas palavras nunca pareciam reais em sua língua, vazias dos sentimentos que colocariam algum tipo de temperatura nelas — o amor que faria isto ter um significado, que as encheria com cuidado e preocupação que ela realmente não sentia pela outra.
Shizuha sabia que era errado persuadir a Daiba daquele jeito, todavia o que ela poderia realmente fazer? Ela não era uma heroína de qualquer maneira, então brincar com as emoções de alguém não estava assim tão longe do que as pessoas normalmente esperavam dela.
Ela queria alguém para ter ao seu lado, para abraçá-la e dizer que tudo iria sair de acordo com o que ela havia planejado. Mas ela não podia ter quem ela queria, então Nana era a melhor opção para isto. Mesmo que não a amassasse como Shizuha dizia amar.
Ainda que isso significasse que ela perderia a única pessoa que queria estar com ela sem mudar nada em si mesma.
Era injusto e malvado, a Kocho não iria negar. Todavia também era tudo que Shizuha sempre foi. E embora as heroínas de Frontier quisessem se enganar e agir como se ela ainda pudesse ser salva, ela sabia melhor do que isso.
Ela era uma vilã. Não porque o mundo era um grande criminoso e a machucou ou quaisquer fossem as mentiras que Aruru e Lalafin contaram a si mesmas, e sim porque ela escolheu ser assim.
Ela não queria que dissessem-na o que fazer, não queria atender as expectativas das pessoas sobre ela, não queria apenas ser um belo rostinho com talentos ocultos apenas para que os outros pudessem se sentir melhor. Shizuha queria estar ali, queria gritar e ser ouvida, sentir e ser vista, ser odiada por pessoas invejosas e ciumentas enquanto também seria amada por aqueles que a viam.
E era muito egoísta da parte dela querer isto. Ela sabia disso, tinha certeza desse fato, e era por isso que ela não poderia se permitir ser completamente feliz com suas escolhas. Porque o seu egoísmo não parou aí, não, ela teve de se apaixonar por uma das heroínas e teve de querer tê-las ao seu lado também.
Porém Shizuha não poderia ter elas ou o seu amor. Não se ela não quisesse se adaptar ao que as heroínas de Frontier queriam dela, não se ainda quisesse fazer as coisas do jeito dela.
Por isto a Kocho contentou-se com a Nana, tendo plena consciência de que era uma questão de tempo até que a perdesse. Porque enquanto ela não poderia dar seu coração e todos os sentimentos bons e confusos para a outra, ela ainda era gananciosa o suficiente para aceitar e banhar-se em todo o amor, cuidado e suavidade que a Daiba lhe dava.
Era a triste, amarga e frustrante verdade que ela não podia negar.
Kocho Shizuha era uma vilã. E como uma, estava destinada a cair sozinha algum dia.