Sorry, you need to have JavaScript enabled for this.

Actions

Work Header

a desordem na mente da caçadora

Summary:

Ela viu o canto dos seus lábios se erguerem levemente para cima, num gesto cínico. Aquele pensamento tinha lhe feito sorrir, todavia não sentia uma gota de alegria em seu peito.

Sim, com certeza, sua antiga versão estaria se fazendo de útil.

Shizuha reflete sobre sua atual situação com amargor, e sem intenção, acaba concluindo algo que mudaria sua vida.

Notes:

o tema usado foi lealdade. de início talvez não faça sentido, mas ao chegar ao final da fic vai fazer !!

eu gosto muito desse au. (admito que parte dele existir é para eu poder criar mais fics desse ship 🤭🤭🤭🤭🤭)

e a lore segue sendo levemente... evasiva !!

espero que gostem mesmo assim 😊😊

(See the end of the work for more notes.)

Work Text:

Uma íris castanha opaca encarava a imagem espelhada à sua frente. A expressão apática e vazia no rosto refletido não lhe assustava, muito menos o excesso de bandagens acinzentadas que cobrem o lado esquerdo de sua cabeça. Shizuha sentia-se dopada, ainda que não tivesse tomado nenhum remédio para diminuir suas emoções.

Pelo vidro do espelho ela podia ver suas mechas embaraçadas, os fios azulados parecendo quase pretos após tanto tempo sem lavá-los. Sua pele estava pálida, definitivamente por não estar saindo de casa — não que tivesse motivo, tendo recebido férias forçadas da organização.

Ela duvidava que não acabaria sendo demitida após se recuperar. Se é que iria melhorar.

Afinal, o estado de sua visão no lado esquerdo era… indeterminado. As enfermeiras, mesmo com seus sorrisos puídos de gentileza e palavras reconfortantes, não haviam conseguido lhe dar esperanças sobre seu caso. A Kocho suspeitava que acabaria ficando totalmente cega naquele olho.

E com tamanha escassez de certezas, não demorava muito para sua mente estagnada ser semeada por dúvidas. Questões essas que não tinham respostas decididas, o que apenas a trazia a frustração e um enorme sentimento de incapacidade.

Não era importante se conseguiria treinar novamente, aceitando esse seu novo limite, até tentar voltar a ser tão boa quanto um dia fora. Que diferença faria se ainda iria ser uma caçadora da organização? Afinal, o que Shizuha realmente queria: recuperar a vida que tinha antes daquele acidente ou devolver o ferimento a quem a machucou?

A jovem só tinha uma certeza naquele momento — não adiantaria pretender que poderia voltar a ser quem era. A grande e renomada caçadora que havia sido não existia mais. Ela havia sido destruída, reduzida a uma versão oca do que um dia fora. E o pior é que sequer sabia de quem era realmente a culpa para o seu estado.

Talvez, se tivesse alguma ideia… poderia até fingir que existia ainda uma pequena parte dentro de si que pertencia a sua versão anterior. Shizuha, então, estaria procurando por pistas e não olhando para o seu reflexo no espelho.

Ela viu o canto dos seus lábios se erguerem levemente para cima, num gesto cínico. Aquele pensamento tinha lhe feito sorrir, todavia não sentia uma gota de alegria em seu peito.

Sim, com certeza, sua antiga versão estaria se fazendo de útil se tivesse o calor da revolta em seu peito e o gosto amargo da injustiça a abastecendo. Aqueles sentimentos seriam muito úteis para a sua rápida recuperação. Era provável que, tendo isto, a caçadora estaria planejando seus próximos passos, se acostumando melhor com a falta de visão e até mesmo entrando em contato com pessoas conhecidas.

A Shizuha Kocho do passado decerto não se sentiria sem propósito.

E o pior, talvez, era que não conseguia se esquecer daquela expressão.

Íris esmeraldas, escurecidas pela desconfiança e afinadas pela ira, a fitavam com intensidade. Os lábios arreganhados da híbrida mostravam suas medianas presas, num gesto óbvio de nervosismo.

Shizuha estava sendo avisada de que a outra estava prestes a lhe atacar.

Fechando a sua única pálpebra aberta e ignorando completamente o seu patético reflexo, a jovem se permitiu se imersar naquela memória. Ela quase podia sentir, naquele banheiro abandonado, o fresco aroma da terra úmida. Ainda conseguia escutar, com uma clareza quase que ridícula, o timbre rouco da criatura que tinha sido mandada caçar.

— É você a nova humana que mandaram pra aterrorizar o meu povo?

O tom da híbrida prometia violência independente da resposta que a Kocho desse. Ela estava curvada, tencionada e preparada para dar o primeiro ataque, emanando uma aura protetora sobre a pequena clareira. Se a caçadora prestasse atenção, poderia lembrar de observar o peito da não-humana tremendo, mostrando que continuava rosnando mesmo sem falar mais nada.

O fato de conseguir recordar de detalhes tão minuciosos era assustador. No entanto, Shizuha nem chegava a sentir algo , de tão abstinente que estava da própria existência.

— Não tenho a menor ideia sobre o que está se referindo.

E nem deveria saber. Essa era uma das poucas certezas que ainda tinha — não era para ela ter descoberto o que realmente estava ocorrendo naquela floresta. A Kocho suspeitava que deveria ter perdido mais do que a visão e um pouco de sangue naquela briga.

— Não se faça de idiota!

O rugido que acompanhou essas palavras deixou explícito o excesso de ira que elas carregavam. As íris esmeraldas lampejaram, assustando-a momentaneamente pelas fortes emoções que passaram por ali.

— Humanos vem invadindo a minha região por semanas! E todos têm o mesmo broche que você.

O arrepio que dedilhou o corpo de Shizuha naquele momento foi semelhante ao que sentiu ao escutar a acusação da híbrida. Era surpreendente. Ao conectar os pontos, a caçadora percebeu que não havia perdido companheiros de batalha por mera coincidência. Não, aquelas pessoas tinham sido mandadas para o abate pela própria organização.

E, ainda assim, era difícil de acreditar. Parte sua queria fingir que aquilo era apenas uma mentira do monstro que tinha sido mandada matar. Entretanto, a Kocho não era idiota a esse ponto.

Existia um motivo, afinal, para que Nana fosse considerada a protetora do vilarejo Rinki. Os relatos sobre a híbrida de leão tinham sempre um único atestado em comum: apenas era atacado quem possuía intenção de acabar com a paz daquele lugar. E, se os arquivos estivessem certos, entre os recentes abates e os antigos, havia uma lacuna de anos entre eles.

Um suspiro cansado escapou por entre os lábios de Shizuha. As provas estavam na sua cara, e mesmo assim, era difícil de acreditar. Sua pálpebra se abriu, e novamente estava a observar o reflexo no espelho. A frieza estampada na íris castanha a incomodava, porém ela não se atreveu a desviar seu olho da imagem.

Era vergonhoso, infelizmente precisava admitir. Tinha uma grande possibilidade de ter lutado no lado errado daquela guerra. E, caso isso fosse verdade, a caçadora precisaria decidir o que fazer com essa informação.

Não que essa fosse ser sua imediata preocupação. Lentamente, ela conseguia sentir o fraco — todavia consistente e rítmico — pulsar de seu coração, como se lembrasse que ainda estava viva. Suas emoções ainda pareciam dopadas dentro do peito, engaioladas de si.

No entanto, o brilho decidido que gradativamente parecia aumentar em sua íris castanha a dava esperanças de que logo acharia a chave para esse cadeado.

Afinal, Shizuha estava determinada a descobrir a verdade sobre o que tinha acontecido. Não importava o que custasse de si, ela iria saber o que a organização estava pretendendo fazer — desvendaria, então, o veredito sobre quem era o real culpado pelas mortes e seu sofrimento.

Notes:

espero que tenham gostado !! tenho ainda mais algumas ideias pra esse au e pretendo continuar escrevendo pra ele — só não garanto nada a ser postado logo.

e pra finalizar, aqui estou eu divulgando o meu tumblr mais uma vez !!

Series this work belongs to: