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Toga era egoísta. Não era do tipo que se conformava com o que tinha e também não conseguia encaixar-se na sociedade. No momento em que fez seu pacto com Kyuubey, seu desejo secreto era que o mundo mudasse para que pudesse ser aceita. E, internamente, sabia que faria de tudo para que ele se tornasse realidade.
(Era uma pena que o alienígenazinho não podia realizar pedidos como aqueles…)
Essa era a sua instância quando começou naquele outro universo, porém. Quando conheceu a garota mágica rosa — sua adorada Uravity! — ao ser salva de um acidente esquisito, a vida da Himiko foi transformada. Ainda que a outra fosse uma novata no ramo, o simples encontro com ela foi o suficiente para que seu coração pudesse se erguer no seu peito com esperança novamente.
Por isso, quando teve a oportunidade de também virar uma mahou shoujo, Toga não hesitou antes de agarrá-la com ambas as mãos. Com uma nova mentalidade e vivendo duas personas diferentes, ela sentiu que estava finalmente podendo respirar depois de tanto tempo sufocando-se por outros. Quando estava por aí lutando contra Bruxas e dando o seu melhor para que o mundo melhorasse, sentia que fazia parte de alguma coisa. Pertencia então a algum lugar.
Superando suas expectativas, porém, Uravity fez mais do que a Himiko esperava quando foi atrás da garota mágica rosada em busca de um relacionamento. Não apenas a aceitou como uma parceira de batalha, também era amiga da outra; algo que nunca deixava de surpreendê-la quando via o grande sorriso no rosto redondo emoldurado pelas mechas rosadas quando era avistada por ela. Foi por aí que percebeu que estava apaixonada.
Gostar de garotas era complicado. Amá-las quando estas são amigas próximas? Era um novo tipo de situação complexa que Toga não sabia lidar com. Não adiantava que seus flertes ora traziam a mahou shoujo para mais perto ora a afastava. Isso fazia com que duvidasse se um possível relacionamento romântico daria certo entre ambas, mesmo que isso não a impedisse de continuar tentando conquistar a outra.
Entretanto, sendo a sua exceção, Uraraka foi além do que esperava. Quando um problema pessoal a impediu de continuar sendo a garota mágica vermelha, Uravity não perdeu tempo em se intrometer na sua vida. A determinação nas irises róseas — que mudaram rapidamente para o castanho quando a outra se destransformou — fizeram com que a Himiko sentisse um leve borbulhar de excitação em sua barriga. E, junto disso, veio também o medo da rejeição.
Algo que nunca veio de Ochako, que não satisfeita em conhecer e aceitar a Transfoga, também recebeu de braços abertos a adolescente frágil e submissiva que era. Era a primeira vez em anos que Himiko Toga era acolhida por alguém — ela, que deveria seguir os padrões da sociedade para não ser excluída; que necessitava ser educada e polida para que suas amigas não a evitassem, a que forçadamente controlava o tamanho de seu sorriso para que seus pais não a censurarem por ter ousado mostrar alguma emoção.
Contrariando o que imaginava, Uraraka aceitou ambas as partes que consistiam no seu eu: as que odiava firmemente e as que amava com fervor. Depois de um ato tão gentil foi difícil não retribuir o carinho, mostrando a outra o quanto a amava e desejava tê-la ao seu lado; confessou com honestidade tudo o que pensava e desejava, não escondendo nada de sua amada.
E, dois meses depois, aqui estava Toga no terraço de um prédio alto. Suas irises rubras observavam sua namorada em ação, esperando com que Uravity acabasse com a última Bruxa. Quando a garota mágica rosada usou uma de suas correntes para agarrar o ser sobrenatural, exibindo um sorriso vitorioso por ter conseguido realizar seu plano, a Himiko suspirou apaixonadamente. Desejava tanto beijá-la naquele exato momento.
Infelizmente sua mochi ficava frustrada quando a Himiko se intrometia em batalhas que conseguia lutar sozinha. Diante disso, sua única opção era olhar Ochako em ação — um de seus hobbies favoritos desde que tinha virado mahou shoujo. Então, mesmo que ficasse por fora da diversão, não conseguia realmente reclamar desse detalhe.
Toga assistiu Uraraka enfiar o punhal mágico no centro da Bruxa, este que estava fixado na corrente rosada que envolvia o corpo do ser sobrenatural. Arrepios fizeram com que os finos pelos de seus braços se erguessem brevemente. Foi impossível não soltar um gritinho agudo ao ver a forma confiante com que a garota mágica rosada retirou a lâmina do corpo alheio, fazendo-o se dissolver até que restasse apenas um pequeno objeto no chão.
A Himiko não hesitou mais; pulou do prédio animada, chegando em segundos no chão, onde aterrissou graciosamente devido a magia que usou. Ela observou Uravity pegando a Semente de Rancor do chão conforme se aproximava dela. O sorriso satisfeito ainda estava estampado nos lábios da outra, o que fez com que as curvas do seu também subissem de forma alegre.
— Ura-chan~ — Transfoga cantarolou, envolvendo a sua namorada em seus braços ao que esfregava levemente a sua bochecha no pescoço alheio.
A risadinha borbulhante de Ochako preencheu os ouvidos de Toga, esquentando o seu peito com tanto amor que sentia pela outra. Ela viu a mahou shoujo guardar o objeto no bolso, provavelmente pensando em compartilhar ele com alguma de suas amigas. Elas não eram as únicas naquele ramo afinal, e ambas já tinham purificado suas Jóias da Alma.
— 'Tá na hora de sairmos daqui, Tran-chan — Uravity comentou com um tom cansado, ainda que suas irises róseas estivessem cintilando de animação.
— Antes de ir eu quero um beijinho! — Toga demandou, fazendo um biquinho diante a face surpresa de sua namorada.
Por estar com os olhos fechados, ela não viu os lábios de Ochako se erguerem em um pequeno sorriso afetuoso. Todavia a Himiko os sentiu pressionando levemente sobre os seus, finalmente ganhando o beijo que tanto desejava. Foi um breve selo, um gesto que Uraraka estava lhe dando apenas para acalmar a sua vontade no momento por não querer continuar no meio da rua.
Mesmo assim, não se importava. Toga sabia que ganharia muitos outros assim que chegassem no dormitório que estavam dividindo, podendo então realmente matar o seu desejo de querer ser ainda mais íntima da outra. Elas se amavam e era apenas isso que importava.