Sunset ^beta

Mesmo que não soubesse onde estava, Robin sentia-se relaxada. Era estranho, visto que estava rodeado de sombras e não conseguia discernir chão de teto; se é que localizava-se num cômodo. Conforme avançava na escuridão, seus ouvidos começaram a captar uma melodia sinfônica tocando.

Seu coração falhou uma batida ao reconhecer a música, ainda que nunca tivesse a escutado antes. Sem compreender a situação direito como, a Nico sabia que caminhava em direção a um baile. Sua excitação perante a festividade era incomum, uma vez que odiava esse tipo de coisa.

A cada passo que se aproximava do som harmonioso, mais este aumentava. A forma como sentia-se tranquila apenas ao ouví-lo era intrigante, como se aquela melodia estivesse na sua vida há anos embora não a conhecesse.

Um pequeno sorriso se alargou em seus lábios — se era porque achava a situação interessante ou por um motivo ainda não conhecido, não sabia. Enquanto caminhava, podia observar paredes douradas sendo montadas no chão. Pareciam ser feitas de mármore liso, dando uma aparência bonita ao corredor, agora iluminado, que começava a envolver Robin. Haviam vários detalhes nela, entretanto a jovem mal conseguia notá-los. Era como se eles ficassem borrados quando tentava prestar atenção, deixando-a rodeada de um cômodo misterioso que a convidava a ser desvendado.

A Nico caminhava tranquilamente, sentindo-se mais consciente do seu próprio corpo. Em seu peito, ora ou outra, acontecia um frágil puxão, como se um fio invisível a estivesse guiando para um lugar específico. A satisfação se aconchegou em seu coração, fazendo com que a curva do seu sorriso subisse um pouco mais. Sabia, não entendendo como, que gostava de estar ali.

A música agora estava alta o suficiente para que Robin pudesse senti-la em sua pele, marcando-se em seu corpo de um jeito que nunca ficaria guardada em sua mente. Aquela foi a deixa para que uma dupla de portões enormes se materializasse na sua frente, abertos de um jeito que conseguia ver o vasto salão dourado. Ela passou por eles, não hesitando em entrar num cômodo que normalmente evitaria estar.

Suas irises acinzentadas tentavam observar o seu arredor, no entanto, mal conseguia ver tamanho era o embaçamento que dominava a sua vista. Era como se alguém estivesse censurando o que pudesse ou não olhar, tendo poucos detalhes nítidos que conseguia discernir. Por isso, não foi uma surpresa para si que sua atenção tivesse sido levada até um simples candelabro de ouro, este que iluminava o centro do salão.

E, bem no centro de sua luz, existia uma mulher. Aparentemente, era uma jovem mais nova do que Robin. Não estava muito confiante, porém, mesmo que o rosto alheio exalasse uma energia jovial que contrastava com o porte confiante e educado que ela tinha.

Os fios azulados da moça eram bem penteados, descendo suavemente por suas bochechas ao tocar nos ombros nus dela. Um formigamento na ponta dos dedos de Nico a fez se questionar como seria a sensação de tocá-los, enrolando-os em seu indicador ou os ajeitando para poder melhor admirar o rosto alheio.

O tecido esmeralda do vestido da familiar desconhecida se agarrava às suas curvas, de um jeito que parecia confortável, a deixando ainda mais bonita sob as luzes do candelabro. A mulher parecia cintilar, todavia essa impressão poderia ser devido ao glitter que sua roupa supostamente tinha.

A Nico aproximou-se um pouco mais da outra, podendo assim perceber ainda mais detalhes sobre ela. Cada passo que dava comprimia o seu peito em excitação, dando-lhe a impressão de que seu coração queria estourar ali dentro.

Um flash de iluminação trouxe seu olhar para o pingente platinado de pássaro que estava deitado no busto alheio, o único acessório que a moça parecia estar usando. Ao levar seus olhos pela extensão da pele dela, caminhando lentamente pelo pescoço perolado até chegar no maxilar; tendo sua atenção agora fisgada pela curva do sorriso gentil nos lábios da outra.

Robin conseguia sentir seus batimentos cardíacos pulsando dentro dos seus tímpanos, embora ainda conseguisse escutar o som da orquestra que ainda tocava no salão. Suas irises acinzentadas encararam semelhantes acastanhadas, surpreendendo-a quando sentiu ser possuída por uma energia calorosa que a deixou completamente arrepiada.

Precisava dizer alguma coisa. O quê, exatamente, ela não sabia. A Nico até chegou a abrir os lábios para falar alguma coisa, talvez um nome…

Infelizmente, no segundo seguinte, suas pálpebras se abriram e ela se viu encarando um teto de madeira. Não demorou muito para compreender que estava novamente em seu quarto, e que tinha acabado de acordar.

Robin suspirou resignadamente. Esse sonho outra vez.  

Não que esse pensamento a incomodasse por muito tempo, afinal, da mesma forma como sabia que era algo recorrente, também tinha plena consciência de que logo se esqueceria dele. Essa era a mecânica de sonhar com sua alma gêmea, afinal. Enquanto não encontrasse a sua pessoa especial, a Nico continuaria a sonhar — e a esquecer, pois ninguém conseguia reter memórias de sua outra metade antes de conhecê-la.

Esse era o eterno mistério das almas gêmeas, um que a assombra desde que tinha doze anos e que Robin não via a ora de se livrar.

Uma pessoa como eu não merece algo tão bom assim.