Work Text:
No decorrer da leitura da pergunta do antepenúltimo exercício, Kazuha sentiu um toque repentino em seu ombro, o que a fez arregalar os olhos, surpresa. Seu coração parou por um milésimo de segundo, para então acelerar com intensidade, e ela se enrijeceu — ainda mais porque agora existia um perceptível peso naquela área de seu corpo. Confusa com a súbita interrupção, a Aizawa levantou suas irises azuladas dos kanjis na folha. Ao virar o rosto levemente para o lado, fios acinzentados entraram em seu campo de visão, a fazendo amolecer o corpo. Um calor suave dominou o seu peito e os cantos de seus lábios se ergueram ternamente num sorriso; não que ela tivesse percebido a expressão involuntária que fez. Suspeitando o porquê estava sendo usada como apoio, Kazuha abaixou um pouco a cabeça para poder observar a face alheia.
Suas irises azuladas passaram devagar pelas sobrancelhas acinzentadas, que estavam relaxadas e erguidas, sem nenhuma ruga de desconforto ou incômodo por entre as duas. Ela observou a pele esbranquiçada, que parecia tão macia ao toque — sentiu alguns dedos se estremecerem, um leve formigamento na ponta destes ao constatar isto —, o jeito como a curva das pálpebras fechadas estavam delicadamente firmes, mas sem pressão para as manter assim, indicando o conforto em que a outra estava. Uma das bochechas tinha seu formato arredondado escondida pelas mechas de cabelo, devido a forma como a mais nova estava encostada em seu ombro.
Durante sua observação, conseguiu ver o delicado nariz se contraindo com suavidade, sendo acompanhado de um som desagradado baixo; o sorriso que já existia em seu rosto apenas se alargou diante a cena. Os lábios pequenos e finos encontravam-se entreabertos — a Aizawa sabia que, se levantasse uma das mãos e colocasse em frente a eles, conseguiria sentir o ar quente passando pela boca alheia. Pela forma como a Ran se encontrava, era óbvio que ela tinha caído no sono fazia pouco tempo.
Desviando o seu olhar da expressão tranquila na face adormecida ao seu lado, suas irises azuladas passaram rapidamente pela madeira da mesa que dividiam até chegar no papel de exercícios da Sasaki. Metade da lista tinha sido respondida e a maior parte das respostas estava correta — uma nova onda de calor se apoderou de seu peito ao comprovar que suas sessões de estudos com a mais nova estavam fazendo efeitos. Tendo visto isso, ela já sabia o que tinha provavelmente acontecido: a Ran tinha ficado cansada durante a resolução dos problemas e, sem aguentar o peso que existia em suas pálpebras, acabou rendendo-se ao sono com facilidade.
Trazendo novamente suas irises azuladas para a outra, Kazuha observou o sutil subir e descer do pequeno peito alheio. A forma como o rosto da Sasaki estava relaxada, transmitindo tranquilidade, lhe fazia sentir um desejo familiar de continuar observando a outra. Foi ao mirar mais uma vez os lábios entreabertos — tão bonitos de admirar, que faziam-na sentir uma estranha sede no fundo da garganta, parecida com uma coceira que deveria eliminar — que franziu suas sobrancelhas, sentindo-se indecisa.
Apesar de saber que a Ran precisava terminar os exercícios, um aperto sufocante surgia em seu coração apenas ao cogitar a ideia de despertá-la. Ao mesmo tempo que gostava de ver a outra dormindo, a Aizawa preferia quando podia a apreciar acordada. Era uma decisão difícil de se fazer. No entanto, ao presenciar mais uma vez o nariz da mais nova se contraindo — e sentir a sua própria face suavizando —, ela decidiu deixar a outra ter o seu pequeno momento de descanso.
Inspirando fundo, a Aizawa assentiu para si mesma, fortalecendo a mente em relação ao que faria. Sentia o calor que vinha da outra se alastrando por seu ombro, a acalmando, e fazendo com que seu coração estivesse palpitando de forma intensa mais uma vez. Com uma certa hesitação que não é comum de seu caráter, Kazuha levou suas irises azuladas novamente para a própria folha. Assim que terminasse a sua lista de exercícios, iria acordar a Ran para que ela também fizesse a dela; esse era seu novo plano.