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Tradição e Liberdade

Chapter 7: Lua Minguante

Summary:

— Sabia que aqui estava mais barulhento que normal — Uma voz brincalhona e intensa dominou o cômodo, ganhando a atenção das duas gerações que estavam sentadas. Katara logo apareceu pela abertura da tenda, com um brilho travesso no olhar. — Só podia mesmo ser a Dal infectando a nossa juventude com as histórias dela.

A acusada arregalou os olhos, fingindo estar ofendida.

— Não faço ideia do que você está falando.

Notes:

não me pergunte dos títulos dos capítulos, eu perdi totalmente o foco da ideia que era pra ter neles, a.
assim como o capítulo anterior, esse aqui não foi betado !!!
espero que gostem desse epílogo, a

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

A forma como a garota ficava emburrada era tão fofa. As bochechinhas infladas, o olhar desagradado e o bico que os pequenos lábios faziam era uma vista adorável para a mais velha.

— Não gostei! Quero outro final pra essa história! — Foi a demanda que Korra fez ao bater com o pé direito no chão, inconformada. Seus curtos bracinhos estavam cruzados no peito, mostrando que não aceitaria outra resposta a sua ordem.

Ainda que Dal estivesse tentando se segurar, naquele momento, era impossível de prender a risada divertida diante a uma cena dessas.

— Qual é a graça? — A menina resmungou, inflando ainda mais as bochechas.

Íris azuis-celestes gentis repousaram na criança, que observou desagrada a forma como os lábios da mais velha se esticaram em um pequeno sorriso. A ex-caçadora depositou a pedra de amolar que segurava no chão ao seu lado, junto com a flecha que afiava enquanto inventava contos para distrair Korra.

Dal deu dois tapinhas em seu colo, mal sentindo a maciez dos pelos de urso que usava como um cobertor para as suas pernas.

Desconfiada, a garota se aproxima lentamente da outra. Não demora muito para ela estar sentada na coxa da mais velha, ainda portando um bico nos lábios.

— Korra, minha querida… não existe outro final — A voz, ainda que levemente rouca pela idade, continuava tendo a mesma suavidade de quando era jovem.

— Mas esse é sem graça! — É a reclamação de Korra, que volta a cruzar os bracinhos. — Ela simplesmente virou a lua! E por pena de La, ainda por cima!

O sorriso que se ergue nos cantos dos lábios de Dal é agridoce. Ela sentia-se da mesma forma que a criança, todavia aquele final que criara era mil vezes melhor que a verdade sobre o que realmente tinha acontecido.

Ainda que, em ambos, ela conseguisse a liberdade que tanto desejava.

— Sabia que aqui estava mais barulhento que normal — Uma voz brincalhona e intensa dominou o cômodo, ganhando a atenção das duas gerações que estavam sentadas. Katara logo apareceu pela abertura da tenda, com um brilho travesso no olhar. — Só podia mesmo ser a Dal infectando a nossa juventude com as histórias dela.

A acusada arregalou os olhos, fingindo estar ofendida. 

— Não faço ideia do que você está falando — Dal respondeu, observando como a mais nova havia corrido em direção a “convidada”, logo se agarrando às pernas dela. A forma como Katara passou o braço em torno do corpinho da garota, a abraçando e escutando enquanto reclamava da nova história que havia escutado aquecia o coração já murcho da ex-caçadora.

Já faz tanto tempo… 

Onde antigamente existiam fios castanhos encaracolados — tão vivos e bonitos quanto a mulher que os tinha — agora só existia branco e cinza nas mechas penteadas. O rosto da irmã do líder de Shuijia agora já estava repleto de rugas, mostrando parcialmente a idade avançada que ela tinha.

O andar decidido atualmente era mais lento, embora ainda fosse cheio de vida, e os ombros de Katara haviam enfim cedido ao excesso de peso que carregava, se curvando sobre o corpo.

Dal não estava muito diferente, havendo perdido bastante sinais de sua mocidade conforme foi crescendo e se fixando em sua nova tribo.

Ela já não mais conseguia caçar sozinha, pois as pernas doíam com mais facilidade e suas mira já não era mais tão eficaz quanto antes — ainda que duvidasse que existisse alguém melhor que si no arco e flechas pela aldeia.

E ainda que suas mãos já estivessem mais rugas do que pele, isso não impedia nenhuma delas de beijar os dedos da outra com o mesmo carinho e paixão que tinham de anos atrás.

Um suspiro realizado escapou de Dal, chamando a atenção de Katara para sua pessoa.

— No que a minha bela esposa anda a pensar? — A segunda em comando da tribo questionou, levemente curiosa. Ela se aproximou, devagar, de onde a ex-caçadora estava sentada, deixando Korra decidir se gostaria de segui-la ou não.

— No que mais eu poderia pensar com tanto deleite, se não em você? — O sorriso doce e amoroso que recebeu de sua amante por sua resposta estava espelhado em seu rosto.

Assim que Katara estava em frente a outra, ela não perdeu tempo em deixar um breve selo nos lábios de sua amada. Foi um beijo simples, cheio de carinho e gratidão, que nunca falhava em deixar ambas as mulheres sentindo-se aquecidas de alegria.

— Eca, adultas se beijando — A reclamação de Korra foi prontamente compartilhada assim que a mais nova viu o ato.

Quando dois pares de íris idosas repousaram nela, a garota deu um gritinho e correu para a entrada da tenda. Pelos risinhos e velocidade em que tinha saído do cômodo, era óbvio para as mais velhas que ela apenas não queria ser “punida” pelo seu comentário.

Agora sozinhas, elas voltam a se encarar e trocam uma risadinha divertida entre si. 

— Ai, essas crianças… — Dal foi a primeira a falar, ainda meio fôlego. Katara apenas assentiu, concordando com sua esposa.

Dedos calejados, porém tão macios quanto, envolveram os pulsos da  ex-caçadora. O toque gentil e carinhoso deslizou por sua pele enrugada até que ambas as palmas estivessem se tocando.

Sentadas uma em frente à outra, com as mãos dadas, elas aproveitaram o pequeno momento que compartilhavam.

Ter a presença da segunda em comando ao seu lado era sempre maravilhoso. Katara lhe dava uma paz de espírito que não conseguia explicar — sua única certeza era que a estabilidade que sentia com a mais nova não poderia ser replicada por ninguém.

— Nunca achei que poderia ter isso aqui — Dal murmurou, tendo suas íris nubladas por nostalgia e memórias. Inconscientemente, ela trouxe o braço de sua esposa para perto do rosto, deixando um cálido selo em um dos nós dos dedos dela.

— Mas você podia — Katara respondeu, também no mesmo tom de voz. — Não só podia, você conseguiu.

 A ex-caçadora baixou seu olhar para as mãos entrelaçadas, deixando um sorriso agridoce dominar seus lábios.

— Tudo o que eu precisei fazer para conseguir foi morrer. — Não tinha sido sua intenção, no entanto, sua voz tinha adquirido um certo timbre de rancor.

— Dal…

Inspirando fundo, ela apenas balançou a cabeça em negação.

— Eu só… fico pensando se realmente valeu a pena ter feito aquilo. — A mulher mais velha admitiu, entristecida. — Talvez tirar a filha deles por causa das tradições tenha sido muito radical.

As íris castanhas de Katara observavam a outra, tendo o mesmo sentimento espelhado nelas.

— Foi a escolha deles — Ela disse, tentando confortar a esposa. — Se tivessem tentado te escutar ou te entender, não teríamos precisado fazer as coisas que fizemos.

Dal pensou nas palavras de sua amada, acariciando as costas da palma dela com o polegar. Seu murcho coração só tinha um arrependimento diante toda aquela situação, e era a de não ter podido falar uma última vez com seus pais antes deles terem morrido.

Talvez, algum dia, ela ganhasse a chance que tanto desejava.

— Não sei se tenho a mesma certeza que você — Foi como a ex-caçadora resolveu finalizar aquela conversa. — Mas que teria impedido Yue de se transformar na lua, isso teria.

Ainda que sua esposa tenha revirado os olhos diante sua tentativa de piada, a forma como seus ombros relaxaram foi instantânea. Era melhor que sua amada não ficasse se preocupando consigo, ainda mais por situações que nenhuma delas mais poderiam mudar.

Afinal, Dal tinha feito sua escolha. E entre as tradições que a acorrentava, ainda que a confortasse, e a liberdade que a fascinava, mesmo que a assustasse — não era difícil saber qual seria a opção que a tinha lhe trazido a felicidade e confiança em si própria.

Pois era ali, ao lado de Katara, em que ela queria estar. Até que a morte (tente) as separar.

Notes:

fINALMENTE eme termina essa fic, ouvi um amém???

é minha primeira história com mais de um capítulo finalizada, a. não sei como me sentir KKKKKKKKK

foi uma . jornada, visse. dá pra ver que minha escrita foi se transformando durante esse processo e espero não ter perdido o rumo da fanfic (e sim, eu segui o roteiro. não quer dizer que segui a vibe inicial, aaaaa) durante esses dois anos???? ou um ano e meio??

admito que tô aliviado (e até meio orgulhoso) de ter terminado essa história. isso significa que posso tentar fazer outras (com mais de um capítulo) e que consigo, sim, terminar elas — se eu for determinado e tiver um roteiro pra seguir 🤭🤭🤭

obrigado a todos que me seguiram nessa jornada. todo os kudos, hits, bookmarks e comentários foram um belo apoio e me ajudaram a chegar aqui, neste último capítulo. só tenho a agradecer a galera que me deu uma chance e acompanhou esse trabalho em andamento, hehe.

e, pra finalizar, deixo aqui o link do meu tumblr pra quem quiser/tiver interesse !!