Chapter 1: A Lua Encontra Dois Jovens
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Inspira. Expira devagar, soltando o ar aos pouquinhos.
As folhas arrastando-se uma na outra faziam um som tranquilo e relaxante quando o vento passava, e, embora os outros animais também estivessem verbalizando que não havia perigo algum naquela área, Yue poderia dizer que estava um clima calmo e agradável por ali.
Pena que não tinha ido até a floresta com o intuito de descansar, porque era exatamente isso que aquela atmosfera parecia ludibriá-la a fazer.
Ao focar o olhar no rio a frente, ela conseguia ver seu alvo abaixando a cabeça para refrescar-se, dando algumas lambidas preguiçosas na água.
Como o cervo parecia distraído pelo ambiente, ela apenas manteve a mira nele, com a corda do seu arco esticada e pronta pra atirar. Seus dedos seguravam a madeira com uma firmeza nobre, mantendo-o firme e focado no animal que tinha como alvo.
Yue inspirou, prendeu o ar em seus pulmões e, no momento em que ela soltaria a corda, um trek típico de galhos quebrando-se fez com que o cervo ficasse alerta e corresse sem dar tempo para a caçadora tentar atirar nele.
Com um suspiro frustrado ela ajeitou sua mira, focando agora nos culpados pela perda de sua caça: dois jovens de pele acastanhada, que pareciam levemente perdidos pela forma como olhavam ao redor, e cansados, se a forma como seus ombros pareciam carregar o peso do mundo fosse uma indicação real.
E embora eles não parecessem perigosos, Yue sabia melhor do que ninguém, que se deixar enganar por primeiras impressões — então sem hesitação, assim em que um da dupla ficou parado, ela soltou a flecha.
Seus dedos ainda formigavam pelo atrito da corda com sua pele quando ela ouviu os sons que ambos jovens fizeram. A menor arfou ao que deu um mini pulo, levando as mãos a boca enquanto o outro, que estava preso pela flecha na árvore pelo casaco, havia gritado tão alto, que os pássaros até voaram daquela região.
Lutando para não deixar um sorriso satisfeito dominar seus lábios, Yue saiu de trás do arbusto em que estava agachada e disse, em seu tom mais firme, com o arco ainda direcionado a estranha dupla e uma nova flecha na mão:
— Forasteiros não são bem vindos por aqui.
Os dois à sua frente se voltaram em sua direção, os olhos abertos demais para alguém calmo e um leve tremor nas mãos mostrando que ainda estavam decidindo-se entre lutar ou correr. A caçadora esperava que eles não fossem idiotas o suficiente para escolherem enfrentá-la.
No entanto, antes que qualquer movimento fosse feito, o mais alto dali apenas ergueu as mãos em sinal de rendição fazendo com que sua companhia franzisse as sobrancelhas em clara confusão.
— Você é da Tribo Shuiliang, não é? — Ele disse de forma alta e clara, com uma expressão séria no rosto, que quase fez Yue esquecer o quão assustado ele estava a minutos atrás.
Seus lábios se contorceram numa linha desgostosa. Poucas pessoas reconheciam os membros de seu vilarejo, ainda mais logo de cara.
Ela apertou a madeira do arco, colocando mais firmeza na mira que fazia no jovem, todavia não fez nenhuma menção de que atiraria.
— Como você sabe disso? — Foi o que questionou, tendo sua voz carregada de suspeitas e dúvidas.
O alívio relaxou os músculos faciais do garoto alto à sua frente e fez a jovem que o acompanhava olhar Yue com um pouco mais de atenção, o que a deixou levemente desconfortável.
— Porque nós somos de Shuijia!
A simples menção da tribo-irmã fez com que a caçadora abaixasse levemente o arco, de forma que sua mira agora estava no tórax ao invés do coração do estranho.
Era sua vez de franzir a sobrancelhas em confusão naquele momento, não compreendendo a cena à sua frente. Dois jovens, e pelo que ela podia ver, andarilhos no meio da mata e cada um com uma sacola nas costas. As roupas deles não era nem um pouco semelhante com as vestimentas da tribo que Yue estava acostumada a ver no povo de Shuijia.
Entretanto, somente sendo ou conhecendo alguém de lá para saber de Shuiliang — o que fazia com que a caçadora tivesse poucas opções.
Iria ter de levá-los até o chefe de sua tribo.
[—]
Embora os jovens tenham reclamado sobre terem de usar cordas — Sokka, assim tinha se apresentado o garoto, foi o que surpreendentemente aceitou mais fácil a idéia —, eles seguiram Yue bem quietos pelo caminho de volta até sua aldeia.
Ao chegar perto das redondezas, ela assobiou, chamando assim a atenção de um dos homens que ficava ali na barreira entre a tribo e a floresta. Quando ele se aproximou, a caçadora pediu para que o mesmo levasse os dois até seu pai.
— Você tem certeza que deveríamos levar estranhos para dentro da tribo? — Pakku perguntou, os olhos espremidos pelas pálpebras por causa da desconfiança com que encarava os jovens.
— Tenho. — Foi a resposta rápida que deu, antes de complementar em um tom mais baixo. — Eles sabem o nome da nossa tribo.
Isso fez o homem ficar surpreso, antes de voltar o olhar para os outros dois.
— Onde você os achou mesmo?
— Perto do riacho platinado.
Pakku apenas assentiu perante aquela informação antes de virar-se para os — não tão — desconhecidos e forçá-los a andar com ele.
Enquanto eles seguiam um dos melhores caçadores da tribo, Katara — cuja tinha sido apresentada pelo mais alto — virou a cabeça para trás para lançar um olhar cheio de significados confusos e intrigantes em direção a Yue.
O simples gesto a fez arrepiar-se, mesmo que a caçadora tivesse resolvido ignorar a encarada e ir cumprir seu papel na aldeia.
Estava na hora de fingir ser uma frágil garota que estava prestes a entrar na idade de casório, logo, era seu dever ter as tarefas domésticas organizadas, por mais que ela as odiasse com todo o seu ser.
Era hora de agir como a filha do chefe da aldeia deveria.
[—]
No final, Sokka não tinha mentido — ele e Katara, que pouco depois Yue descobriu ser irmã dele — eram realmente da tribo Shuijia.
— O ritual da maturidade. — Comentou Arnook, seu pai, com um sorriso saudoso dominando os lábios e um olhar distante. — Ainda me lembro de quando fiz minha viagem pelo mundo antes de assumir o cargo como chefe da tribo.
E pelo visto não eram quaisquer membros da aldeia-irmã que tinham aparecido pelas proximidades de Shuiliang — eram os herdeiros do líder.
— E você já está se aproximando da idade matrimonial, Katara? — Yue ouviu sua mãe questionar e segurou-se para manter uma expressão neutra.
A caçadora não gostava da forma como em sua aldeia a maioria dos papéis que as mulheres tinham eram cuidar das tendas e gerar herdeiros — tanto que, com ajuda de Pakku, aprendeu a arte da caça e da espada às escondidas de seus pais.
Ela sabia que logo seus progenitores encontrariam alguém para casar consigo, forçando-a seguir um papel que sabia não pertencer a si.
— Faltam duas estações para isso acontecer, senhora. — A voz intensa e com traços juvenis chegou aos ouvidos de Yue, fazendo-a voltar a prestar atenção na conversa.
— E por que veio com o seu irmão no ritual de maturidade? Não é muito cansativo para uma garota como você? — Sua mãe voltou a questionar, as sobrancelhas levemente juntas pelo sentimento piedoso que as dominou. — Pobrezinha, deve ter sofrido tanto.
— Eu vim porque quis — Katara retrucou dois decibéis acima, com um brilho cativante no olhar que fez a caçadora respeitá-la naquele exato momento. — Não acha injusto os homens poderem conhecer o mundo inteirinho enquanto você fica aqui, sentada, sem ter uma noção do que existe fora dessas fronteiras?
— Psst, Katara! — Sokka resmungou alto o suficiente para chamar a atenção da irmã, que o encarou como se ele fosse a coisa mais desinteressante naquele momento.
Pela forma como o silêncio seguiu aquela interação, era visível que não tinha sido apenas eles três a ouvirem o que a forasteira tinha dito.
— Bem, acho legal que tenham te permitido vir — Yue comentou de forma calma e controlada, enquanto pegava a taça de prata em mãos com a intenção de beber o vinho ali contido. — Pelo menos terei alguma companhia enquanto estão aqui.
Sua interferência fez com que o clima do jantar voltasse lentamente ao costumeiro. Camponeses e caçadores comiam e bebiam de forma relaxada, com o som de suas vozes e risadas ao fundo subindo de níveis, fazendo uma bela cena de ser vista.
Colocando o copo nos lábios, ela deu um pequeno gole como era o instruído, só que com um gostinho de vitória vindo junto do sabor amargo do vinho. Sentia sobre si o olhar intenso de Katara, que provavelmente estava cheia de questões sobre o que tinha acabado de acontecer.
Infelizmente para ela, Yue não poderia explicar no momento.
Teria de esperar até que estivessem sozinhas.
Chapter 2: A Lua Que Brilha À Noite
Summary:
— Pakku não é tão velho assim…
— Ele tem idade para ser meu avô!
O silêncio se aproximou de mansinho e entrou na tenda, deixando um gostinho de expectativa no ar que é interrompido pela fala da caçadora:
— Até que você tem razão.
O riso que elas compartilham naquela noite foi um dos melhores que ela já tinha se permitido dar.
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
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A caçadora foi o mais sorrateira possível ao escapulir da tenda principal, onde dormia a família do líder, para chegar até ao local onde os forasteiros iriam passar a noite.
Ela fez questão de verificar se alguém a tinha visto antes de passar pelos panos pesados, e ainda ficou mais alguns minutos esperando por algum barulho antes de virar-se e perceber que Katara estava acordada.
O olhar que a garota lhe lançava parecia exprimir confusão e um pouco de surpresa, no entanto, nada saiu dos lábios dela. E foi olhando o ambiente que Yue percebeu que o irmão dela já dormia, completamente largado e com um pouco de baba escorrendo no canto da boca.
Não foi possível guardar a risadinha que se libertou de seu peito. Era a primeira vez que via alguém dormir de forma tão… natural.
A intensidade com que era observada fez a caçadora lembrar o motivo de estar ali, e, embora suas bochechas estivessem levemente quentes, ela apenas ajeitou a postura, sentando de uma forma um pouco mais tensa e rígida.
— Você deveria tomar cuidado com o que diz na frente dos outros — Yue avisou de um jeito calmo, num tom baixo para não perturbar Sokka e acabar o acordando.
A compreensão do motivo da filha do líder estar na tenda deles passou pelo rosto de Katara, fazendo-a cruzar os braços e franzir os lábios em desgosto.
— Não é como se minhas perguntas fossem tolas, princesa — Ela retrucou, num tom não tão baixo assim. Estava evidente na forma como ela falava e se portava o quanto o assunto a incomodava. — As tradições são injustas, e alguém deveria questioná-las. Principalmente quando elas não trazem nenhum benefício para a aldeia.
Um pequeno sorriso se esticou nos lábios de Yue ao ouvir aquilo.
— Você tem razão — Foi tudo o que respondeu no seu tom mais gentil e tranquilo que tinha. O jeito como os olhos da morena se arregalaram foi levemente cômico, todavia ela não soltou nenhum som ao ouvir aquilo. — As tradições são injustas, mas isso não quer dizer que todas as tribos têm facilidade de compreender isso.
Com uma pontada de tristeza agarrada na sua voz, a caçadora continuou:
— E é por isso que não podemos questionar elas abertamente na frente de todo mundo.
Os braços de Katara se descruzaram, as mãos dela caindo no colo para então agarrarem o tecido que cobria suas pernas. Ela assentiu ao que entendia onde Yue queria chegar.
— Foi por isso que você nos levou até aquele velho ao invés de nos guiar até o seu pai.
— Pakku não é tão velho assim…
— Ele tem idade para ser meu avô!
O silêncio se aproximou de mansinho e entrou na tenda, deixando um gostinho de expectativa no ar que é interrompido pela fala da caçadora:
— Até que você tem razão.
O riso que elas compartilham naquela noite foi um dos melhores que ela já tinha se permitido dar.
[—]
Ajeitava seus cabelos platinados numa trança para que não atrapalhassem sua visão quando estivesse dentro da mata. Yue tinha combinado na noite anterior de encontrar Katara na borda da vila, para irem até a floresta, já que era o único local que considerava ser seguro para conversar livremente com a mais nova — afinal já estava perto da idade para casar, diferente da nova amiga que ainda tinha tempo para aproveitar — e para poder fazer sua caçada rotineira.
A albina gostava de manter-se em forma, por isso treinava quase que diariamente no período da tarde, que era quando tinha um tempo seu. Ninguém suspeitava de algo, visto que Yue era conhecida por passear na floresta nesse horário e poucos caçavam perto da região do rio platinado onde ela costumava ficava.
Ao terminar de trançar seu cabelo, ela escutou os sons de botas amassando as folhas caídas pelo chão aproximando-se. Não demorou muito para Katara aparecer entre as árvores, carregando um sorriso animado nos lábios e aquele brilho nos olhos que cativava a caçadora.
— É por aqui perto, siga-me. — Foi tudo o que disse antes de ajeitar o arco no ombro e seguir a trilha que já estava coberta de mato.
Elas andaram por um certo período de tempo, sem trocar nenhuma palavra, Yue indo na frente com confiança e leveza enquanto Katara a seguia devagar para tentar fazer o mínimo de barulho possível.
Não demorou muito para que o som de água correndo chegasse aos ouvidos das jovens, indicando que estavam perto do destino delas.
Em um determinado ponto a albina se agachou atrás de um arbusto, sendo seguida pouco depois pela mais nova.
— Ouviu algo? — A voz de Katara não perdia a intensidade mesmo quando estava presa num sussurro gentil, e perceber aquilo fez os pelos dos braços da caçadora se arrepiarem.
— Não, — Respondeu no mesmo tom, com um pouco de tranquilidade acompanhando suas palavras. — Eu apenas tenho costume de ficar nesse lugar.
Tudo o que a morena conseguiu expressar foi um simples "oh" após ouvir a explicação dela. Yue deu uma risadinha perante a reação fofa da amiga.
— Então, o que você viu durante a jornada até aqui? — A curiosidade dominava o tom de voz da albina, e era ela a razão do brilho de seu olhar.
E apenas aquilo foi o necessário para que Katara começasse a contar sobre como tinha discutido com o pai e sua avó para poder ir junto com o irmão, sobre como a viagem tinha sido complicada no início pois eles eram dois jovens ingênuos do interior — o que fez muita gente tentar se aproveitar deles —, nas pessoas que conheceu e lugares que visitou.
Claro que isso tudo não foi compartilhado na mesma tarde, pois era muita história a ser contada e as tardes de Yue passavam muito rápido na presença da mais nova.
Elas se encontravam quase sempre no bosque, tendo alguns dias em que a caçadora não podia ir porque tinha deveres a cumprir e em outros o sol não iluminava e aquecia a vila, de forma que ambas tinham de recorrer a ficar nas tendas.
E assim se passava as fases da lua, com ambas as garotas conhecendo-se, tendo poucas vezes a presença de Sokka para adicionar um pouco de humor a mais nas conversas.
[—]
— Yue, nós recebemos uma resposta — Sua mãe lhe disse, um sorriso nos lábios que indicava o quanto estava feliz com a notícia.
Ambas estavam tomando a primeira refeição do dia sem a presença de Arnook, visto que ele já estava a resolver algum problema da tribo em relação a época de baixa caça que se aproximava.
A albina num primeiro instante franziu as sobrancelhas, confusa com o que tinha ouvido. No entanto, logo o seu coração congelou dentro do peito, o medo de ser o que pensava consumindo seu corpo enquanto abaixava o copo de barro que segurava até ele estar de volta na mesa.
— Recebemos? — Foi tudo o que conseguiu dizer com o nó na garganta a impedindo de elaborar mais do que aquilo. Estava ficando um pouco difícil de respirar para ela, porém sua mãe não pareceu perceber o que sentia.
— Recebemos — A confirmação em voz cantada só mostrava o quanto Yue não iria gostar daquilo. — O líder da tribo do Oeste aceitou a nossa proposta!
A única reação da caçadora perante a animação de sua progenitora foi um fraco "oh".
— Mal posso acreditar que minha garotinha já vai se casar.
Ela também não conseguia.
Notes:
Muito obrigada a Nyssua pela betagem deste capítulo!!
Chapter 3: A Lua Cheia
Summary:
— Eu vou me casar, Katara — Foi o que a albina disse, abruptamente. Sua voz tinha saído tão fina pelo esforço que fez só para falar aquelas palavras, mostrando o quanto aquela situação estava a afetando.
Tui, ela iria achar Yue tão estúpida. Era só um casamento, com certeza não era um motivo para ela estar agindo daquele jeito, talvez ela devesse secar as lágrimas e agir como uma pessoa.
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
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Depois de receber aquela notícia, Yue pediu licença para a mãe e se retirou para sua parte da tenda principal, que era grande o suficiente para se ter cômodos separados para cada um dos membros da família do líder — se parecendo bem mais com um chalé feito de panos e madeira, tamanho era seu espaço.
E foi ali, no local onde normalmente a caçadora dormia, em que ela se permitiu deixar as lágrimas, que já borravam a sua visão, caírem de seus olhos e traçarem caminhos pelas suas bochechas.
Seu choro foi silencioso, pois o medo de seus pais passarem por ali e descobrirem o motivo de sua tristeza era maior do que o luto pela vida que tinha.
Não poderia mais fazer o que gostava, muito menos em segredo. Teria mais responsabilidades, além de que estaria unida a uma pessoa que nem sequer conhecia e muito menos amava. Pior, esse mesmo desconhecido iria governar sua tribo e sabe se lá o que ele pensava em fazer uma vez que tivesse o poder da liderança de Shuiliang.
Yue não saberia dizer quanto tempo se passou até suas lágrimas secarem e só restar uma leve dor de cabeça acompanhada de uma falta de energia e força em seus músculos, que a deixavam deitada sobre os panos quentes da tenda.
Estava agarrada ao travesseiro que usava para dormir, suas mechas brancas soltas pareciam desorganizadas pelos tecidos, visto que ainda não tinha feito um penteado no cabelo ao ter ido se alimentar com sua mãe.
Ela não sabia se havia pegado no sono no meio tempo em que seu coração doía no peito e seus pensamentos davam voltas e voltas no fato de que não teria mais sua liberdade, só sabia que, em algum momento, sentiu dedos quentes e macios passeando por sua cabeça, massageando e se enroscando por seus fios em um carinho tão gostoso que a fez se sentir um pouco menos desgastada.
Ao se virar e olhar na direção da mão, ela viu que era Katara a acariciar seu cabelo. A morena carregava no rosto uma expressão que poderia ser definida como triste. Suas sobrancelhas estavam baixas e seu olhar parecia perdido, todavia o fraco sorriso que ela sustentou no rosto ao perceber que Yue estava a olhando transmitia compaixão.
A caçadora não conseguiu manter contato visual com a amiga por muito tempo, resolvendo se esconder atrás de suas pálpebras enquanto sentia os dígitos massagearem seu couro cabeludo com um pouco mais de gentileza.
Elas ficaram assim por alguns minutos, o silêncio instalado no ambiente dando espaço para reunir coragem e organizar ideias, enquanto ambas aproveitavam a presença alheia.
— Eu vou me casar, Katara — Foi o que a albina disse, abruptamente. Sua voz tinha saído tão fina pelo esforço que fez só para falar aquelas palavras, mostrando o quanto aquela situação estava a afetando.
Tui, ela iria achar Yue tão estúpida. Era só um casamento, com certeza não era um motivo para ela estar agindo daquele jeito, talvez ela devesse secar as lágrimas e agir como uma pessoa.
— E pelo visto, você não o ama — A voz calma e tranquila da morena interrompeu sua linha de raciocínio, no entanto a albina estava grata por ela a entender.
— Eu sequer conheço ele! — Resmungou ainda com um pouco de dificuldade de falar, embora agora sentisse um calor dominar seu corpo diante a injustiça de não poder sequer escolher o seu próprio futuro. — A única coisa que me disseram é que ele é do Oeste e que se chama Rem.
Inspirando fundo para ver se conseguia recuperar a compostura, ela se ergueu até que estivesse sentada de frente para Katara.
— Não sei quem ele é — Falou com uma entonação triste agarrada a suas palavras. — Nem tenho ideia de como pretende guiar o meu povo, minha tribo, minha vida. Só sei que devo confiar na escolha de meus pais, e se escolheram ele…
— Não precisa ser assim Yue — A mão que antes estava em sua cabeça lhe acariciando agora tinha ido parar em seu colo para agarrar a semelhante com certa força, como se pudesse dar um pouco de sua vitalidade para a amiga.
— É a tradição Katara — A albina retrucou de forma amarga, impedindo a outra de contra argumentar. — Meus pais não me ouviriam se eu dissesse que estou desgostosa com a escolha deles, e mesmo se escutassem, não tenho ninguém que realmente tenha meu coração e possa ser o próximo líder de meu povo.
O aperto em sua mão foi o único consolo que a mais nova conseguiu lhe dar naquele momento.
[—]
— Aqui, tome esse chá — A morena lhe entregou o copo de barro com o líquido quente em suas mãos. Ela tinha um sorriso nos lábios que pareciam a transmitir tranquilidade a caçadora bebia um gole.
— É muito bom! — Yue comentou, surpresa com o sabor doce e calmante que o chá tinha. — Onde vocês compraram essas folhas?
— Encontramos com um senhor no Leste que é apaixonado por chás, ele que nos recomendou as folhas dos vários sabores que temos — Katara respondeu para logo depois beber um pouco de seu copo.
— Ele não só é viciado em água de folha como também tem conselhos muito bons — Sokka comentou enquanto passava um pano em seu bumerangue, seu fiel amigo na viagem pelo que tinha dito a albina.
— Se ele te escutasse desrespeitando o chá assim…
O riso que saiu de Yue foi o som mais alegre que tinha feito após alguns dia aceitando o fato de que estava noiva. Sabia pela forma como a morena parecia manter seu rosto sério que a fala do irmão dela não era algo que ele realmente diria ao senhor que conheceram – provavelmente era uma piada interna.
A caçadora sabia muito bem que eles estavam tentando lhe deixar mais animada, e sinceramente, estavam conseguindo.
Ter a companhia de ambos era muito refrescante, e embora ambos discutissem bastante, assistir eles era deveras interessante.
Quando ela percebeu que o clima agradável estava muito silencioso, embora os irmãos estivessem no mesmo lugar, resolveu olhar na direção deles só para ver o sorriso satisfeito que se esticava nos lábios de ambos.
Ver tanto carinho nas expressões alheias fez com que as bochechas dela se esquentassem, algo que tentou esconder ao dar mais um gole no chá.
— E você tem certeza que não ama ninguém, Yue?
— Sokka!
— É só uma pergunta — Retrucou ele de forma levemente agressiva, provavelmente não gostando que a irmã tenha o repreendido. — Não haja como se não tivesse interessada também, porque sei que está.
A albina olhou para Katara com confusão no olhar, e ver a mesma corando não ajudou muito a responder suas questões. Ela não parecia ser muito interessada em assuntos do coração, porém Yue poderia estar enganada.
— Para ser sincera — Começou a dizer, a insegurança fazendo sua voz soar levemente trêmula. — Não sei se já cheguei a amar alguém.
Os irmãos parecem chocados com o que escutam, pois Sokka não conseguiu fazer nenhum som além de um “ah” e Katara estagnou o copo no ar, sem saber se o colocaria de volta nos lençóis que serviam de chão ou se iria beber o chá.
— Nunca sentiu o coração disparar por alguém?
— Ou teve problemas pra dormir porque não conseguia parar de pensar numa pessoa? — Complementou o único homem do cômodo, no mesmo tom de voz perplexo da morena.
— Nem percebeu que suas pernas estavam trêmulas e que o coração disparava ao falar com alguém?
— Ou sentiu algo engraçado no estômago, como se o que comeu não tivesse caído bem? — Ao que Sokka tinha dito aquilo, sua irmã apenas ergueu uma sobrancelha numa clara expressão de desgosto pela forma como ele explicou.
— Eu acho — A albina relembrou rapidamente de como vivia antes de ter que se preocupar com a idade para casório. —, bem, acho que não.
Novamente, ambos os jovens de Shuijia pareciam desacreditados nela, embora Yue não ficasse chateada com aquilo. Sabia que era meio estranho não ter tido nenhum interesse romântico em alguém, principalmente quando estava na época certa para vivenciar um.
Porém agora que parava para analisar, talvez ela tenha sim amado uma pessoa. Listando novamente os sintomas citados pela dupla experiente, ela conseguia reconhecer em seus gestos recentes alguns traços da lista.
A caçadora às vezes não conseguia dormir, pois acabava relembrando as conversas que teve com Katara, na forma como ela sorria ao escutar as coisas que dizia, o franzir de sobrancelhas acompanhado de lábios tensos e espremidos em uma linha a cada vez que Yue falava das injustiças que aconteciam na tribo.
Não só recordava dos trejeitos dela, como também do toque reconfortante que a mão da mais nova tinha, de como o olhar castanho brilhante sempre a deixava com as bochechas quentes e em como o coração palpitava mais rápido quando era abraçada pela outra.
Oh, Tui. Talvez Yue tenha chegado a amar alguém, só não tinha percebido antes.
[—]
A água que corria pelo lago platinado era quase um calmante para a caçadora. Ela respirava fundo, tomando coragem para o que iria fazer naquele momento.
— Qual era o segredo que queria me contar? — A bela e intensa voz de Katara a fez abrir os olhos para encará-la. Era óbvio a curiosidade nela, visto que estava o mais próxima de si possível, a expectativa emanando de si como uma aura quase visível.
Yue mordisca os lábios, ainda meio insegura se era a escolha certa a se fazer. Ao ver o olhar brilhante da mais nova, ela resolveu que seria agora ou nunca.
— Eu… talvez esteja — Inspirou, tentando controlar a sua voz trêmula. — talvez eu esteja amando alguém.
Os lábios da morena se entre abriram pela surpresa e ela chegou a arfar um pouco, parecendo não saber exatamente como reagir a informação jogada a si.
— Sério? Isso é bom… não é?
— Não acho que meus pais vão aceitar quem está com meu coração — A tristeza se agarrava as palavras que saíam da albina que olhava para as árvores atrás da outra.
— Por que não iriam? — Katara questionou com curiosidade ao que sua mão se encontrou com a semelhante que estava no colo de Yue, querendo dar algum tipo de apoio a mais velha.
— Porque é alguém que chegou recentemente na tribo — Foi a resposta da caçadora à morena. Seus olhos se encontraram com as orbes castanhas, dando um pouco mais de seriedade e intimidade a sua confissão. — , e não é exatamente um herdeiro, embora tenha todas as qualidades que um precise.
A única coisa que escapa os lábios da mais nova foi um “oh”. Ela parecia meio perdida sobre o que Yue queria dizer, porém mesmo assim apertou a mão dela, como se precisasse que ter certeza que a albina estava ali, do lado dela.
Ao que Katara parecia assimilar a informação que tinha a dado, a caçadora aproveitava para observar-la. Seus cabelos nos tons mais escuros do castanho tinham pequenas ondulações presas num rabo de cavalo, e suas sobrancelhas franzidas faziam ruguinhas aparecerem em sua testa – não era algo que deveria achar bonito, porém na morena parecia ser um belo pequeno detalhe.
Yue nem percebeu que um sorriso apaixonado adornava seus lábios enquanto a observava, todavia viu o vermelho ir ganhando espaço na pele escura da jovem a sua frente, deixando suas bochechas bem interessantes de olhar.
— Essa pessoa que você está se referindo… — Katara começou a falar com a voz meio aguda, parecendo nervosa só de colocar as palavras para fora de si. — por acaso seria eu?
Tudo o que ela ganha como resposta é um breve assentir da albina, os olhos azuis da caçadora cheios de paixão e felicidade apenas confirmando a pergunta que tinha feito.
E tão rápido como uma flecha acertando seu alvo foram os lábios dela se encontrando com os de Yue num beijo cheio de promessas e descobertas.
Foi um pouco desorganizado, súbito e intenso, no entanto nada disso fez o primeiro beijo delas ser uma experiência ruim — não, aquela seria a memória que guardariam no coração enquanto suas bocas conheciam o gosto alheio e os corações batiam acelerados.
Era o início de uma nova jornada.
Chapter 4: A Lua Nova
Summary:
— Yue?
— Pois não? — ela respondeu tranquila, com os pensamentos lotados de abraços quentinhos e juras de amor.
— Quero que você pare de se encontrar com a forasteira.
Notes:
como vocês podem ver eu adicionei mais um capítulo pra fic ent ao invés de estar faltando apenas mais um pra finalizar, faltam dois 💀💀
eu percebi que tive de cortar os acontecimentos do cap 5 em dois ent acabou surgindo mais um capítulo, desculpa a
também sinto muito pela demora, eu tava com uns problemas criativos com essa fic mas eu consegui colocar essa história pra frente — mas não garanto uma atualização tão cedo, a
enfim, espero que gostem, boa leitura
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A noite passada tinha sido tão boa para Yue que ela quase achou que fora um sonho. Os lábios de Katara nos seus, o calor de sua pele, as palavras que traziam alegria e promessas que faziam seu coração palpitar só de cogitar serem reais — tinha sido um momento maravilhoso, e sabia que a morena concordava consigo.
Nos dias que se passaram, ambas aproveitaram qualquer tempo que tivessem para passarem juntas.
As tardes de Yue, quando não surgia um afazer aleatório para ocupá-la, acabavam sendo, majoritariamente, passadas na companhia de Katara, no lago platinado.
Tinham raras ocasiões em que acabavam por ficar na tenda designada aos irmãos de Shuijia, onde eram mais discretas ao trocarem carícias por causa do medo da albina de acabarem sendo vistas.
Elas conversavam sobre coisas que gostariam de fazer caso a situação delas fosse diferente, as mãos entrelaçadas e um sorriso em ambos os rostos enquanto estavam deitadas nos panos da tenda. Algumas vezes, a morena contava várias piadas bobas apenas para ouvir a risada de Yue — que acabava ficando com os olhos lacrimejados e um tom rosado nas bochechas de tanto rir, todavia, não deixava de ser uma bela bagunça aos olhos de Katara.
Era lindo como acabavam criando um ambiente único delas, um pequeno universo que apenas elas tinham a chave para entrar — no entanto, também era algo muito perigoso.
Por mais que tentassem ser discretas, isso não as impedia de roubar um selinho ou outro.
E foi numa dessas vezes em que estavam aproveitando a presença alheia que acabaram se distraindo demais em deixar a outra bobinha, não prestando atenção no que ocorria a sua volta.
— Katara? — A voz grossa que abruptamente cortou o momento delas continha um tom de surpresa, e foi com o coração acelerado e prestes a sair de ambas as bocas que elas viram que parado a porta estava Sokka.
Yue prendeu o ar em seus pulmões e olhou para a mais nova, tentando achar algum tipo de conforto nela. No entanto, ao ver a expressão irritada que ela carregava, a confusão foi plantando perguntas em sua mente desesperada.
— Já falei para não entrar na tenda de mansinho! — a morena reclamou em um tom estressado, no entanto seu irmão não parecia nem um pouco assustado por estar recebendo uma bronca dela.
— Não adianta tentar disfarçar o que estavam fazendo, Katara — retrucou Sokka. Seu tom de voz não deu brecha para nenhum sentimento além de leve irritação e o rosto estava livre de emoções.
A postura da morena perdeu a seriedade e o ar de irritação que ela passava mudou para algo mais frustrado. Os ombros dela estavam curvados e seus olhos encaravam os lençóis abaixo dela.
Yue não estava entendendo o que rolava ali. Seus coração estava acelerado, a adrenalina corria pelo seu sangue, a deixando inquieta.
E, mesmo assim, o medo a impedia de falar alguma coisa, travando sua voz na garganta com um bolo de emoções.
Foi ali que ela percebeu que estava sendo muito tola. Como poderia tentar ter algo com Katara se não conseguia se impor quando o momento precisasse?
Um suspiro chamou a atenção de Yue. Ela viu Sokka balançar a cabeça em negação e por um momento temeu o pior.
— Por favor, não conte aos meus pais! — ela conseguiu dizer, desesperada, surpreendendo não só aos irmãos como a si mesma.
— Por que eu contaria aos seus pais? — Sokka questionou com as sobrancelhas franzidas, claramente confuso com a fala dela. — Eles não tentariam afastar vocês ou algo assim?
Espantada com a resposta dele, Yue olhou para Katara. Ela parecia focada em analisar sua reação, definitivamente, nem um pouco preocupada com o que o irmão pensava.
— Sim, mas… — Com o indicador, ela colocou uma mecha atrás da orelha, ainda tentando compreender o que estava acontecendo. — Você não se importa? Que, bem, eu esteja namorando sua irmã?
Yue sentiu sua mão ser segurada com firmeza e soube que Katara tentava lhe dar apoio, mesmo que ela fosse a única que supostamente deveria precisar naquele momento.
— Não? — Sokka respondeu, embora parecesse mais que ele estivesse questionando alguém sobre. — Se a Katara está feliz, por que motivo eu deveria me importar?
Ouvir aquilo, mesmo que fosse de um não conhecido, aqueceu o coração de Yue. A vida toda ela teve de escutar o quanto as pessoas não gostavam do diferente e o quão errado era e, pela primeira vez, estava escutando o contrário.
Sokka tinha falado com tanta convicção que, naquele momento, ela chegou a pensar que talvez ainda estivesse esperança para elas.
— Fico feliz em ouvir isso. — Yue disse, deixando um sorriso lhe tomar os lábios.
O jovem retribuiu o gesto e ela sentiu Katara beijar sua mão.
— Só peço para que vocês tomem mais cuidado. — Ele avisou com um tom de voz carregado de preocupação. — Dessa vez vocês tiveram sorte que fui eu, imagina se tivesse sido algum servo?
— Relaxa mano, a gente sabe se cuidar.
[—]
Aquela noite, Arnook não pode jantar com a família por ter alguns assuntos para resolver como líder da tribo. Os forasteiros tinham decido comer na tenda deles, provavelmente conversando sobre a nova descoberta de Sokka.
Yue sorria ao lembrar do que tinham conversado e de como o jovem tinha sido suportivo sobre o relacionamento que tinha com Katara.
Diferente de si, sua mãe parecia meio distraída. O olhar dela parecia distante e ela mal tinha tocado na comida. Yue teria suspeitado do humor da mulher se ela não tivesse tão feliz e alheia ao que acontecia.
Aquele jantar teria sido apenas mais um se sua mãe não tivesse a chamado antes de se retirar.
— Yue?
— Pois não? — ela respondeu tranquila, com os pensamentos lotados de abraços quentinhos e juras de amor.
— Quero que você pare de se encontrar com a forasteira.
Ao escutar aquilo, ela franziu suas brancas sobrancelhas. Yue demorou poucos segundos para entender o que a mãe tinha dito e mesmo assim teimou em perguntar:
— O que quer dizer com isso? — Suas mãos estavam geladas e seu coração pedia para que saísse daquele lugar o mais rápido possível, no entanto, os pés dela estavam bem cravados no chão.
Yue duvidava que conseguisse sair da sala de jantar sem a permissão de sua mãe.
— Você sabe o que quero dizer. — O olhar feroz que sua progenitora a mandava lhe fez engolir as palavras que planejava dizer. — Não quero mais você se encontrando com aquela garotinha.
Yue sentiu as lágrimas chegarem em seus olhos, porém segurou o choro.
— Por que está dizendo isso tão de repente? — Ela torcia para que estivesse errada, embora tudo apontasse para que Sokka não tivesse sido o único a descobrir sobre o namoro.
— Porque o que vocês tem já não é mais normal! — sua mãe sibilou. Pela forma como ela segurava os talheres, estava com certeza se controlando para não gritar e deixar os servos escutarem o que dizia. — Você está comprometida, pelos deuses! Não tem noção de que o que vocês têm não irá a lugar nenhum?
Yue se manteve calada. Sabia que dizer o que sentia para a mulher a sua frente não iria fazer diferença: não seria escutada. Do que adiantaria falar que amava Katara? Que todas as tardes que passava com ela lhe deixavam tão feliz e livre, que a faziam se sentir como se pudesse dominar e destruir o mundo se quisessem? Que não queria casar com alguém que sequer conhecia e tão pouco sentia algo por?
Sua mãe não entenderia, sequer tentaria compreender o que estava sentindo ou pensando.
Então ela assentiu, como se tivesse aceitado o seu destino. Talvez tivesse, só que não deixaria as coisas acabarem assim.
— Entenda, minha cara Yue, que eu só quero o seu bem. — A albina escutou as palavras carinhosas, um tom tão diferente de a minutos atrás e não conseguiu sentir nada mais que uma grande indiferença, tamanha era a dor em seu coração. — Por isso mesmo que já enviei uma carta pedindo o adiantamento do casamento para ainda esse mês.
Yue lançou um olhar ferido para a mãe, no entanto não disse nada. Ela sentiu uma lágrima escorrer por sua bochecha e a limpou com força.
— Não chore minha querida, você vai ver que é o melhor para você. — sua mãe falou em um tom gentil e tranquilo, não que a albina tivesse se sentindo melhor ao escutar aquilo.
Afinal, quem ficaria satisfeito em ser lembrado de que nunca teve uma escolha em como dirigir a própria vida?
Notes:
quero agradecer ao Eyler por ter betado esse capítulo, muito obrigado nene pela sua ajuda 💞
Chapter 5: A Lua Escondida Sob As Nuvens
Summary:
Katara já não estava de bom humor fazia uma semana, que era basicamente o tempo em que Yue praticamente sumiu de sua rotina. Sem ter tido uma mensagem ou aviso sobre, a caçadora simplesmente desapareceu da própria tribo. E, para melhorar, sempre que ela tentava ver como a albina estava, surgia algum servo para lhe impedir, com alguma desculpa que fingia acreditar.
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
Chapter Text
Yue abriu os olhos com dificuldade, sentindo o cansaço dominar seu corpo e forçá-la a ficar deitada. Após a notícia que sua mãe lhe dera, não tinha conseguido dormir. Passou à noite virando-se nos lençóis, cochilando em alguns momentos só para se ver acordada em outros.
Já deveria ser de madrugada pelo silêncio absoluto que residia por ali, completamente diferente do barulho que existia na cabeça e no peito da caçadora.
Frustração, medo, raiva e tristeza dominavam o corpo dela, de forma que ela não sabia o que fazer naquele momento. Queria tanto ver Katara, todavia tinha consciência de que sua mãe provavelmente colocaria servos para ficarem observando suas ações e que qualquer contato que ambas fizessem seria relatado à sua progenitora. Seria tão mais fácil se pudesse ao menos se despedir de sua amada…
Com um suspiro, Yue se virou nos lençóis, ficando de lado. Seus dedos brincavam com as mechas do cabelo, numa tentativa de ignorar os próprios sentimentos para tentar ao menos conseguir organizar seus pensamentos.
A caçadora tentou imaginar como seria viver com o futuro marido. Seria ele bonito? Se fosse pra ficar com alguém que não sentia um simples palpitar no coração, ela esperava que o jovem fosse pelo menos belo ao ponto de tirar o fôlego das pessoas com um simples sorriso ou um arquear de sobrancelhas.
Se bem que isso não adiantaria nada se ele não fosse gentil e educado. Do que adianta ter beleza e ser um grande idiota que só vê as pessoas como objetos, uma forma de alcançar seus objetivos?
Tui, ela sequer conseguia se ver cozinhando ou até mesmo aproveitando a companhia de uma pessoa sem rosto, porque quem verdadeiramente ocupava seus cenários imaginários era Katara.
A jovem de Shuijia, com seu olhar determinado e seu sorriso confiante, que tinha um toque reconfortante e lábios aquecidos. A mesma que contava piadas bestas apenas para lhe ouvir rir e que tinha sempre uma opinião sobre como o mundo poderia melhorar. Aquela que desafiou a própria família para participar no ritual matrimonial do irmão, apenas porque achava injusto ficar presa na tribo, sem realmente conhecer o mundo lá fora.
Yue estava realmente preparada para a deixar ir embora pelos seus dedos? Teria tranquilidade na mente em largar o precioso amor que tinha dela para ficar com alguém que sequer sabia se seria capaz de gostar?
Trocaria algo tão verdadeiro que a fazia questionar se sequer já esteve viva antes de a conhecê-la — tamanha era as emoções que Katara conseguia lhe fazer sentir dentro do peito —, por algo que só traria dúvidas e cansaço só de tentar fazer um relacionamento fadado ao fracasso funcionar?
Ao agarrar os lençóis com força entre seus dedos, um sentimento foi se solidificando em seu peito. Pela primeira vez em sua curta vida, Yue estava decidida a fazer algo, mesmo que ainda não tivesse certeza do que seria.
Tudo o que sabia naquele momento é que não iria se casar com o Rem do Oeste.
[—]
— Pra onde estamos indo afinal? — Katara questionou o irmão, ao perceber que estavam caminhando na trilha fazia quase meia hora.
Já tinha sido suspeito que Sokka a tivesse chamado para irem caçar, uma vez que ele não era lá um dos melhores caçadores. Tanto por ser ruim em rastrear os bichos e sempre hesitar em dar o golpe final em suas presas — que acabavam, na maioria das vezes, fugindo dele nesse pequeno tempo de compaixão —, como também porque sempre preferiu colher alimentos da própria mata e a pescar.
Seu irmão apenas a observou pelo canto do olho, não parecendo ter a mínima vontade de se explicar. Isso fez ela suspirar de forma irritada antes de morder os lábios.
Katara já não estava de bom humor fazia uma semana, que era basicamente o tempo em que Yue praticamente sumiu de sua rotina. Sem ter tido uma mensagem ou aviso sobre, a caçadora simplesmente desapareceu da própria tribo. E, para melhorar, sempre que ela tentava ver como a albina estava, surgia algum servo para lhe impedir, com alguma desculpa que fingia acreditar.
A jovem de Shuijia não fazia ideia do que tinha feito para receber tal tratamento e isso a deixava cada vez mais preocupada e irritada. Quando ficava com esse tipo de humor, Katara normalmente gostava de evitar de socializar com as pessoas — principalmente com seu irmão, que parecia ter um sexto sentido para a deixar num estado ainda pior — e seguia sua rotina sozinha.
Ainda assim, quando Sokka a chamou no café da manhã para irem caçar, ela sentiu seu coração se comprimir e a ponta de seus dedos formigarem. Mesmo que fosse um pedido abrupto e suspeito, a mais jovem sabia que deveria ir com ele, então concordou em ir com o irmão.
Algo que estava quase se arrependendo de ter feito.
No momento em que ela abriu a boca para interrogá-lo mais uma vez, o barulho de água correndo chamou sua atenção. Katara franziu as sobrancelhas em confusão, sentindo seu coração se acelerar ao perceber que o som era-lhe familiar.
Ainda assim, restava a dúvida: por qual motivo Sokka teria a trazido ao Lago Platinado? E por um caminho longo, como se não quisesse que as outras pessoas soubessem que estavam indo para o único lugar em que o pessoal de Shuiliang sabia que Yue ficava às tardes–
Katara agarrou o braço do irmão antes que pudessem entrar no pequeno vale que a caçadora tinha proclamado como seu.
— Isso não vai ser uma despedida, vai? — As palavras saíram de sua boca antes que ela conseguisse fazer algum sentido de todas as informações que tinha organizado em sua mente. O olhar confuso que Sokka havia mandado em sua direção se suavizou.
Ao segurar o braço dela, ele deu um pequeno aperto, tentando lhe passar confiança antes de dizer:
— Isso vai depender apenas de vocês.
Katara assentiu de forma automática, embora não soubesse exatamente como deveria estar se sentindo. A adrenalina de ver Yue escondida fazia seu coração bater de um jeito acelerado e forte, de forma que nublava qualquer outra emoção que pudesse estar dentro de si.
Com um suspiro trêmulo, ela se distanciou do irmão e passou pelos arbustos que a separavam de sua querida caçadora.
[—]
Talvez fosse porque tinham ficado muito tempo sem se verem, ou porque no momento sentia-se numa mistura de ansiedade com desespero que a deixava com um aperto incômodo no peito e a cabeça bagunçada, todavia Yue parecia muito mais linda do que a última vez que a tinha visto.
Katara não chegou a notar o olhar cabisbaixo da outra, ocupada demais em apenas vê-la de tão perto e em sentir o ar sair aos pouquinhos de seu pulmão.
La, como tinha sentido falta de estar no mesmo ambiente em que ela. Suas batidas cardíacas eram tão fortes e marcadas dentro de seu peito apenas de se ver perto da caçadora.
Ainda atordoada, Katara seguiu firme até chegar perto da albina, que ao perceber sua presença, lhe olhou de forma receosa e curiosa. Ver essas emoções dentro do olhar de Yue fez com que ela sentisse um aperto no coração. Não demorou muito para que seus braços estivessem em volta dela, os dedos agarrando com firmeza o tecido da roupa alheia.
— Eu senti tanta falta sua. — a jovem de Shuijia comentou de forma engasgada, sentindo os olhos lacrimejarem. Querendo evitar o choro de sair, ela escondeu o rosto no pescoço da outra.
Mãos hesitantes a apertaram de volta, como se tentassem passar um conforto, como se dissessem “eu estou aqui, isso é real.”
O calor que o corpo de Yue lhe passava era reconfortante e ao mesmo tempo indignante. As questões que viveram na cabeça de Katara estavam novamente surgindo em sua mente, a fazendo sentir-se sufocada.
— Por quê?... — Foi a única coisa que conseguiu fazer atravessar seus lábios, já que um nó havia se formado em sua garganta a impedia de especificar o que queria saber.
A resposta que recebeu foi um gemido choroso e um maior aperto no abraço, como se Yue não a quisesse soltar.
Era óbvio que ambas estavam sentindo um turbilhão de emoções ao mesmo tempo e, pela reação da albina, aquele afastamento não tinha sido feito por vontade própria. Embora isso fosse uma boa notícia, o fato de que elas tinham sido separadas ainda era doloroso o suficiente para a deixarem mudas.
Em algum momento, uma delas sentiu a perna tremer. Isso fez com que ambas acabassem deslizando até se sentarem no chão, ainda abraçadas.
Yue agora também prendia Katara com suas pernas, parecendo decidida a não se soltar dela enquanto ainda tivessem tempo.
La, quantos segundos elas ainda tinham para aproveitarem juntas?
[—]
Sentado na pedra que ficava a poucos metros de distância delas, Sokka observava a reunião emocional do casal com um pequeno aperto no próprio coração.
Doía em si ver sua irmã ficar cada vez mais frustrada e irritada por não ter informação nenhuma sobre a outra, todavia vê-la chorando e agarrando a roupa da princesa como se o tecido fosse um bote salva-vidas era um novo tipo de aperto em seu peito.
O próprio jovem de Shuijia não compreendia direito o que estava acontecendo. Tinha suas teorias, afinal, havia sido Pakku quem havia dito para ele ir até o Lago Platinado e trazer a sua irmã junto.
O mais velho só esperava que essa despedida não deixasse cicatrizes tão profundas em Katara.
— Gente, — Sokka chamou, ao perceber que elas pareciam estar mais calmas e livres de lágrimas. — acho que está na hora de explicar o que está rolando.
Sua irmã tinha lhe olhando com uma mistura de surpresa e repreensão — sabe-se lá o porquê ela não queria que ele tivesse dito algo —, todavia Yue apenas assentiu, levemente atordoada.
— Eu irei. Obrigada por terem vindo.
— Não é como se Pakku tivesse me dado muitas opções. — O tom de voz de Sokka exalava brincadeira e bom humor, algo que se espelhava em seu sorriso ladino. O mesmo não poderia ser dito de seus olhos, porém, que continham uma certa sobriedade enquanto analisava a albina.
Yue apenas assentiu mais uma vez antes de voltar a falar.
— Minha mãe… ela descobriu — O arfar de Katara pareceu ser o suficiente para fazer Yue encolher os ombros e olhar para o seu colo, onde mantinham suas mãos dadas. — Ela não aceitou muito bem, como era de se esperar, e resolveu antecipar o casamento.
Com tudo que estava aprendendo em Shuiliang, os sorrisinhos bobos e o bom humor de Katara e as pessoas que estava conhecendo, Sokka tinha até esquecido daquele pequenino detalhe.
— E com isso ela também me proibiu de te ver — A forma suave e carinhosa que Yue olhava para a sua irmã fazia o jovem sentir-se um intruso ali.
Ainda assim, ele continuou olhando. Dava para ver o quanto elas consideravam a outra apenas pelo jeito como se olhavam; as pupilas dilatadas, brilhantes e cheias de carinho. A forma como elas não conseguiam realmente se afastar, como tentavam se manter na órbita da outra ou apenas se tocando — dedos entrelaçados, pernas emboladas e as testas unidas —, o deixavam esperançoso de que no futuro, talvez, ele pudesse ter aquilo com alguém também.
Só que sem a parte de estar com uma pessoa que ia noivar, claro.
— E o que você pretende fazer? — Mais uma vez, Sokka interrompia o adorável momento delas, fazendo Katara lhe olhar com desagrado.
Com um suspiro cansado, Yue desviou seus olhos para a árvore que estava do lado oposto aos irmãos.
— Eu não sei — ela revelou, com um tom choroso agarrado na voz. — Não quero mais fazer o que meus pais desejam, quero fazer o que eu desejo. Só não sei ainda como…
— O que você quer dizer? — Era óbvio para Sokka que Katara já tinha uma ideia do que a albina tentava falar. A forma como ela soava levemente esperançosa embora tentasse disfarçar isso com um olhar sério e sobrancelhas franzidas em concentração a entregavam facilmente para ele.
Os olhos cristalinos de Yue se voltaram para sua irmã, vibrando de determinação. O jovem de Shuijia prendeu a respiração a ver um olhar tão vivo nela, momentariamente atordoado com o que presenciava.
— Significa que não irei me casar com um desconhecido. — A voz da princesa soava firme, como se não tivesse nenhuma dúvida do que pensava e quisesse que as pessoas a escutassem.
Não era o mesmo tom que ela tinha usado no jantar, alta na medida certa para chamar a atenção dos outros porém não o suficiente para parecer escandaloso. Um tom controlado, sem emoção e falso.
Não, o jeito com que ela tinha proferido aquilo clamava por espaço, exigia que fosse escutado e tinha um certo êxtase — como se apenas decidir que não iria seguir o planejamento dos outros já tivesse sido um grande passo para ela.
Talvez tivesse sido.
— Se você não pretende se casar… Como vai fazer para seus pais entenderem isso? — Katara questionou, parecendo tão alheia pelo que via quanto Sokka se sentia.
A luz nos olhos de Yue murchou ao mesmo passo em que ela encolheu os ombros.
— Não pretendo falar com eles.
O silêncio que se seguiu era frio e desconfortável. O farfalhar das folhas tentava amaciar a situação, todavia o vazio e nervosismo dentro do estômago de Sokka não o deixavam aproveitar do som.
— Yue…
— Eles não vão me escutar, Katara. Sei disso melhor do que ninguém.
— É por isso que você não sabe como vai evitar o casamento. — o jovem de Shuijia comenta, usando seu indicador para tapear o queixo. A albina assente, cabisbaixa.
— Só há duas formas de acabar com um casamento arranjado segundo as nossas tradições — Yue disse enquanto rodeava uma mecha de seu cabelo no dedo. — Ou um de nós tem que ser declarado morto, ou o noivo cancela o matrimônio através de uma luta contra o líder da tribo.
— Uma luta? — Katara questiona, franzindo as sobrancelhas em descredito.
— Se por acaso a família do noivo receber uma proposta melhor ou resolver que a oferta não vale a pena, eles tem que provar que são fortes e honrados. — a princesa explicou, ainda brincando com seus fios brancos. — Não importa quem ganha ou quem perde, e sim que o noivo é um guerreiro respeitoso e que não está apenas desmanchando o noivado por egoísmo ou ganância.
Antes que Katara abrisse a boca para, provavelmente, criticar a lógica de uma tradição que com certeza era mais velha que a avó deles, Sokka aproveitou o momento para tomar a frente da conversa.
— Então isso exclue a possibilidade de tentar fazer um acordo com o cara para impedir o casamento, né?
Yue assentiu.
— Também não acho que ele deve estar recebendo muitas propostas, já que aceitou a nossa tão rápido. — Um sorriso triste e vazio se apoderou dos lábios da albina. Sua irmã logo a tinha puxado para um meio abraço, enconstando a bocheca no cabelo dela enquanto acariciava os braços da princesa.
— E ele com certeza não tem um probleminha de saúde e nem corre risco de ser assassinado? — Sokka perguntou, levemente desacreditado.
Katara revirou os olhos perante ao que seu irmão havia dito, todavia seu foco permaneceu em continuar confortando Yue.
— Se ao menos tivesse uma forma de eu sumir…
O jovem de Shuijia olhou para o chão e analisou as sandálias que usava no pé. Ele queria achar uma forma de deixar as garotas felizes. Seu coração já sentia-se esmagado no peito só pelo que tinha escutado e visto, o fazendo sentir-se triste e frustrado.
Ele sabia que era… complicado de aceitar e se acostumar com o diferente, com o que ia contra as tradições e afins. Ainda assim, viajar com Katara tinha sido mil vezes mais divertido e animado do que seria se ele tivesse ido sozinho. E se sua irmã, a pessoa que mais amava e uma das poucas pessoas importantes que tinha, estava feliz — por que ele deveria ser contra?
O som do riacho tomou o lugar do farfalhar das folhas, deixando o clima menos sufocante, como se a água que fluía dele estivesse levando todos os problemas junto.
A mente de Sokka deu um estalo.
— Talvez haja.
As garotas olharam para ele, a expressão em seus rostos deixando óbvio a sua confusão.
— Não me diga que surtou agora.
— Talvez haja o quê?
Um sorriso foi aos poucos surgindo nos lábios de Sokka conforme o plano se montava em sua cabeça.
— Talvez haja uma forma de você sumir.
Chapter 6: Eclipse
Summary:
Se não fosse pela neblina que habitava dentro de si, Yue não teria dúvidas de que se sentiria culpada — se era por preocupar alguém de sua tribo ou se era pelo que iria fazer, ela não saberia dizer.
Notes:
essa fic quase fez um ano. mAAAS aqui esto eu, com o próximo capítulo !! e com isso, só falta o epílogo, weeee (que eu já comecei a rascunhar, então não fiquem nervosos em ter de esperar ainda mais, oof)
espero que quem ainda acompanhar essa fic fique agradade com o desenrolar dessa capítulo, a
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Chapter Text
As íris azuladas de Yue estavam focadas em uma rachadura do copo de barro que segurava. Tinha algo ali, naquela linha partida quase escondida pela pintura, que chamava a sua atenção de uma forma inexplicável. Ela sequer percebia que a textura fria do objeto estava começando a gelar seus dedos, contrastando com a fumaça que saía do líquido dentro dele.
— Senhorita Yue?
Piscando lentamente, a albina se voltou para a outra mulher que também estava no cômodo. O olhar curioso que recebia da serva lhe fez franzir as sobrancelhas em confusão, não entendendo o porquê de estar sendo observada daquele jeito.
Já fazia uns dias que sua cabeça parecia mais lenta que o normal. Ela se via distraída, não conseguindo acompanhar as conversas com outras pessoas e tudo o que sentia dentro do peito era um leve batimento arrítmico — nenhum sentimento desagradável ou intenso se localizava por ali.
— Pois não? — Yue finalmente respondeu, ignorando o fato de ter ficado quieta por mais tempo do que o necessário.
A serva apenas inclinou a cabeça, ficando ainda mais confusa. Pela forma como ela pressionou os lábios numa linha reta, a albina suspeitava que a outra estivesse estranhando um pouco o seu comportamento.
— Estava apenas querendo dizer que estou feliz em te ver mais sorridente — A voz dela parecia estar animada, embora uma parte de seu tom soasse aliviado.
Yue sentiu seus lábios se esticarem em um sorriso frágil. Um dos lados bons de estar tão devagar quanto uma tartaruga era que suas expressões forçadas ficavam mais naturais para os outros.
— Deseja mais alguma coisa além desse chá, senhorita?
— Não, obrigada — A albina respondeu, sendo o mais gentil possível. — Você já me deu tudo o que eu precisava.
A serva assentiu, alegre, provavelmente pela "melhora" no humor de sua princesa. Se não fosse pela neblina que habitava dentro de si, Yue não teria dúvidas de que se sentiria culpada — se era por preocupar alguém de sua tribo ou se era pelo que iria fazer, ela não saberia dizer.
[—]
— Perdão? — A voz de Pakku soava descrente, combinando com sua expressão chocada. Seus lábios estavam curvados para baixo em incredulidade e suas sobrancelhas arqueadas, obviamente não compreendo o que estava acontecendo naquele momento.
O caçador achava que tinha escutado algo errado, porque o que tinham lhe dito não fazia sentido. Aquela situação estava muito estranha para o seu gosto — em seu estômago conseguia sentir um desconforto, como se seu corpo tentasse lhe dizer que tinha informação faltando naquele quadro mental que havia montado.
— Minha filha está morta, Pakku. — O tom de finalidade com que as palavras haviam sido proferidas pelo líder de Shuilang foi incômodo. Um leve aperto em seu peito se fez presente, fazendo com que o caçador se apiedasse de seu amigo.
Ele balançou a cabeça em negação, tendo dificuldade em compreender a notícia. Era verdade que Yue estivesse mais distraída, parecendo não escutar quando falavam consigo. Vez ou outra o brilho do seu olhar se atenuava, parecendo ficar opaco, e ela agia de forma mais lenta e desastrada do que normal.
Ainda assim, aquilo estava longe de indicar um declínio na saúde dela. A princesa parecia não reclamar de dor nenhuma e sequer havia feito uma viagem para a tenda das curandeiras, o que apenas significava que continuava tão saudável quanto um urso em seu ápice da juventude.
Logo, não fazia sentido para si que ela estivesse morta.
Pakku sentiu um gosto amargo no fundo da língua, suas suspeitas do que — ou no caso, quem — poderia estar envolvido nessa situação.
Percebendo o olhar do amigo, Arnook suspirou, resignado.
— Você tem alguma opinião que gostaria de compartilhar comigo?
Embora soubesse que a pergunta viria, foi difícil não respirar profundamente ao ouvir o tom revoltado do líder. Ele sentia o peso do olhar do outro, todavia sabia que nesse caso, seria melhor não dizer o que suspeitava.
Por qualquer que fosse a razão que os irmãos de Shuijia tivessem feito aquilo, procurar guerra com a tribo-irmã não parecia ser o caminho mais indicado a seguir. Talvez se eles fossem meros membros da aldeia, procurar a verdade mais a fundo da súbita morte da princesa seria até apoiado por Hakoda — infelizmente, as pessoas de quem suspeitava eram justamente descendentes do chefe de lá.
— Meu senhor, não acho que eu tenha algo a dizer que possa te ajudar nesse triste momento — Pakku respondeu, sentindo-se levemente frustrado. Desviando suas íris castanhas de Arnook, o caçador às voltou para a lâmina de sua adaga que estava afiando antes daquela conversa ter começado.
O olhar do líder ainda permaneceu em sua pessoa por uns momentos, observando-o passar a pedra de amolar no fio de metal de forma cautelosa e diligente. Ele suspeitava que o outro estava procurando em si uma resposta que não poderia dar.
— Pois bem — Arnook começou, novamente atraindo a atenção do caçador. — O enterro será daqui a duas horas. Ficaria grato se pudesse aparecer e me desse um pouco de sua força.
Pakku assentiu, compreensivo.
— Estarei lá.
Dando fim a conversa, o líder se virou e afastou. Suas passadas decididas amassavam a grama, fazendo um som estranhamente crocante conforme ele se distanciava do outro.
O caçador apenas suspirou, cansado.
— Yue, no que você se meteu?
[—]
A ardência nos olhos de Katara pareciam não querer deixá-la em paz. Ela sabia que o plano tinha dado certo e, ainda assim, ter visto o corpo imóvel de sua amada num bote de madeira a fez sentir-se desolada.
O seu coração estava comprimido dentro de seu peito, a dor nele ressoando pelo seu corpo e dominando sua mente de forma que não conseguia pensar em mais nada a não ser aquela cena.
Estava vívido em sua cabeça: a forma como os longos fios brancos tinham sido alinhados no colo dela. O jeito como a túnica creme embelezava o corpo e realçava a cor parda da pele da princesa. As várias flores, de diversas cores e espécies, que a rondavam e enfeitavam o seu túmulo. Do bote indo lentamente, cada vez mais fundo pra dentro da floresta, seguindo o rio que servia de principal fonte de água para a aldeia.
Katara não se recordava das orações e nem dos discursos que a família de Yue tinha feito. Seus ouvidos tinham sido dominados por um zunido alto e irritante, deixando seu foco mais tunelado e intenso em sua amada.
La, será que aquela dor não iria deixá-la?
— Katara, presta atenção por onde anda! — Uma mão segurou firmemente em seu braço, a impedindo de tropeçar na grossa raíz da árvore que estava para fora do solo.
A jovem piscou, sentindo as lágrimas rolarem por seu rosto e sua visão ficar mais nítida. Ela percebeu que estava encarando as folhas amareladas no chão, vendo a forma como a cor escura do musgo parecia se sobressair do marrom da árvore.
Suas íris castanhas passaram sobre a terra úmida para os arbustos esverdeados, parecendo alheia e confusa em como havia parado ali enquanto procurava pelo rosto do seu irmão.
— Universo para Katara, checando — Sokka resmungou, ressaltando a última letra da palavra que falou, embora a preocupação estivesse evidente em sua voz.
Ela virou a cabeça, finalmente podendo ver a forma como o outro franzia as sobrancelhas e as pálpebras. Somente de perceber que não estava sozinha naquele momento já havia aliviado um pouco da dor que sentia em seu peito.
— Eu não consigo parar de pensar nela… — Katara admitiu, encolhendo os ombros com vergonha e tristeza.
O toque reconfortante em seu braço foi trocado pelo peso nos seus ombros ao receber um semi abraço de seu irmão. Ele a puxou para perto, de forma que a jovem pudesse esconder seu rosto nas roupas dele, se permitindo buscar conforto no calor do mais velho.
— Eu sei que não vai ser fácil continuar a nossa jornada após ter visto aquela cena… — Katara escutou ele começar a dizer, parecendo meio incerto. Sokka esfregava suas costas verticalmente, tentando mantê-la focada no presente. — Mas você sabia que aquilo iria acontecer. Não temos como dar pra trás agora, principalmente porque a escolha foi dela.
Era difícil respirar com o aperto que sentia na garganta. Ela tinha a sensação de que estava entalada, com algum tipo de objeto circular tampando ali, a impedindo de levar ar aos seus pulmões ou de falar.
O máximo que conseguiu fazer foi um doloroso ganido, como se apenas de ouvir o irmão estivesse a machucando fisicamente.
— Katara… — Ele suspirou, frustrado. Ele apertou o abraço, parecendo não saber o que mais dizer devido ao estado desolado dela. Sinceramente, nem mesmo a jovem tinha ideia do que queria escutar naquele momento. Duvidava que teria alguma frase suave ou palavra doce que pudessem retirar tamanho sofrimento de dentro do seu peito.
Ela tentou controlar a respiração, inspirando de forma irregular grandes porções de ar, buscando retirar aquele véu nublado de desespero.
— Eu sei… que tô sendo besta… mas — A mais nova começou, falando de forma trêmula. Sequer sabia se seu irmão estaria entendendo o que dizia, uma vez que seu rosto ainda estava enterrado no tecido áspero do colete dele. — Não consigo tirar a imagem dela deitada no bote da cabeça.
Ela sentiu seu irmão tensionar os ombros por uns segundos, antes de a envolver ainda mais em seus braços. De alguma forma, o excesso de pressão em seu corpo — principalmente em seu tronco, lhe dificultando ao ato de inspirar o ar da floresta — lhe ajudou a começar a acalmar. Os detalhes da cena que parecia não querer sair de seu cérebro foram se desmanchando lentamente, até que não sobrasse nada além de um grande vazio preto.
Katara percebeu que seus dedos estavam doloridos, e, com certa confusão, abriu-os. Ao soltar a camisa que estava agarrada, ela os flexionou, tentando fazer o sangue circular por eles. Conseguia agora sentir pequenas pontadas de dor por outras partes do corpo, assim como o suave tremor que existia no corpo que segurava com força.
Somente quando abriu suas pálpebras foi que percebeu que as tinha fechado, em algum momento. Mesmo agora podendo ver, sua visão apenas alcançava as cores mortas das roupas que seu irmão vestia.
Era… reconfortante, ainda que sufocante, e saber que podia contar com Sokka para lhe dar apoio lhe deixava com o coração aquecido — ainda que não fosse a primeira vez que tomava ciência desse fato.
Os cantos de seus lábios se ergueram devagar em um sorriso cansado, embora satisfeito. Eles não tinham muito tempo para ficar assim, todavia Katara não se importaria de aproveitar mais um minutinhos naquele apertado e acalorado abraço.
[—]
Quando finalmente chegaram perto do barulho de corrente d’água, o céu já estava começando a ficar púrpura. Ainda que cansados, os dois jovens não pararam para descansar — eles continuaram andando, ignorando a dor que sentiam em seus corpos e verificando vez ou outra se estavam no ponto certo.
Após o momento sentimental entre ambos, não chegaram a trocar mais nenhuma palavra entre si que não estivesse relacionada com o objetivo atual. Conforme haviam planejado, precisavam chegar o mais perto possível do final do rio, onde ele se transformava em uma cachoeira e desaguaria num lago. Não tinha sido a intenção deles, porém, de terem sido banidos de Shuiliang. Sokka tentava não pensar em como aquele fato poderia chegar a afetar o relacionamento de ambas as tribos-irmãs, mesmo que tal informação não tivesse sido revelada para o povo local.
Ele sentiu dedos mornos envolvendo sua palma, não demorando muito para sentir um aperto na sua mão. Olhando para o lado, podia ver o brilho preocupado nas íris acastanhadas de Katara, que parecia suspeitar do que ele estava pensando.
— Deixe para pensar nas consequências quando chegarmos em casa — Opinou sua irmã, de forma decidida. — Você sabe que Arnook não é idiota de procurar por guerra contra nosso pai.
Mesmo que devesse, é o que fica implícito no ar frio da floresta. O jovem suspira, indignado. Tinha feito a merda, era verdade, entretanto isso não significava que estava realmente preparado para lidar com o que viria depois. Infelizmente, não era hora de se arrepender de ter sido impulsivo. Todos sabiam no que, ou achavam ter noção de, estavam se metendo quando concordaram em dar vida aquele plano arriscado dele.
Isso não queria dizer que seu cérebro já não estava maquinando uma forma de tentar livrá-los de uma reviravolta ruim.
— Eu sei, Katara. Só não sei se conseguiria lidar com o olhar desapontado do nosso pai ao descobrir o que fizemos.
A risadinha debochada da sua irmã era a última coisa que esperava ouvir naquele momento.
— Não fique tão encucado, ele vai entender. — Ela respondeu com tamanha convicção que por uns segundos Sokka questionou-se a jovem teria, por acaso, visto o futuro. — E a gente ainda tem um longo caminho até chegar em casa. Até lá você já vai ter um plano mirabolante que salve a relação entre eles e a gente.
O mais velho revirou os olhos perante tal fala da irmã, ainda que se sentisse um pouco menos ansioso com o futuro. Ele devolveu o aperto na mão dela, antes de soltá-la e andar mais rápido.
— Com esses passos de tartaruga aí, não duvido que a gente chegue só ano que vem.
Antes que sua irmã pudesse retrucar, porém, um objeto passou zunindo pelo seu ouvido, efetivamente assustando a ambos. Ao checar o que tinha sido arremessado em sua direção, ele percebeu uma flecha familiar presa em tronco grosso a poucos metros atrás de si.
Com o coração batendo apressado, de forma que conseguia senti-lo pulsando no pescoço, Sokka agarrou seu querido bumerangue do esconderijo e ficou em posição de defesa. Katara não perdeu tempo em deslizar para o seu lado, contendo uma média adaga em seus dedos.
— Quem está aí? — Ele demandou de forma defensiva, procurando com seus olhos algum sinal de quem teria tentado atacá-los.
Um farfalhar de folhas na diagonal dianteira de onde estavam lhes chamou a atenção, de forma que os irmãos se tencionaram no chão, preparados para uma briga caso tivesse a necessidade de uma.
Dos arbustos verdes e por entre as árvores, um arco ainda erguido foi a primeira coisa que viram. Todavia, estranhamente, nenhuma flecha estava armada em sua corda. Estranhando, porém não relaxando, Sokka continuou observando a pessoa se aproximar.
O segundo detalhe que notou foi a cor castanha da pele alheia, um tom parecido com o seu, ainda que mais claro. As roupas que a desconhecida usava eram semelhantes às suas e de sua irmã, e onde deveria ter longos fios albinos cobrindo os ombros, existiam apenas alças de mochilas e pontas de mechas medianas.
Ele sentiu mais do que viu Katara relaxando ao seu lado, definitivamente reconhecendo a mulher na frente deles.
— Você…! — Foi tudo o que sua irmã conseguiu dizer, em um som levemente estrangulado, antes de deixar cair, de um jeito abrupto, a sua arma no chão.
O próprio jovem havia abaixado seu bumerangue, surpreendido com o que estava vendo naquele momento. A expressão no rosto da caçadora à frente deles era de alívio, tendo seus lábios florescendo em um sorriso frouxo e alegre. Não existia nenhuma ruga de preocupação ou tensão em sua face, apenas contentamento e satisfação.
— Olá, caros forasteiros. Me chamo Dal — A voz suave e gentil dela chegou aos ouvidos deles, trazendo um soluço choroso de Katara e um riso desacreditado de Sokka. A ousadia daquela mulher… — Se importam se eu acompanhar vocês nessa longa viagem?
Notes:
se quisesserem gritar comigo, sugiro fazer pelo meu tumblr !!
espero que tenham gostado desse capítulo, que, dessa vez não foi betado, visse.
até ano que vem /j
Chapter 7: Lua Minguante
Summary:
— Sabia que aqui estava mais barulhento que normal — Uma voz brincalhona e intensa dominou o cômodo, ganhando a atenção das duas gerações que estavam sentadas. Katara logo apareceu pela abertura da tenda, com um brilho travesso no olhar. — Só podia mesmo ser a Dal infectando a nossa juventude com as histórias dela.
A acusada arregalou os olhos, fingindo estar ofendida.
— Não faço ideia do que você está falando.
Notes:
não me pergunte dos títulos dos capítulos, eu perdi totalmente o foco da ideia que era pra ter neles, a.
assim como o capítulo anterior, esse aqui não foi betado !!!
espero que gostem desse epílogo, a
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
A forma como a garota ficava emburrada era tão fofa. As bochechinhas infladas, o olhar desagradado e o bico que os pequenos lábios faziam era uma vista adorável para a mais velha.
— Não gostei! Quero outro final pra essa história! — Foi a demanda que Korra fez ao bater com o pé direito no chão, inconformada. Seus curtos bracinhos estavam cruzados no peito, mostrando que não aceitaria outra resposta a sua ordem.
Ainda que Dal estivesse tentando se segurar, naquele momento, era impossível de prender a risada divertida diante a uma cena dessas.
— Qual é a graça? — A menina resmungou, inflando ainda mais as bochechas.
Íris azuis-celestes gentis repousaram na criança, que observou desagrada a forma como os lábios da mais velha se esticaram em um pequeno sorriso. A ex-caçadora depositou a pedra de amolar que segurava no chão ao seu lado, junto com a flecha que afiava enquanto inventava contos para distrair Korra.
Dal deu dois tapinhas em seu colo, mal sentindo a maciez dos pelos de urso que usava como um cobertor para as suas pernas.
Desconfiada, a garota se aproxima lentamente da outra. Não demora muito para ela estar sentada na coxa da mais velha, ainda portando um bico nos lábios.
— Korra, minha querida… não existe outro final — A voz, ainda que levemente rouca pela idade, continuava tendo a mesma suavidade de quando era jovem.
— Mas esse é sem graça! — É a reclamação de Korra, que volta a cruzar os bracinhos. — Ela simplesmente virou a lua! E por pena de La, ainda por cima!
O sorriso que se ergue nos cantos dos lábios de Dal é agridoce. Ela sentia-se da mesma forma que a criança, todavia aquele final que criara era mil vezes melhor que a verdade sobre o que realmente tinha acontecido.
Ainda que, em ambos, ela conseguisse a liberdade que tanto desejava.
— Sabia que aqui estava mais barulhento que normal — Uma voz brincalhona e intensa dominou o cômodo, ganhando a atenção das duas gerações que estavam sentadas. Katara logo apareceu pela abertura da tenda, com um brilho travesso no olhar. — Só podia mesmo ser a Dal infectando a nossa juventude com as histórias dela.
A acusada arregalou os olhos, fingindo estar ofendida.
— Não faço ideia do que você está falando — Dal respondeu, observando como a mais nova havia corrido em direção a “convidada”, logo se agarrando às pernas dela. A forma como Katara passou o braço em torno do corpinho da garota, a abraçando e escutando enquanto reclamava da nova história que havia escutado aquecia o coração já murcho da ex-caçadora.
Já faz tanto tempo…
Onde antigamente existiam fios castanhos encaracolados — tão vivos e bonitos quanto a mulher que os tinha — agora só existia branco e cinza nas mechas penteadas. O rosto da irmã do líder de Shuijia agora já estava repleto de rugas, mostrando parcialmente a idade avançada que ela tinha.
O andar decidido atualmente era mais lento, embora ainda fosse cheio de vida, e os ombros de Katara haviam enfim cedido ao excesso de peso que carregava, se curvando sobre o corpo.
Dal não estava muito diferente, havendo perdido bastante sinais de sua mocidade conforme foi crescendo e se fixando em sua nova tribo.
Ela já não mais conseguia caçar sozinha, pois as pernas doíam com mais facilidade e suas mira já não era mais tão eficaz quanto antes — ainda que duvidasse que existisse alguém melhor que si no arco e flechas pela aldeia.
E ainda que suas mãos já estivessem mais rugas do que pele, isso não impedia nenhuma delas de beijar os dedos da outra com o mesmo carinho e paixão que tinham de anos atrás.
Um suspiro realizado escapou de Dal, chamando a atenção de Katara para sua pessoa.
— No que a minha bela esposa anda a pensar? — A segunda em comando da tribo questionou, levemente curiosa. Ela se aproximou, devagar, de onde a ex-caçadora estava sentada, deixando Korra decidir se gostaria de segui-la ou não.
— No que mais eu poderia pensar com tanto deleite, se não em você? — O sorriso doce e amoroso que recebeu de sua amante por sua resposta estava espelhado em seu rosto.
Assim que Katara estava em frente a outra, ela não perdeu tempo em deixar um breve selo nos lábios de sua amada. Foi um beijo simples, cheio de carinho e gratidão, que nunca falhava em deixar ambas as mulheres sentindo-se aquecidas de alegria.
— Eca, adultas se beijando — A reclamação de Korra foi prontamente compartilhada assim que a mais nova viu o ato.
Quando dois pares de íris idosas repousaram nela, a garota deu um gritinho e correu para a entrada da tenda. Pelos risinhos e velocidade em que tinha saído do cômodo, era óbvio para as mais velhas que ela apenas não queria ser “punida” pelo seu comentário.
Agora sozinhas, elas voltam a se encarar e trocam uma risadinha divertida entre si.
— Ai, essas crianças… — Dal foi a primeira a falar, ainda meio fôlego. Katara apenas assentiu, concordando com sua esposa.
Dedos calejados, porém tão macios quanto, envolveram os pulsos da ex-caçadora. O toque gentil e carinhoso deslizou por sua pele enrugada até que ambas as palmas estivessem se tocando.
Sentadas uma em frente à outra, com as mãos dadas, elas aproveitaram o pequeno momento que compartilhavam.
Ter a presença da segunda em comando ao seu lado era sempre maravilhoso. Katara lhe dava uma paz de espírito que não conseguia explicar — sua única certeza era que a estabilidade que sentia com a mais nova não poderia ser replicada por ninguém.
— Nunca achei que poderia ter isso aqui — Dal murmurou, tendo suas íris nubladas por nostalgia e memórias. Inconscientemente, ela trouxe o braço de sua esposa para perto do rosto, deixando um cálido selo em um dos nós dos dedos dela.
— Mas você podia — Katara respondeu, também no mesmo tom de voz. — Não só podia, você conseguiu.
A ex-caçadora baixou seu olhar para as mãos entrelaçadas, deixando um sorriso agridoce dominar seus lábios.
— Tudo o que eu precisei fazer para conseguir foi morrer. — Não tinha sido sua intenção, no entanto, sua voz tinha adquirido um certo timbre de rancor.
— Dal…
Inspirando fundo, ela apenas balançou a cabeça em negação.
— Eu só… fico pensando se realmente valeu a pena ter feito aquilo. — A mulher mais velha admitiu, entristecida. — Talvez tirar a filha deles por causa das tradições tenha sido muito radical.
As íris castanhas de Katara observavam a outra, tendo o mesmo sentimento espelhado nelas.
— Foi a escolha deles — Ela disse, tentando confortar a esposa. — Se tivessem tentado te escutar ou te entender, não teríamos precisado fazer as coisas que fizemos.
Dal pensou nas palavras de sua amada, acariciando as costas da palma dela com o polegar. Seu murcho coração só tinha um arrependimento diante toda aquela situação, e era a de não ter podido falar uma última vez com seus pais antes deles terem morrido.
Talvez, algum dia, ela ganhasse a chance que tanto desejava.
— Não sei se tenho a mesma certeza que você — Foi como a ex-caçadora resolveu finalizar aquela conversa. — Mas que teria impedido Yue de se transformar na lua, isso teria.
Ainda que sua esposa tenha revirado os olhos diante sua tentativa de piada, a forma como seus ombros relaxaram foi instantânea. Era melhor que sua amada não ficasse se preocupando consigo, ainda mais por situações que nenhuma delas mais poderiam mudar.
Afinal, Dal tinha feito sua escolha. E entre as tradições que a acorrentava, ainda que a confortasse, e a liberdade que a fascinava, mesmo que a assustasse — não era difícil saber qual seria a opção que a tinha lhe trazido a felicidade e confiança em si própria.
Pois era ali, ao lado de Katara, em que ela queria estar. Até que a morte (tente) as separar.
Notes:
fINALMENTE eme termina essa fic, ouvi um amém???
é minha primeira história com mais de um capítulo finalizada, a. não sei como me sentir KKKKKKKKK
foi uma . jornada, visse. dá pra ver que minha escrita foi se transformando durante esse processo e espero não ter perdido o rumo da fanfic (e sim, eu segui o roteiro. não quer dizer que segui a vibe inicial, aaaaa) durante esses dois anos???? ou um ano e meio??
admito que tô aliviado (e até meio orgulhoso) de ter terminado essa história. isso significa que posso tentar fazer outras (com mais de um capítulo) e que consigo, sim, terminar elas — se eu for determinado e tiver um roteiro pra seguir 🤭🤭🤭
obrigado a todos que me seguiram nessa jornada. todo os kudos, hits, bookmarks e comentários foram um belo apoio e me ajudaram a chegar aqui, neste último capítulo. só tenho a agradecer a galera que me deu uma chance e acompanhou esse trabalho em andamento, hehe.
e, pra finalizar, deixo aqui o link do meu tumblr pra quem quiser/tiver interesse !!