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Tradição e Liberdade

Chapter 5: A Lua Escondida Sob As Nuvens

Summary:

Katara já não estava de bom humor fazia uma semana, que era basicamente o tempo em que Yue praticamente sumiu de sua rotina. Sem ter tido uma mensagem ou aviso sobre, a caçadora simplesmente desapareceu da própria tribo. E, para melhorar, sempre que ela tentava ver como a albina estava, surgia algum servo para lhe impedir, com alguma desculpa que fingia acreditar.

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Yue abriu os olhos com dificuldade, sentindo o cansaço dominar seu corpo e forçá-la a ficar deitada. Após a notícia que sua mãe lhe dera, não tinha conseguido dormir. Passou à noite virando-se nos lençóis, cochilando em alguns momentos só para se ver acordada em outros.

Já deveria ser de madrugada pelo silêncio absoluto que residia por ali, completamente diferente do barulho que existia na cabeça e no peito da caçadora.

Frustração, medo, raiva e tristeza dominavam o corpo dela, de forma que ela não sabia o que fazer naquele momento. Queria tanto ver Katara, todavia tinha consciência de que sua mãe provavelmente colocaria servos para ficarem observando suas ações e que qualquer contato que ambas fizessem seria relatado à sua progenitora. Seria tão mais fácil se pudesse ao menos se despedir de sua amada…

Com um suspiro, Yue se virou nos lençóis, ficando de lado. Seus dedos brincavam com as mechas do cabelo, numa tentativa de ignorar os próprios sentimentos para tentar ao menos conseguir organizar seus pensamentos.

A caçadora tentou imaginar como seria viver com o futuro marido. Seria ele bonito? Se fosse pra ficar com alguém que não sentia um simples palpitar no coração, ela esperava que o jovem fosse pelo menos belo ao ponto de tirar o fôlego das pessoas com um simples sorriso ou um arquear de sobrancelhas. 

Se bem que isso não adiantaria nada se ele não fosse gentil e educado. Do que adianta ter beleza e ser um grande idiota que só vê as pessoas como objetos, uma forma de alcançar seus objetivos?

Tui, ela sequer conseguia se ver cozinhando ou até mesmo aproveitando a companhia de uma pessoa sem rosto, porque quem verdadeiramente ocupava seus cenários imaginários era Katara.

A jovem de Shuijia, com seu olhar determinado e seu sorriso confiante, que tinha um toque reconfortante e lábios aquecidos. A mesma que contava piadas bestas apenas para lhe ouvir rir e que tinha sempre uma opinião sobre como o mundo poderia melhorar. Aquela que desafiou a própria família para participar no ritual matrimonial do irmão, apenas porque achava injusto ficar presa na tribo, sem realmente conhecer o mundo lá fora.

Yue estava realmente preparada para a deixar ir embora pelos seus dedos? Teria tranquilidade na mente em largar o precioso amor que tinha dela para ficar com alguém que sequer sabia se seria capaz de gostar?

Trocaria algo tão verdadeiro que a fazia questionar se sequer já esteve viva antes de a conhecê-la — tamanha era as emoções que Katara conseguia lhe fazer sentir dentro do peito —, por algo que só traria dúvidas e cansaço só de tentar fazer um relacionamento fadado ao fracasso funcionar?

Ao agarrar os lençóis com força entre seus dedos, um sentimento foi se solidificando em seu peito. Pela primeira vez em sua curta vida, Yue estava decidida a fazer algo, mesmo que ainda não tivesse certeza do que seria.

Tudo o que sabia naquele momento é que não iria se casar com o Rem do Oeste.

[—]

— Pra onde estamos indo afinal? — Katara questionou o irmão, ao perceber que estavam caminhando na trilha fazia quase meia hora.

Já tinha sido suspeito que Sokka a tivesse chamado para irem caçar, uma vez que ele não era lá um dos melhores caçadores. Tanto por ser ruim em rastrear os bichos e sempre hesitar em dar o golpe final em suas presas — que acabavam, na maioria das vezes, fugindo dele nesse pequeno tempo de compaixão —, como também porque sempre preferiu colher alimentos da própria mata e a pescar.

Seu irmão apenas a observou pelo canto do olho, não parecendo ter a mínima vontade de se explicar. Isso fez ela suspirar de forma irritada antes de morder os lábios.

Katara já não estava de bom humor fazia uma semana, que era basicamente o tempo em que Yue praticamente sumiu de sua rotina. Sem ter tido uma mensagem ou aviso sobre, a caçadora simplesmente desapareceu da própria tribo. E, para melhorar, sempre que ela tentava ver como a albina estava, surgia algum servo para lhe impedir, com alguma desculpa que fingia acreditar.

A jovem de Shuijia não fazia ideia do que tinha feito para receber tal tratamento e isso a deixava cada vez mais preocupada e irritada. Quando ficava com esse tipo de humor, Katara normalmente gostava de evitar de socializar com as pessoas — principalmente com seu irmão, que parecia ter um sexto sentido para a deixar num estado ainda pior — e seguia sua rotina sozinha.

Ainda assim, quando Sokka a chamou no café da manhã para irem caçar, ela sentiu seu coração se comprimir e a ponta de seus dedos formigarem. Mesmo que fosse um pedido abrupto e suspeito, a mais jovem sabia que deveria ir com ele, então concordou em ir com o irmão.

Algo que estava quase se arrependendo de ter feito.

No momento em que ela abriu a boca para interrogá-lo mais uma vez, o barulho de água correndo chamou sua atenção. Katara franziu as sobrancelhas em confusão, sentindo seu coração se acelerar ao perceber que o som era-lhe familiar.

Ainda assim, restava a dúvida: por qual motivo Sokka teria a trazido ao Lago Platinado? E por um caminho longo, como se não quisesse que as outras pessoas soubessem que estavam indo para o único lugar em que o pessoal de Shuiliang sabia que Yue ficava às tardes–

Katara agarrou o braço do irmão antes que pudessem entrar no pequeno vale que a caçadora tinha proclamado como seu.

— Isso não vai ser uma despedida, vai? — As palavras saíram de sua boca antes que ela conseguisse fazer algum sentido de todas as informações que tinha organizado em sua mente. O olhar confuso que Sokka havia mandado em sua direção se suavizou.

Ao segurar o braço dela, ele deu um pequeno aperto, tentando lhe passar confiança antes de dizer:

— Isso vai depender apenas de vocês.

Katara assentiu de forma automática, embora não soubesse exatamente como deveria estar se sentindo. A adrenalina de ver Yue escondida fazia seu coração bater de um jeito acelerado e forte, de forma que nublava qualquer outra emoção que pudesse estar dentro de si.

Com um suspiro trêmulo, ela se distanciou do irmão e passou pelos arbustos que a separavam de sua querida caçadora.

[—]

Talvez fosse porque tinham ficado muito tempo sem se verem, ou porque no momento sentia-se numa mistura de ansiedade com desespero que a deixava com um aperto incômodo no peito e a cabeça bagunçada, todavia Yue parecia muito mais linda do que a última vez que a tinha visto. 

Katara não chegou a notar o olhar cabisbaixo da outra, ocupada demais em apenas vê-la de tão perto e em sentir o ar sair aos pouquinhos de seu pulmão.

La, como tinha sentido falta de estar no mesmo ambiente em que ela. Suas batidas cardíacas eram tão fortes e marcadas dentro de seu peito apenas de se ver perto da caçadora.

Ainda atordoada, Katara seguiu firme até chegar perto da albina, que ao perceber sua presença, lhe olhou de forma receosa e curiosa. Ver essas emoções dentro do olhar de Yue fez com que ela sentisse um aperto no coração. Não demorou muito para que seus braços estivessem em volta dela, os dedos agarrando com firmeza o tecido da roupa alheia.

— Eu senti tanta falta sua. — a jovem de Shuijia comentou de forma engasgada, sentindo os olhos lacrimejarem. Querendo evitar o choro de sair, ela escondeu o rosto no pescoço da outra.

Mãos hesitantes a apertaram de volta, como se tentassem passar um conforto, como se dissessem “eu estou aqui, isso é real.”

O calor que o corpo de Yue lhe passava era reconfortante e ao mesmo tempo indignante. As questões que viveram na cabeça de Katara estavam novamente surgindo em sua mente, a fazendo sentir-se sufocada.

— Por quê?... — Foi a única coisa que conseguiu fazer atravessar seus lábios, já que um nó havia se formado em sua garganta a impedia de especificar o que queria saber.

A resposta que recebeu foi um gemido choroso e um maior aperto no abraço, como se Yue não a quisesse soltar.

Era óbvio que ambas estavam sentindo um turbilhão de emoções ao mesmo tempo e, pela reação da albina, aquele afastamento não tinha sido feito por vontade própria. Embora isso fosse uma boa notícia, o fato de que elas tinham sido separadas ainda era doloroso o suficiente para a deixarem mudas.

Em algum momento, uma delas sentiu a perna tremer. Isso fez com que ambas acabassem deslizando até se sentarem no chão, ainda abraçadas.

Yue agora também prendia Katara com suas pernas, parecendo decidida a não se soltar dela enquanto ainda tivessem tempo.

La, quantos segundos elas ainda tinham para aproveitarem juntas? 

[—]

Sentado na pedra que ficava a poucos metros de distância delas, Sokka observava a reunião emocional do casal com um pequeno aperto no próprio coração. 

Doía em si ver sua irmã ficar cada vez mais frustrada e irritada por não ter informação nenhuma sobre a outra, todavia vê-la chorando e agarrando a roupa da princesa como se o tecido fosse um bote salva-vidas era um novo tipo de aperto em seu peito.

O próprio jovem de Shuijia não compreendia direito o que estava acontecendo. Tinha suas teorias, afinal, havia sido Pakku quem havia dito para ele ir até o Lago Platinado e trazer a sua irmã junto. 

O mais velho só esperava que essa despedida não deixasse cicatrizes tão profundas em Katara.

— Gente, — Sokka chamou, ao perceber que elas pareciam estar mais calmas e livres de lágrimas. — acho que está na hora de explicar o que está rolando.

Sua irmã tinha lhe olhando com uma mistura de surpresa e repreensão — sabe-se lá o porquê ela não queria que ele tivesse dito algo —, todavia Yue apenas assentiu, levemente atordoada.

— Eu irei. Obrigada por terem vindo.

— Não é como se Pakku tivesse me dado muitas opções. — O tom de voz de Sokka exalava brincadeira e bom humor, algo que se espelhava em seu sorriso ladino. O mesmo não poderia ser dito de seus olhos, porém, que continham uma certa sobriedade enquanto analisava a albina.

Yue apenas assentiu mais uma vez antes de voltar a falar.

— Minha mãe… ela descobriu — O arfar de Katara pareceu ser o suficiente para fazer Yue encolher os ombros e olhar para o seu colo, onde mantinham suas mãos dadas. — Ela não aceitou muito bem, como era de se esperar, e resolveu antecipar o casamento.

Com tudo que estava aprendendo em Shuiliang, os sorrisinhos bobos e o bom humor de Katara e as pessoas que estava conhecendo, Sokka tinha até esquecido daquele pequenino detalhe.

— E com isso ela também me proibiu de te ver — A forma suave e carinhosa que Yue olhava para a sua irmã fazia o jovem sentir-se um intruso ali. 

Ainda assim, ele continuou olhando. Dava para ver o quanto elas consideravam a outra apenas pelo jeito como se olhavam; as pupilas dilatadas, brilhantes e cheias de carinho. A forma como elas não conseguiam realmente se afastar, como tentavam se manter na órbita da outra ou apenas se tocando — dedos entrelaçados, pernas emboladas e as testas unidas —, o deixavam esperançoso de que no futuro, talvez, ele pudesse ter aquilo com alguém também.

Só que sem a parte de estar com uma pessoa que ia noivar, claro.

— E o que você pretende fazer? — Mais uma vez, Sokka interrompia o adorável momento delas, fazendo Katara lhe olhar com desagrado.

Com um suspiro cansado, Yue desviou seus olhos para a árvore que estava do lado oposto aos irmãos.

— Eu não sei — ela revelou, com um tom choroso agarrado na voz. — Não quero mais fazer o que meus pais desejam, quero fazer o que eu desejo. Só não sei ainda como…

— O que você quer dizer? — Era óbvio para Sokka que Katara já tinha uma ideia do que a albina tentava falar. A forma como ela soava levemente esperançosa embora tentasse disfarçar isso com um olhar sério e sobrancelhas franzidas em concentração a entregavam facilmente para ele.

Os olhos cristalinos de Yue se voltaram para sua irmã, vibrando de determinação. O jovem de Shuijia prendeu a respiração a ver um olhar tão vivo nela, momentariamente atordoado com o que presenciava.

— Significa que não irei me casar com um desconhecido. — A voz da princesa soava firme, como se não tivesse nenhuma dúvida do que pensava e quisesse que as pessoas a escutassem. 

Não era o mesmo tom que ela tinha usado no jantar, alta na medida certa para chamar a atenção dos outros porém não o suficiente para parecer escandaloso. Um tom controlado, sem emoção e falso.

Não, o jeito com que ela tinha proferido aquilo clamava por espaço, exigia que fosse escutado e tinha um certo êxtase — como se apenas decidir que não iria seguir o planejamento dos outros já tivesse sido um grande passo para ela. 

Talvez tivesse sido.

— Se você não pretende se casar… Como vai fazer para seus pais entenderem isso? — Katara questionou, parecendo tão alheia pelo que via quanto Sokka se sentia.

A luz nos olhos de Yue murchou ao mesmo passo em que ela encolheu os ombros.

— Não pretendo falar com eles.

O silêncio que se seguiu era frio e desconfortável. O farfalhar das folhas tentava amaciar a situação, todavia o vazio e nervosismo dentro do estômago de Sokka não o deixavam aproveitar do som.

— Yue…

— Eles não vão me escutar, Katara. Sei disso melhor do que ninguém.

— É por isso que você não sabe como vai evitar o casamento. — o jovem de Shuijia comenta, usando seu indicador para tapear o queixo. A albina assente, cabisbaixa.

— Só há duas formas de acabar com um casamento arranjado segundo as nossas tradições — Yue disse enquanto rodeava uma mecha de seu cabelo no dedo. — Ou um de nós tem que ser declarado morto, ou o noivo cancela o matrimônio através de uma luta contra o líder da tribo.

— Uma luta? — Katara questiona, franzindo as sobrancelhas em descredito.

— Se por acaso a família do noivo receber uma proposta melhor ou resolver que a oferta não vale a pena, eles tem que provar que são fortes e honrados. — a princesa explicou, ainda brincando com seus fios brancos. — Não importa quem ganha ou quem perde, e sim que o noivo é um guerreiro respeitoso e que não está apenas desmanchando o noivado por egoísmo ou ganância.

Antes que Katara abrisse a boca para, provavelmente, criticar a lógica de uma tradição que com certeza era mais velha que a avó deles, Sokka aproveitou o momento para tomar a frente da conversa.

— Então isso exclue a possibilidade de tentar fazer um acordo com o cara para impedir o casamento, né?

Yue assentiu.

— Também não acho que ele deve estar recebendo muitas propostas, já que aceitou a nossa tão rápido. — Um sorriso triste e vazio se apoderou dos lábios da albina. Sua irmã logo a tinha puxado para um meio abraço, enconstando a bocheca no cabelo dela enquanto acariciava os braços da princesa.

— E ele com certeza não tem um probleminha de saúde e nem corre risco de ser assassinado? — Sokka perguntou, levemente desacreditado.

Katara revirou os olhos perante ao que seu irmão havia dito, todavia seu foco permaneceu em continuar confortando Yue.

— Se ao menos tivesse uma forma de eu sumir…

O jovem de Shuijia olhou para o chão e analisou as sandálias que usava no pé. Ele queria achar uma forma de deixar as garotas felizes. Seu coração já sentia-se esmagado no peito só pelo que tinha escutado e visto, o fazendo sentir-se triste e frustrado.

Ele sabia que era… complicado de aceitar e se acostumar com o diferente, com o que ia contra as tradições e afins. Ainda assim, viajar com Katara tinha sido mil vezes mais divertido e animado do que seria se ele tivesse ido sozinho. E se sua irmã, a pessoa que mais amava e uma das poucas pessoas importantes que tinha, estava feliz — por que ele deveria ser contra?

O som do riacho tomou o lugar do farfalhar das folhas, deixando o clima menos sufocante, como se a água que fluía dele estivesse levando todos os problemas junto.

A mente de Sokka deu um estalo.

— Talvez haja.

As garotas olharam para ele, a expressão em seus rostos deixando óbvio a sua confusão.

— Não me diga que surtou agora.

— Talvez haja o quê? 

Um sorriso foi aos poucos surgindo nos lábios de Sokka conforme o plano se montava em sua cabeça.

— Talvez haja uma forma de você sumir.

Notes:

Obrigado à Haryni por ter sido minha helper, e aguentado meus surtos enquanto escrevia, e à Flames por ter sido minhe beta e me ajudado a revisar o capítulo !!

A ajuda de vocês foi o que eu precisava 🥺

ps: adoro o conceito que a cada atualização eu aumento o número de capítulos 💀 /j