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a resiliência das fraquezas

Summary:

Quando Mei Fan recebe um golpe que estava destinado a si, algumas coisas que Akira se recusava a reconhecer acabam vindo à tona.

Notes:

e lá vem eme com uma short nova !! espero que essa me dê menos trabalho que a anterior, a

gosto muito de meikira, então eu tinha esse plot meio que engavetado no doc e resolvi reescrever. por enquanto só tenho três capítulos planejados — o segundo já está em andamento/processo de escrita —, mas não se preocupem porque planejo finalizar essa fic ainda no ano que vem (2023) !!

espero que gostem e que tenham paciência pare me acompanhar nessa nova jornada 🥺💞

Chapter 1: negação

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Íris ametistas observavam o estofo branco espalhado pelo chão. Os cortes precisos e profundos no boneco de treinamento tinham rasgado o lençol revestido, deixando buracos visíveis e desuniformes. A lâmina de sua espada ainda estava fincada bem no tronco do equipamento, erguida de forma majestosa e eficaz — quase como se estivesse debochando de si.

Diante toda a sujeira que tinha feito, a Yukishiro se mantinha paralisada. Mesmo após seu pequeno momento, sua respiração continuava controlada e tranquila, sequer parecendo que tinha descontado uma parte de seus sentimentos sem seu treino pessoal. E, mesmo assim, ela estava sentindo como se nada do que fizesse surtiria efeito.

Era como se, não importasse o quanto se esforçasse, nunca conseguiria ficar boa o suficiente.

— Sabia que você estaria aqui — A voz apática de Michiru não lhe assustou, ainda que não a estivesse esperando naquela sala de treinamento.

Já era hábito da sarkaz a procurar quando Akira estava sendo idiota para fazê-la tomar uma atitude digna. Por isso, não estava surpresa. A líder do esquadrão de elite sentia-se tanto agradecida quanto incomodada com a ajuda da amiga de infância. 

Ignorando a presença da outra em suas costas, Yukishiro tirou sua espada do boneco e guardou-a na bainha. Ela sabia que a Ootori não precisava olhar para seu rosto, só ter sua atenção já bastava.

— Você não se cansa de ser fraca, Akira?

A vouivre fechou suas pálpebras, como se não ver a bagunça que tinha feito fosse a ajudar a ignorar o tom desagradado de Michiru. Todavia, só obteve o efeito contrário, porque agora poderia imaginar com nitidez o desprezo aparente nas íris castanhas de sua amiga.

O gosto amargo que estava embaixo da sua língua subiu pela sua boca, se afundando em sua garganta — a deixando ainda mais frustrada com sua atual situação.

— Até quando pretende continuar deixando os outros tomarem o dano por você? — Ainda que o tom da sarkaz continuasse o mesmo, ele agora dominava o ambiente. 

Era impressionante como a Ootori sequer precisava gritar — bastava repreendê-la por sua incompetência com aquele timbre desgostoso, e a líder de esquadrão sentiria-se como a bela farsa que era.

— Achei que você finalmente tinha se tornado uma grande guarda — Michiru continuou, impotente e firme em suas palavras. Ainda que a vouivre tentasse controlar seus punhos trêmulos, ela continuava a manter-se quieta. — A grandiosa guarda que não precisaria de outros para derrotar os inimigos! A mais forte de todas! Aquela que dá esperança e determinação para os outros continuarem a lutar…!

Junto do amargor em sua língua, Akira também podia sentir o gosto metálico do sangue. Havia, sem querer, rasgado o lábio inferior ao mordê-lo, tentando impedir as lágrimas de caírem por seu rosto.

— Mas estou vendo que não passou de uma ilusão minha.

A Yukishiro escutou o suspiro cansado que sua segunda em comando soltou. Ela sabia que estava sendo idiota por estar se isolando das outras, ainda mais naquele momento, e ainda assim…

A líder de esquadrão simplesmente não sabia o que fazer.

— Espero que você não deixe esse erro se repetir novamente, Rei Platinado — Foi com essa última fala que Michiru se despediu, não esperando por nenhuma resposta de sua amiga.

Ainda que machucasse escutar aquilo da sarkaz — a forma sarcástica e agressiva com que as palavras foram ditas, o apelido que tem costume de trazer orgulho e não vergonha e o fato desta não ser a primeira vez —, Akira sabia que merecia aquele monólogo. A Ootori estava certa, afinal.

Em nada adiantava ter tanta confiança em suas habilidades, esbarrando-se em tanta arrogância que sequer conseguia desviar de um simples golpe furtivo? Era lamentável que logo ela não tivesse tido a capacidade de fazer o básico, principalmente quando era a Yukishiro que deveria estar servindo de apoio para as outras.

As íris aguadas da vouivre ardiam, no entanto, ela se recusava a chorar. Não poderia se permitir deixar ser dominada pela frustração e culpa quando era Mei Fan quem havia recebido o ferimento que deveria ser seu.

Era a Liu quem estava numa maca da ala médica, com um profundo corte no abdômen, fora de comissão. Por causa de um erro seu, a lung encontrava-se desacordada naquele exato momento — sem nenhuma previsão de quando acordaria.

Os lábios de Akira se ergueram lentamente em um sorriso vazio, a ironia da situação preenchendo sua mente e fazendo-a soltar uma risada sem humor.

Porque se tinha uma pessoa que odiava erros, era ela. 

Seu riso ganhou força e potência, ecoando pela sala vazia e escura. Sem a permissão dela, as lágrimas deslizaram por suas bochechas, deixando um rastro salgado por sua pele. Seus dedos da mão esquerda se rastejaram por seu rosto, subindo por ali até chegarem em seus fios platinados e se enroscarem em sua franja.

A Yukishiro não sentia dor nenhuma no peito — em seu coração existia apenas um grande vazio, e era essa a emoção que dominava as suas risadas incontroláveis. 

Afinal, era morbidamente engraçado. O motivo dela puxar o seu esquadrão inteiro além dos limites, de fazê-las refinar suas técnicas e estamina, de pôr todas em uma dieta especial que visava maximizar a capacidade de cada uma — isso era tudo para que, no campo de batalha, não existissem erros. 

O que a vouivre pretendia com tanto esforço era que o esquadrão inteiro voltasse intacto das missões que as eram encarregadas. Porque isso significaria que elas eram fortes, rápidas, inteligentes, capacitadas… que continuavam vivas, livres e preparadas.

Akira queria tanto que esse fosse sempre o resultado que raramente permitia às outras de terem um dia livre. Antes uma semana cheia de treinamento, do que uma perdida — esse era seu lema. Pois, mesmo apenas uma tarde sem prática já era mais uns minutos próximos da queda delas.

E se com seu esquadrão já era restrita, consigo então era mil vezes mais. Por isso era sempre a primeira a chegar na sala de treinamento e a última a sair. A Yukishiro sempre dava o máximo (e mais um pouco) de si, só se permitindo finalizar sua sessão quando mal conseguia sentir as pernas de tamanha dor e cansaço. E, estando nesse estado, não existia outra coisa que pudesse fazer além de ir dormir profundamente e só acordar na madrugada seguinte, preparada para repetir sua rotina controlada.

Tudo isso porque odiava erros. Ela não se permitia o fazer, e muito menos poderia deixar as outras o cometerem por um descuido seu. E, ainda assim, foi exatamente isso que aconteceu.

A vouivre não conseguia entender. Depois de tanto esforço, tanta dedicação, tanto treino… por quê?

Se Akira não suportava errar, por qual motivo continuava o fazendo?

Notes:

e é isso, até o próximo capítulo !!

qualquer coisa me pertubem no meu tumblr !!

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